Cerca de 500 militares treinados ou experientes no combate aos incêndios abandonaram o Exército em 2017. De acordo com o Jornal de Notícias, entre duas a três centenas desses militares contratados e voluntários deixaram esse ramo das Forças Armadas devido à sobrecarga horária exigida pelo combate aos fogos, em conjunto com necessidades operacionais, de treino e de serviço nos quartéis, e que não foi compensada.

O êxodo preocupa o Exército, que além de ter perdido pessoal especializado em incêndios tem dificuldades em recrutar voluntários e manter jovens nas fileiras, isto numa altura em que tanto missões externas como exigências internas aumentaram, muito por culpa de um maior envolvimento no combate aos fogos florestais.

Com base em declarações de oficiais, o Jornal de Notícias escreve que houve militares que estiveram dois meses sem conseguir ir a casa por culpa das exigências e que comandantes têm dificuldade em gerir a situação.

Este ano, os exercícios Orion, Eficácia e Relâmpago foram antecipados de modo a concentrar recursos nos incêndios e a evitar que missões coincidam, tal como aconteceu em 2017 com o exercício Orion, o mais importante do Exército. Então, por culpa dos incêndios, o exercício foi interrompido para que os militares pudessem ajudar no combate aos fogos e prestar auxílio às populações. Isto não permitiu aos militares ter o descanso que normalmente teriam. Além disso, este tiveram de continuar a cumprir serviço nos quartéis.

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Além da sobrecarga horária, a falta de equipamentos de protecção individual para combater fogos terá pesado na decisão de militares em abandonar as fileiras. Apesar de apoiarem os Bombeiros no terreno, os militares estavam equipados apenas com a sua farda regulamentar e não com os equipamentos de protecção necessários e de que os bombeiros estão dotados.

O concurso para obter estes equipamentos foi lançado no ano passado, mas o processo, a cargo da Protecção Civil, nunca foi concluído e o material nunca chegou. De acordo com o Jornal de Notícias, o Exército diz que se prevê que os equipamentos sejam entregues no final de mês de março.

O Exército afirma que em 2017 o número de voluntários e contratados que abandonaram se enquadra dentro daquilo que foi normal em anos anteriores: em 2015 foram 650 e no ano seguinte 430. Contudo, este ano as exigências aumentaram, e o Ministério da Defesa só autorizou a entrada de mais 200 militares para a Marinha, Exército e Força Aérea.

Nesta altura já decorre a formação de 1380 militares para operações de rescaldo no Regimento de Apoio de Emergência em Abrantes, mais cedo do que em 2017. O número é igual ao do ano passado, mas, dadas as saídas, não irá duplicar o de formandos.