Foi com a Torre Eiffel em fundo que Cristiano Ronaldo, enfim com o quinto Ballon d’Or a reluzir-lhe sobre as mãos, foi entrevistado pelo ex-futebolista (e apresentador da gala da France Football) David Ginola. E logo começou por elogiar, nem de propósito, a vista para a cidade de Paris. “Não estava à espera de receber a Bola de Ouro aqui, com vista para a Torre Eiffel. É um prazer, uma honra. Só a tinha visto na televisão, é linda!”

Honrado, é assim que Ronaldo se sente. E explicou a Ginola: “Acho que nem esperava ganhar uma Bola de Ouro… quanto mais cinco. É claro que podemos sonhar – e sempre sonhei. Mas sabia que era muito, muito difícil ganhar. No entanto, sempre trabalhei no duro para ganhar.”

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A pergunta seguinte impunha-se, tantas vezes ganhou o prémio: “Quando é que percebeste que eras especial?” A resposta? Cedo. Bem cedo. “Com 14, 15 anos. Sabia que era diferente, especial. Mas quando percebi que era realmente bom foi no Manchester United. Aí percebi que podia vir a ganhar a Bola de Ouro. E ainda me dediquei mais do que antes. O Alex Ferguson foi duro comigo, muito duro. Eu fazia habilidades mas nem sempre passava quando devia. Melhorei muito na tomada de decisões com ele.”

Há quase uma década que a Bola de Ouro só conhece dois vencedores: Ronaldo e Messi. A existência do argentino foi importante para Ronaldo se continuar a superar, ano após ano? “Não sei, nunca pensei nisso”, começou por dizer. E prosseguiu: “Talvez no subconsciente… No entanto, a minha motivação sempre fui eu próprio. É claro que lutar, no melhor dos sentidos, contra outros jogadores, outros clubes, também é bom. Mas quando entro no relvado estou sempre motivado. Quando vou treinar estou sempre motivado. E é preciso manter sempre essa motivação.”

Ronaldo e Messi dividem a coroa há dez anos. Mas quem são os dez sucessores?

Ronaldo não pensa no fim da carreira. E espera ganhar, pelo menos, mais duas vezes o Ballon d’Or. Treinador? “Não me vejo a ser treinador. Mas as coisas mudam… Para ser honesto, nem penso nisso. Tenho muitos projetos para o futuro, para quando terminar a carreira, mas nenhum é ser treinador.”

Até chegar esse dia, o de pendurar as chuteiras, Ronaldo continua a preparar o corpo para triunfar. “Os pequenos detalhes fazem a diferença no final do dia. Quando chego a casa não faço o que quero. Não vou sair. Tenho que cuidar do meu corpo, tenho que ter o corpo preparado para a competição. Como bem. Durmo. Para ganhar uma Bola de Ouro tens que sacrificar muita coisa. Ter talento não é o mais importante. Não é suficiente. O talento sem trabalho não é nada. Os miúdos de hoje talvez não pensem assim. Mas estou sempre a relembrá-lo ao Cristianinho.”

E por falar no filho mais velho do madeirense: vai ser futebolista ou não? O pai Cristiano Ronaldo (visivelmente orgulhoso quando Ginola lhe apresentou vídeos de Cristianinho nos relvados) não faz por menos. “Vejo muitas parecenças comigo. E não o digo por ser meu filho. Também não gosto de dizer isto perto dele porque vai ficar todo convencido [risos] e começa logo a dizer que vai ser melhor do que eu. Este tipo de comparação é sempre a pior parte. Ele diz-me que vai ganhar uma Bola de Ouro. E quando lhe pergunto se também conseguirá ganhar cinco, responde-me: ‘Acho que sim…’ Ele é ainda uma criança. Mas ficaria muito orgulhoso se ganhasse.”