Há 24 anos que a BMW produz automóveis nos EUA, mais precisamente na sua fábrica em Spartanburg, na Carolina do Sul, criada numa zona sem tradição na indústria automóvel, mas também sem sindicatos, especialmente aqueles controlados pelas marcas de Detroit, que sempre se esforçaram por sufocar as marcas europeias que ali tentaram implantar-se. Mercê de várias ampliações, Spartanburg cresceu muito mais do que o mercado americano era capaz de absorver, levando a que 70% dos 450.000 veículos ali produzidos anualmente – a linha está já a sofrer alterações para atingir 520.000, para poder acolher o novo X7 – sejam destinados à exportação. Isto faz desta fábrica não só a maior da BMW, como o maior exportador de veículos americano, em valor.

Spartanburg emprega 8.800 pessoas, directamente, mas dela vivem mais 200 empresas da região (a maioria estrangeiras, que se deslocaram para fornecer a marca alemã), o que faz com que uma em cada 10 pessoas daquela região deva o seu rendimento aos veículos que fabrica, ou às peças de que os BMW necessitam para serem construídos.

Ao criar uma guerra comercial com a China e com a Europa, Trump obrigou a BMW a reformular a sua estratégia. Contudo, é bom ter presente a desigualdade de taxas, pois se os carros americanos pagam 10% quando chegam à Europa, os europeus apenas têm de suportar 2,5% à entrada dos EUA, sendo que o desequilíbrio com a China é ainda maior.

A primeira notícia (má para os EUA) é que parte da produção de Spartanburg passa para a China, uma vez que era para aquele país asiático que ia uma boa parte dos veículos fabricados na fábrica americana. E para incentivar a mudança, o Estado chinês – benemérito como sempre – já permitiu à BMW que incrementasse de 50% para 75% a propriedade da fábrica que detém na China.

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A segunda notícia (igualmente má) é que o envio dos SUV fabricados em Spartanburg para a Europa também deverá cair para zero, caso a guerra comercial com o Velho Continente avance, o que está a colocar os habitantes da Carolina do Sul à beira de um ataque de nervos. Especialmente depois de o CEO da BMW, Harald Krüger, ter declarado que “os impostos criados pelo senhor Trump vão consequências no emprego na região”.

Na passada semana teve lugar uma reunião em Washington, com o Departamento de Comércio, onde foi discutido se a importação de automóveis colocava realmente em perigo  a segurança nacional dos EUA, como Trump reclama, e onde os interessados, responsáveis pela Carolina do Sul incluídos, tentaram explicar que os carros não nascem exclusivamente numa só fábrica, sendo feitos com material proveniente de muitas outras, no país e no estrangeiro. Os presentes defenderam, junto do Governo, que os impostos vão tornar os carros mais caros de produzir, penalizando quem depois os vai adquirir (o consumidor americano) e, no extremo, vão tornar as fábricas desnecessárias, pois não podendo exportar para Europa e para China, ou não sendo competitivas devido aos impostos extra fruto da guerra comercial, não fazem sentido existir ou, pelo menos, existir com aquela dimensão.

O consultor económico da Casa Branca, Larry Kudlow, afirmou em relação a este assunto que esperava novidades para breve em relação à batalha comercial com a Europa, tema que vai estar em cima da mesa na próxima semana, quando Jean-Claude Junckers visitar Washington. Até lá, 10% da população da região vai ficar a roer as unhas à espera de notícias. Idealmente boas.