No dia da estreia de “1986”, Nuno Markl esteve na redacção do Observador. Em entrevista, recordou o processo de criação desta nova série e falou da sua infância, dos detalhes que o inspiraram para criar a história e as personagens. E recordou a paixoneta pela funcionária do videoclube do bairro onde cresceu, em Benfica.
“Eu era ridículo nem coragem tinha para lhe perguntar o nome. E os filmes que eu alugava também tinham a ver com a impressão que queria provocar nela. Pornografia não dava, por exemplo”, afirmou.
A série tem como cenário acontecimentos da época, e aborda em particular as eleições presidenciais que ocorreram nesse ano, que colocaram frente a frente Freitas do Amaral e Mário Soares. Algo que o marcou quando era criança e que fez questão de transportar para o pequeno ecrã — ainda hoje se lembra do que custou ao pai, um historiador de arte comunista, votar em Mário Soares.
Os miúdos de hoje querem lá saber de política. ‘1986’ é uma espécie de tributo em que ligávamos às coisas, em que tínhamos disponibilidade para acompanhar as eleições, ou o top disco.”
Markl parece estar sempre a regressar aos anos 80, mesmo depois de ter ficado “esgotado” com a “Caderneta de Cromos”.
É a teta nostálgica em que todos gostamos de mamar. Há várias maneiras de chuchar nessa teta. Podes chuchar para obter lucro. Ou por uma questão de aconchego.”
Este constante regresso ao passado não faz com que o humorista olhe para o presente de uma forma negativa. Mesmo depois de toda a polémica com os YouTubers. “O que me fez confusão nos youtubers foi um episódio que o meu filho estava a ver… o problema é não terem noção que grande parte do público deles tem a idade do meu filho. Num episódio diziam: ‘Quando a tua mãe te for acordar de manhã manda-a para o…’”
Ainda assim, tem pena que o filho não consiga viver os tempos de liberdade que se viveram nos anos 80 e 90.
“Uma das coisas que celebramos é a capacidade de haver grupos que iam explorar coisas. Vivíamos em bandos, e agora está cada um em casa com a sua consola e perdeu-se esse convívio de grupo. E tenho pena que o meu filho não tenha isso.”
A primeira temporada da série ainda agora vai estrear, mas Nuno Markl já está a pensar numa segunda. “Uma eventual segunda temporada vai ser passada no verão. Gostávamos que fosse uma espécie de ‘Verão Azul’.”
Ainda esta terça feira vai poder ler e (re)ver na íntegra a entrevista aqui no Observador.
Sobre a infância
"Achei que um videoclube era o palco ideal para a história de um filme. Tive uma paixoneta pela funcionária do videoclube do meu bairro." #MarklOBS
— Observador (@observadorpt) March 13, 2018
"Nunca soube o nome dela, na altura não se usavam chapinhas. Eu era ridículo nem coragem tinha para lhe perguntar o nome. E os filmes que eu alugava também tinham a ver com a impressão que queria provocar nela. Pornografia não dava, por exemplo." #MarklOBS
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"Eu consegui mascar um pacote inteiro de super gorilas. A série está cheia de debate inúteis. E há um que é sobre a diferença entre as super gorila e as gorilas. Eu acho que eram iguais." #MarklOBS
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"Uma vez fiz uma bola de seis super gorilas laranja e senti o maxilar a desencaixar." #MarklOBS
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"Eu sei coisas sobre o míldio que os miúdos hoje não sabem porque via a TV Rural. Tínhamos essa relação, porque tudo nos interessava na televisão." #MarklOBS
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"Ouvia muita música no Walkman. Esta série aborda uma altura da minha vida em que nós estamos numa fase em que não sabemos bem ao que vamos." #MarklOBS
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"Eu era sinistro porque fazia rir colegas meus na sala e depois eles é que eram expulsos." #MarklOBS
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“Não era nada bandido, mas quando o Fonte Nova abriu lembro-me de um colega meu dizer ‘vamos roubar um livro’. E eu senti-me perigoso e sexy. E roubámos." #MarklOBS
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"Tenho genuínas saudades das bombocas originais. A bomboca original tinha o tamanho perfeito. Adoraria resgatar as bombocas." #MarklOBS
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"Tenho saudades do tempo que dedicávamos às coisas. De pegar num disco de vinil, de o ouvir de uma ponta a outra porque é lixado fazer zapping entre faixas do disco vinil. Tenho saudades de estar concentrado em coisas." #MarklOBS
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"Lembro-me do quão importante foi o ZX Spectrum. Eu tinha um vizinho que tinha e quando o ligou à nossa televisão foi uma epifania. Os meus pais nunca me ofereceram e em 1986 a junta fez um concurso de cartazes e eu ganhei o primeiro prémio: Um ZX Spectrum de 128k. "#MarklOBS
