A nova bastonária dos Contabilistas, Paula Franco, considera que muitos dos problemas que levaram à queda de bancos e de outras empresas podiam ter sido evitados se estes profissionais não tivessem ocultado a contabilização de imparidades.

“Os casos do BES [Banco Espírito Santo], e outros que vieram a público, vieram provar que, se as situações não tivessem sido ocultadas, em termos de demonstrações financeiras, já teriam vindo a público muito mais cedo e, se calhar, até se tinham evitado muitos dos problemas”, disse a bastonária, em entrevista à Lusa.

A expressão “perda por imparidade” foi introduzida pelo Sistema de Normalização Contabilística (SNC) e acontece quando a quantia recuperável de um ativo, ou de uma unidade geradora de caixa, é inferior à quantia escriturada ou contabilizada.

Paula Franco lembra: um contabilista “tem de ter isenção” e “tem de perceber que, quando dizemos sim a uma administração, não estamos a ajudar, estamos a prejudicar”, tanto a sociedade como a própria administração ou empresa.

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“Num primeiro momento podemos ser flexíveis, tentar ajudar e pensar que estamos a ajudar”, ressalvou a bastonária, mas para logo de seguida defender que há necessidade de “uma mudança” quanto à isenção, mas tanto nos profissionais inscritos na Ordem como nas empresas para quem trabalham.

“Também quem contrata serviços não deve exigir que a contabilidade seja adaptada às necessidades das empresas, porque isso não vai beneficiar a empresa, vai antes prejudicá-la”, alertou.

A bastonária salientou que o prejuízo, da falta de isenção, pode até não se verificar no ano em que foram ocultadas as informações, e até ao contabilista “pode parecer que está a ajudar” o cliente.

Mas, “mais tarde ou mais cedo, as situações financeiras vêm ao de cima e, portanto, tudo o que é virtual ou criativo, em termos de contabilidade, não beneficia as empresas, prejudica antes as empresas. Se não for nesse ano, será mais tarde ou mais cedo”, concluiu.