Os húngaros foram às urnas este domingo para votar em eleições legislativas e decidir se renovam a maioria parlamentar indiscutível de que goza o Fidesz, partido de direita do primeiro-ministro Viktor Orbán — atualmente o segundo líder europeu há mais tempo no poder, ficando apenas atrás de Angela Merkel na Alemanha. Nas urnas, não tiveram dúvidas e concenderam a Orbán um terceiro mandato, com ampla maioria parlamentar.

Com 93% dos votos contados, os resultados provisórios dão 49,5% dos votos ao Fidesz, colocando-o dentro da maioria de dois terços no Parlamento de que goza atualmente, com 133 lugares (necessita de 132 para a maioria qualificada). O resultado é uma vitória em toda a linha para Orbán, que segura a sua ampla maioria na câmara.

O primeiro-ministro reivindicou a vitória, dizendo num discurso aos seus apoiantes “ganhámos”. “Esta foi uma vitória decisiva”, declarou. “No futuro seremos mais capazes de defender a nossa pátria.”

Embora o Jobbik, principal partido da oposição, continue a ser o segundo partido mais votado, os seus 26 lugares no Parlamento não chegarão para fazer qualquer tipo de oposição a Orbán. Por essa razão, o líder Gabor Vona apresentou a demissão. “O objetivo do Jobbik era vencer as eleições e provocar uma mudança no Governo. Não foi conseguido, o Fidesz ganhou. Ganhou outra vez”, afirmou.

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Os socialistas, terceiros mais votados, deverão ter apenas 20 lugares no Parlamento húngaro. O seu candidato a primeiro-ministro, Gergely Karácsony, reconheceu que a vitória foi do Fidesz, mas não se disse totalmente derrotado: “Recebemos um certo número de chapadas na cara, mas provámos que o renascimento é possível”, disse. Contudo, toda a liderança do partido se demitiu em bloco.

Após o fecho das urnas, um fonte próxima do Fidesz tinha avançado ao Observador números internos que confirmavam a tendência das sondagens: vitória para o Fidesz, com 41% dos votos, seguido do Jobbik (22%) e dos socialistas (15%), o que daria apenas 116 deputados ao partido de Orbán, ficando aquém da maioria de dois terços. O resultado final acabaria por se revelar ainda melhor do que estas primeiras projeções.

Os dados do Gabinete Nacional de Eleições revelam que às 18h30 (hora local, 17h30 em Portugal) a participação eleitoral estava nos 68%, um valor quase 10% mais alto do que o registado nas últimas eleições, em 2014. Gergely Gulyás, representante do Fidesz, declarou que se prevê que a participação eleitoral possa ter batido recordes: “Esta pode bem ser a maior participação eleitoral de sempre. O Parlamento da Hungria será assim particularmente forte”, declarou, segundo o site oficial do Governo húngaro.

O Fidesz goza atualmente de uma maioria parlamentar de dois terços no Parlamento, de 199 lugares, o que permitiu a Orbán alterar a Constituição em 2010 e impor o seu programa onde se destaca a retórica anti-imigração, as críticas a Bruxelas e uma política económica “heterodoxa”, como define o próprio.

Combate à imigração é o motor da popularidade do Fidesz

Orbán lidera um Governo popular e as sondagens davam-lhe em vésperas de eleições cerca de 46% das intenções de voto. A sua popularidade incontestada é bem visível no mapa de resultados desta noite eleitoral, que revela que o seu partido, o Fidesz, venceu em quase todas as regiões do país. A oposição atingiu resultados melhores em Budapeste, mas não consegue qualquer expressão de peso fora da capital.

O primeiro-ministro não apresentou qualquer programa oficial, mas ocupou todos os seus tempos de antena com críticas fortes à imigração, rejeição total da política de refugiados defendida pela União Europeia (UE) e ataques pessoais ao milionário húngaro George Soros.

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Num comício na passada semana, Orbán agitou o fantasma da imigração, sobretudo de jovens muçulmanos, que diz pairar sobre a cultura de “matriz cristã” húngara. Bruxelas “pretende diluir a população europeia e substituí-la, afastar a nossa cultura, a nossa forma de vida e tudo o que separa e distingue os europeus dos outros povos”, afirmou o primeiro-ministro.

A oposição na Hungria é atualmente composta pelo partido Jobbik, segundo no Parlamento e nas sondagens, pelos socialistas de centro-esquerda e por uma série de pequenos partidos como o partido de protesto Cão de Duas Caudas (MKPP na sigla original) que participa pela primeira vez em legislativas.

Os diferentes partidos que enfrentam o Fidesz de Orbán não conseguiram unir-se numa estratégia conjunta nem num único candidato, muito em parte pelo passado recente do Jobbik. Se até há cerca de um ano o partido assumia uma postura claramente ligada à extrema-direita (promovendo milícias armadas, ataques a ciganos e retórica anti-semita), à medida que o Fidesz se encostou à sua mensagem anti-imigrantes, o Jobbik tentou reinventar-se como partido moderado — defende agora, por exemplo, a manutenção na UE e o combate à corrupção. “O que o Jobbik representa hoje em dia é muito mais semelhante ao antigo Fidesz e o que o Fidesz representa hoje é mais parecido ao velho Jobbik”, admite o próprio candidato a primeiro-ministro do partido, Gabor Vona.

Os partidos mais à esquerda, contudo, olham com ceticismo essa mudança de postura do partido e consideram-na motivada por oportunismo eleitoral. Afinal de contas, o Jobbik foi o primeiro partido a defender a construção de um muro na fronteira com a Sérvia, tendo o presidente da câmara da aldeia de Ásotthalom sido o primeiro a construir uma vedação. “O que está em risco é a Europa cristã”, dizia László Toroczkai ao Observador em 2015.

A aldeia húngara por onde os refugiados entram — e onde ninguém os quer

Vários líderes de partidos de extrema-direita já deram os parabéns a Orbán no Twitter. Marina Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, escreveu que “o recuo dos valores e da imigração em massa defendidos pela UE foram de novo rejeitados”. Também Geert Wilder, líder do Partido pela Liberdade holandês, felicitou o primeiro-ministro húngaro. E Beatrix von Storch, do Alternativa para a Alemanha (AfD), falou num “dia mau para a UE”, acompanhado de uma foto sua com Orbán.