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"A roupa dos anos 80 só começou a avaliar-se anos depois. E eu passava o meu tempo apaixonado por miúdas e depois não conseguia quebrar a barreira e dizer-lhes isso." #MarklOBS
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Sobre a carreira e a série “1986”
"A minha vida mudou quando comecei a ouvir o Seinfeld falar de micro-coisas. O cotão do umbigo. Nós somos uma espécie completamente passada dos carretos, por isso mais vale rir disso." #MarklOBS
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"Consegui incorporar a orca na minha existência. Acho que vou ser recordado por isso." #MarklOBS
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"Uma das coisas que eu disse à RTP quando vendi a ideia foi: Imaginem se o John Hughes tivesse acompanhado as eleições presidenciais em Benfica?" #MarklOBS
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"Perguntaram-me se eu conseguia escrever amor. Eu sou um tipo super romântico, consigo escrever amor na boa." #MarklOBS
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"Há um episódio da série que é sobre o debate final entre Freitas e Mário Soares. Os miúdos de hoje querem lá saber de política. 1986 é uma espécie de tributo em que ligávamos às coisas, em que tínhamos disponibilidade para acompanhar as eleições, ou o top disco." #MarklOBS
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"Ainda hoje sinto que tenho de provar coisas, nada está garantido e eu acho que isso é bom. Temos de estar à beirinha do assento." #MarklOBS
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“Uma eventual segunda temporada vai ser passada no verão. Gostávamos que fosse uma espécie de Verão Azul." #MarklOBS
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Sobre os anos 80
"Depois de fazer a “Caderneta de cromos” estava tão esgotado… mas se havia maneira de voltar a pegar neste tema (anos 80) era sobre forma de ficção." #MarklOBS
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"O mercado da nostalgia não se esgota? “É a teta nostálgica em que todos gostamos de mamar. Há várias maneiras de chuchar nessa teta. Podes chuchar para obter lucro. Ou por uma questão de aconchego." #MarklOBS
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"O próximo passo vai ser os anos 90. Estamos sempre a olhar para trás, para encontrar o sentido para a nossa existência. É aconchegante ir lá ver como eram as coisa. Para mim, é sempre um bocado terapêutico ir lá." #MarklOBS
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"Vivíamos tudo mais intensamente porque tínhamos menos coisas." #MarklOBS
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"Eu era muito adepto do anorak, calças de bombazina e era bastante trágico." #MarklOBS
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"Há um fenómeno de moda sobre os anos 80. Porque são as pessoas que nasceram naquela coisa estão a fazer coisas, mas também porque a história está cheia de coisas intemporais." #MarklOBS
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"Má moda aconteceu em todas as épocas. O interessante nos anos 80 foram o quão poucas causas de jeito havia naquela geração. Ficávamos muito mais atentos à cultura que nos rodeava." #MarklOBS
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"Samantha Fox ou Sabrina? “Claramente Samantha Fox. Tinha um élan acrescido porque tinha o Touch Me. Ela gemia e suspirava imenso nesse clip e eu fabriquei a minha própria pornografia à conta disso. Fiz uma edição que eram só os suspiros dela colados uns aos outros.” #MarklOBS
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Sobre o filho e a polémica dos YouTubers
"Sou completamente contra a ideia de que no nosso tempo é que era. Eu vejo a felicidade do meu filho a lidar com coisas tão contemporâneas como o mindcraft e os youtubers." #MarklOBS
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“O que me fez confusão nos youtubers foi um episódio que o meu filho estava a ver … o problema é não terem noção que grande parte do público deles são da idade do meu filho. Num episódio diziam que quando a tua mãe te for acordar de manhã manda-a para o…” #MarklOBS
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"Há uma certa nostalgia dos tempos em que podíamos andar por esse mundo fora alegremente. E eu sou pai-galinha." #MarklOBS
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"Uma das coisas que celebramos é a capacidade de haver grupos que iam explorar coisas. Vivíamos em bandos, e agora está cada um em casa com a sua consola e perdeu-se esse convívio de grupo. E tenho pena que o meu filho não tenha isso." #MarklOBS
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