Ricardo Jorge sempre foi um viajante de negócios frequente e sabe que os dias de viagem “podem ser muito ineficientes em termos de trabalho”. Um dia, quando embarcou num voo às 6h da manhã de Londres para Genebra, questionou porque não existia uma forma de ligar as cidades ponto a ponto, sem que tivesse de perder tanto tempo a apanhar um segundo meio de transporte para chegar ao destino final — com mais conforto, mais pontualidade e a um preço igualmente acessível.

Um ano depois, criou a Yoyoloop, uma startup portuguesa que disponibiliza transfers premium entre cidades, que circulam em autoestrada a preços semelhantes aos dos comboios, com maior flexibilidade nas zonas onde o passageiro pode iniciar e terminar o seu trajeto, um maior aproveitamento das horas de viagem e que, ao mesmo tempo, ajude na diminuição do uso de carros nas cidades.

A empresa começou a funcionar em setembro e tem rotas ida e volta em quatro cidades portuguesas — Lisboa-Porto, Lisboa-Leiria e Lisboa-Coimbra – e conta, numa fase inicial, com dez viaturas de nove lugares para cinco passageiros. Além do número de paragens, explica o diretor e fundador da Yoyoloop, nestes veículos o tempo pode ser aproveitado de uma forma mais eficiente, especialmente para os empresários ou estudantes universitários que precisam de trabalhar enquanto se deslocam. “A grande diferença é que em 100% do tempo de viagem eu estou sentado num sítio confortável, com espaço, com Internet que funciona e posso usar esse tempo útil”, explica Ricardo Jorge ao Observador.

O processo é simples: através do site da Yoyoloop, o utilizador escolhe um dos pontos de partida e chegada na cidades (há 14 em Lisboa e dez no Porto), paga o bilhete, faz o download do ingresso e depois é só apresentá-lo antes de iniciar a viagem. Uma ida de Lisboa ao Porto, por exemplo, tem um preço base de 39 euros. Já de Lisboa para Leiria há preços a partir dos 18 euros. “O principal concorrente é o uso individual do carro. Se fizer uma viagem de carro, individual, com todos os custos, são cerca de 110 euros a viagem. Aqui, estamos a falar de um valor 60/70% mais baixo”.

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Uma ida de Lisboa ao Porto na Yoyoloop, por exemplo, tem um preço base de 39 euros. Já de Lisboa para Leiria há preços a partir dos 18 euros.

Apesar de não revelar números concretos de investimento inicial, Ricardo Jorge confirma que “foi um investimento relevante e feito a partir de capitais próprios”. As viagens não têm paragens (apenas uma na área de serviço), têm Wi-Fi a bordo e motoristas profissionais. “São horas em que se pode estar a ser produtivo, sobretudo para profissionais, para pessoas para quem o tempo útil e o tempo de conetividade são muito importantes”, acrescenta.

Futuro? Carros elétricos

Nos primeiros seis meses de funcionamento, a empresa conta com uma frota própria e motoristas profissionais contratados e avaliados especificamente para este serviço. A ideia, indica Ricardo Jorge, é ter um feedback inicial sobre o que pensam as pessoas sobre o serviço, a oferta e os pontos de partida e chegada. “Quando as coisas estiverem mais consolidadas, queremos trabalhar com frotas de terceiros e parcerias”, explica o empreendedor, acrescentando que, apesar de a plataforma só ter sido lançada em setembro, têm clientes desde março que os ajudaram a limar arestas no projeto. “A parte do software ainda não estava a funcionar, mas fazíamos marcações por telefone ou por email”.

Mas, o grande ponto de chegada da Yoyoloop em termos das viaturas é a utilização de veículos elétricos para fazer as viagens mais longas, algo que ainda não está disponível e, por isso, “ainda não é economicamente viável” para ser utilizado. No entanto, está previsto que no próximo ano a situação seja diferente e já exista essa possibilidade. “O facto de os veículos elétricos estarem mesmo à porta é uma das grandes razões para fazermos este negócio, porque quando houver a transição para estes veículos, os nossos custos vão baixar cerca de 30%”, explica o responsável pela startup. Com uma diminuição de custos, acrescenta, “há uma melhoria na margem para baixar os preços e aumentar a acessibilidade do serviço”.

Para o empresário, no futuro “as pessoas não vão querer ter a preocupação e o investimento de ter de carregar o seu carro e garantir que está disponível em cada momento” e, por isso, acredita que “a maioria vai abdicar da propriedade do carro”, estando a empresa a antecipar essa disrupção.

Um serviço que é também “uma plataforma para as pessoas se conhecerem”

Apesar de toda a gente poder utilizar as viagens da Yoyoloop, seja para trabalhar ou para relaxar, são os profissionais, empreendedores e executivos que mais vantagens podem tirar destas deslocações. “Cada deslocação pode também tornar-se num momento de networking entre profissionais de diferentes empresas, aproveitando o ambiente mais recatado e confortável de uma viagem premium entre as principais cidades portuguesas e os seus respetivos ecossistemas”, diz Ricardo Jorge em comunicado. E acrescenta ao Observador: “Queremos que o nosso serviço seja também uma plataforma para as pessoas se conhecerem. Queremos ligar os ecossistemas, os empreendedores, as empresas, os engenheiros, os advogados.”

Para chegar até à Yoyoloop, Ricardo Jorge passou por 20 anos de experiência profissional – entre uma carreira em software, consultoria em inovação e o mundo dos bens de luxo. Apesar de ainda só estar há um mês em funcionamento, a empresa, diz o fundador, já tem recebido feedback positivo: “Melhor do que estava à espera neste mês de operação”, revela, acrescentando que estão a ser trabalhadas parcerias com empresas, consultoras e escritórios de advogados para melhorar o serviço prestado.

(Texto editado por Ana Pimentel)