Fernando Santos deixou como imagem de marca no Europeu o gosto que tinha em falar de futebol. Daquele jogo jogado nas quatro linhas que às vezes até parece passar ao lado. Daquele detalhe que às vezes passa ao lado numa visão menos periférica. Daquele momento que muitos não se aperceberam mas que faz toda a diferença. Dois anos depois, a caminho da participação em mais uma fase final, muda a competição mas continua o mesmo selecionador, sempre solícito para explicar o que esteve melhor, o que esteve pior, o que terá de melhorar e o que dificilmente piorará. E esta noite voltou a ser assim.

Com os “velhotes” a tomar conta, os miúdos podem andar à solta na frente (a crónica do Bélgica-Portugal)

“Em relação ao jogo da Tunísia só mudei o posicionamento de um jogador. Sabíamos por onde a Bélgica nos poderia criar problemas, pelas laterais e também pelos movimentos interiores do Hazard, e respondemos bem. Nos primeiros 20 minutos estivemos um bocadinho desorganizados, com problemas nos flancos e com os nossos dois avançados, que estavam a recuar em demasia e a tirar ligação ao jogo ofensivo. Chamei o Gelson e o Bernardo, troquei-os, disse para terem mais atenção aos laterais e para que os avançados não descessem tanto. Depois desse período, começámos a fazer isso bem e a partir daí fomos melhores. Temos de nos lembrar que a Bélgica é uma séria candidata a ser campeã, com enorme valor, mas fomos uma equipa com grande experiência, capaz de ter bola e criar situações de golo. Na segunda parte voltámos a não entrar bem e depois dos 70 minutos também não estivemos bem, mas ninguém esteve e isso tem a ver com as substituições”, começou por comentar o selecionador nacional, na flash interview à RTP após o apito final do nulo frente à Bélgica.

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Em paralelo, e já na conferência de imprensa, Fernando Santos abordou também o regresso aos jogos sem consentir golos perante a um adversário que há quase dois anos não ficava a zeros. “Não podemos dividir isto por setores. Quando defendemos bem não é só por causa dos quatro homens lá de trás. Os golos sofridos com a Tunísia foram erros coletivos e não individuais: um foi de bola parada, uma desatenção total da nossa equipa que não podemos voltar a ter, e o outro foi um contra-ataque”, destacou num reparo às análise mais ou menos globais sobre o rendimento defensivo da Seleção, prosseguindo: “Há 21 meses que a Bélgica não tinha um jogo sem marcar e isso mostra a sua capacidade ofensiva, mas Portugal é uma equipa que também sabe defender bem. Se a Bélgica não criou oportunidades, não foi tanto por demérito deles, mas sobretudo mérito nosso. E não só defendemos bem como criámos cinco ou seis oportunidades. A Bélgica é candidata a chegar longe, tem jogadores de enorme qualidade mas Portugal, tirando 20 minutos, fez um jogo bastante aceitável”.

Em paralelo, o técnico assumiu também que a equipa tem um caminho ainda para percorrer até ao Campeonato do Mundo e ao melhor momento para enfrentar a fase final da competição. “Não estamos ainda totalmente preparados, isso era impossível. Foi o segundo jogo, ainda temos uns dias pela frente e os jogadores não estão na plenitude da forma física. Ainda temos muito trabalho para fazer, mas estivemos mais perto do que quero. Um grau ou dois abaixo do que quero mas, tirando aqueles primeiros 20 minutos, em termos de equilíbrio de jogo voltámos a ser uma verdadeira equipa”, frisou.

Por fim, Fernando Santos falou também das parecenças da Bélgica com Espanha e Marrocos, dois dos três adversários de Portugal na fase de grupos do Mundial além do Irão. “Só no último jogo é que Marrocos jogou com três defesas, como a Bélgica costuma jogar, não vimos nenhum jogo antes em que o tivessem feito. E na segunda parte voltaram ao que tem sido normal. Não preparei este jogo a pensar em Marrocos, até porque penso que são duas equipas completamente distintas”, argumentou. “Em relação à Espanha, são adversários diferentes porque a Espanha joga com quatro defesas e a Bélgica com três, mas no plano ofensivo existem de facto semelhanças porque são ambas equipas que exploram muito bem a subida dos seus laterais e que têm jogadores que fazem muitos movimentos interiores, como o [David] Silva e o Isco”, acrescentou.