No primeiro interrogatório, a 27 de setembro, dois dos três militares detidos pela Polícia Judiciária e constituídos arguidos no âmbito da Operação Húbris optaram por ficar em silêncio. Estavam “demasiado cansados” para falar sobre a recuperação do material de guerra furtado de Tancos, justificou na altura o advogado. Agora estão prontos para responder às perguntas do juiz de instrução e dos procuradores responsáveis pela Operação Húbris, que levou à detenção de outros cinco militares e um civil.

“Na próxima semana”, a defesa dos dois militares vai avançar com um requerimento para que “os clientes sejam ouvidos”, disse ao Observador o advogado Luís Cruz Campos. Querem dar uma versão alternativa daquela em que a Polícia Judiciária coloca os militares a transportar caixas de material para a Chamusca, em carrinhas da PJ Militar, antes de esta polícia receber uma chamada anónima encenada com a localização das mesmas. Essa versão, diz o advogado, “não tem nada a ver com a realidade” e é isso que os militares agora pretendem esclarecer.

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Na versão noticiada depois das detenções, no final de setembro, e que partia da investigação conduzida pela PJ à forma como o material foi recuperado, os militares teriam transportado o material de guerra desde Tomar — local onde fica a casa da avó de João Paulino, o principal suspeito do assalto aos Paióis Nacionais de Tancos — até à Chamusca. Esse transporte terá sido feito numa carrinha da PJ Militar, de acordo com a investigação da Judiciária civil, que analisou os registos de portagens e sinais de telemóveis de vários elementos da GNR e da PJ Militar envolvidos na operação de recuperação das armas.

Depois de os caixotes serem largados num terreno da Chamusca, a PJ Militar seria alertada para a presença do material naquele terreno, a poucos quilómetros de Tancos, através da tal chamada anónima que, soube-se posteriormente, foi encenada pelo inspetor da PJ Militar que conduziu a missão. Foi, aliás, o major Vasco Brazão quem deu a ordem a um segundo inspetor da Judiciária Militar para que fizesse uma chamada para o número de piquete daquela polícia na madrugada de 18 de outubro com indicações sobre o local onde teria sido deixado material militar.

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O advogado dos dois militares da GNR (e também de um terceiro, o comandante do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé, que prestou depoimento logo no primeiro interrogatório) está preso ao segredo de justiça decretado no processo pelo Ministério Público. Por isso, não se alarga naquilo que será a versão que os militares têm para apresentar em tribunal para explicar a presença nas imediações do terreno da Chamusca horas antes da chamada anónima.

Além dos dois militares, apenas o principal suspeito do assalto a Tancos ficou em silêncio no final de setembro, durante os primeiros interrogatórios, depois de terem sido detidos pela Polícia Judiciária.

Dos nove detidos nesta operação (o major Vasco Brazão seria detido dias mais tarde, no regresso antecipado a Portugal de uma missão na República Centro Africana), apenas o ex-diretor da PJ Militar e o civil ficaram em prisão preventiva. Brazão foi colocado em prisão domiciliária sem vigilância eletrónica e os restantes arguidos — os três militares da GNR e outros dois inspetores da PJ Militar — ficaram em liberdade, mas impedidos de contactar com outros arguidos e, no caso dos militares, suspensos das respetivas funções.

O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa justificou a prisão preventiva do coronel Luís Vieira e de João Paulino com o “perigo de continuação da atividade criminosa e perigo de perturbação do decurso do inquérito, aquisição e conservação da prova”. No caso de Paulino, o juiz João Bártolo considerou haver “perigo de continuação da atividade criminosa e de fuga”.