Há apenas quatro meses, Victorina Morales recebeu um certificado da Casa Branca com o seu nome, pelo “extraordinário” serviço que prestou ao atual Presidente dos EUA. Em Bedminster, morada do clube de golfe de que Donald Trump é dono, e onde começou a trabalhar em 2013, a empregada de limpezas guatemalteca fez a cama de Trump, limpou o seu apartamento pessoal e sacudiu o pó da coleção de prémios de golfe, nos últimos cinco anos. O pormenor curioso desta história é que, na verdade, Morales é uma imigrante ilegal  — e trabalha, nessa condição, desde essa altura, para um, agora, chefe de Estado que fez do combate à imigração ilegal um dos principais focos do seu mandato.

Nunca pensei, enquanto imigrante de uma zona rural da Guatemala, que veria tanta gente importante de tão perto”, disse a empregada de limpeza ao diário norte-americana.

Victorina Morales, 45 anos, não é caso único no clube de Donald Trump. Hoje em dia, Sandra Diaz, outro desses exemplos, já é uma residente em situação legal no país. Mas não era essa a realidade quando a costa-riquenha foi contratada para trabalhar também em Bedminster, onde esteve entre 2010 e 2013. Em entrevistas separadas que concederam ao The New York Times, as duas mulheres garantem que há mais casos de imigrantes ilegais a trabalhar na estância turística e que faziam parte de um grupo de empregadas de limpeza, técnicos de manutenção e de jardinagem, todos em situação ilegal.

O diário ressalva que não há qualquer evidência de que a empresa de Donald Trump ou o próprio Presidente dos EUA (e empresário com interesses em vários setores) tivessem conhecimento destes casos — ainda que pelo menos dois supervisores do clube de golfe tivessem encoberto as funcionárias para que não fossem detetadas pelos serviços de imigração nem perdessem o emprego.

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E há, ainda, um detalhe nesta história que revela quão clara era a situação destes funcionários e imigrantes ilegais: um funcionário do clube conduz todos os dias um grupo de trabalhadores desde as suas casas até ao local de trabalho. Porquê? Porque toda a gente sabe que não têm como tirar a carta de condução devido ao seu estatuto ilegal.

Foram as próprias mulheres que, através do advogado que as representa num processo sobre o seu estatuto de imigrantes, se dirigiu ao The New York Times para contar a sua história. Depois de semanas a acompanhar a evolução da história à volta de uma coluna de imigrantes que subiu a América do Sul, rumo à fronteira do México com os EUA, Morales está magoada. Custou-lhe ouvir os comentários que Donald Trump tem feito sobre os imigrantes latino-americanos, colando-os à imagem de violentos criminosos. Os comentários racistas de um supervisor fizeram o resto.

Estamos fartas do abuso, dos insultos, da forma como ele fala sobre nós, quando sabe que estamos a ajudá-lo a fazer dinheiro”, diz Victorina Morales. “Fartámo-nos de suar para estar à altura de cada uma das suas exigências e temos de suportar as humilhações dele”, desabafa.

Victorina Morales não tinha razões de queixa de Trump, na sua versão milionário e dono do clube de golfe. Por mais do que uma vez, a funcionária do agora presidente chegou a casa para contar ao marido que tinha recebido uma gorjeta de 50 dólares, por vezes 100. O problema, diz, foram os comentários de Trump a partir da Casa Branca.

Do número 1600 da Pennsylvania Avenue não saiu qualquer resposta às questões do Times. A Trump Organization respondeu, mas não sobre os casos concretos de Morales e Diaz. “Temos milhares de empregados nas nossas propriedades e seguimos práticas de contratação muito rígidas“, diz Amanda Miller, vice-presidente com as pastas de Marketing e da Comunicação Empresarial. E deixou a garantia: “Se um funcionário submete documentação falsa numa tentativa de contornar a lei, será despedido com efeitos imediatos“.