O SOS Racismo enviou esta sexta-feira uma denúncia para a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) a propósito de um artigo de opinião de Octávio Ribeiro, diretor-geral editorial da Cofina, escrito esta semana no jornal Record com o título “Educar Gelson” (que pode ser lido aqui).

De acordo com o SOS Racismo, trata-se de um artigo “inadmissível, nada profissional e sem escrúpulos, que destila ódio racista em cada parágrafo”. “Não é apenas Gelson Martins o visado. À boleia deste ato de profunda solidariedade, faz um ataque aos pobres, às e aos habitantes das periferias, à escola pública e a quem lá trabalha”, acrescenta ainda uma missiva da organização assinada pelo dirigente e fundador, José Falcão.

“Vai mais longe na sua cruzada e acha, apela e intima que se aplique um castigo que sirva de lição para toda a vida, ainda para mais a quem tem a ousadia de escrever em crioulo. Não sabemos se o Gelson precisa de um ou uma psicóloga, mas o ato de solidariedade que praticou mostra que não esquece as amizades”, acrescenta.

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Octávio Ribeiro diz que não está em causa a raça, mas a pobreza

Em declarações ao Observador, Octávio Ribeiro diz “lamentar” que “os dirigentes do SOS racismo não saibam ler” e fala em “fascismo intelectual”.

O texto denuncia a má escola pública que o Estado providencia às crianças pobres, nas franjas das grandes cidades. Diz explicitamente que não está em causa a raça, mas a pobreza. Se o Gelson fosse amarelo, branco ou às pintinhas cor de rosa, escreveria exatamente o mesmo. A tresler assim, o SOS racismo aproxima-se perigosamente de um SOS fascismo intelectual”.

Recorde-se que o texto, muito comentado nas redes sociais desde a sua publicação tinha merecido também esta quinta-feira um comunicado do Sindicatos de Jogadores, que tinha pedido ao autor que se retratasse.

“O teor malicioso, preconceituoso e profundamente desrespeitador da pessoa e do jogador merece o mais veemente repúdio.  Desprovido de qualquer pudor, expressa um conhecimento profundo das vivências de Gelson Martins, das suas ‘raízes de infância’ e das de outros jogadores, personificando uma parte da sociedade que, lamentavelmente, regrediu no que à cultura desportiva diz respeito, não respeita o jogador de futebol, instrumentaliza-o. A educação, a formação, os valores e as boas ações não estão apenas ao alcance de uma certa elite, que nada tem a ver com o mundo do futebol”, destacou o comunicado oficial divulgado pelo Sindicato presidido por Joaquim Evangelista.