Em tempo de festas e de preparação das resoluções para 2019, Assunção Cristas assumiu já o mote para aquilo que vai ser o discurso eleitoral do CDS no ano que vem: o CDS é o único partido que diz “de forma cristalina” que não viabiliza nem colabora com o PS de António Costa. Os partidos da “geringonça”, a que junta também o PAN, por viabilizar orçamentos, são os partidos da “situação”, e o PSD e o Aliança de Santana Lopes, são os partidos da “colaboração”. Por isso, feitas as contas, sobra um.

“Quem gosta de António Costa, ou quem está conformado, tem muitos partidos onde votar”, argumentou. “Quem não gosta e quer uma alternativa, tem um único partido onde votar: o CDS“. Foi assim que Assunção Cristas começou e terminou o discurso no jantar de Natal do partido, que decorreu esta quinta-feira num hotel de Lisboa.

Com o slogan “A alternativa somos nós” escrito no painel atrás de si, a presidente do CDS fez tiro ao alvo naquele que em tempos foi o seu parceiro de coligação, e aproveitou a boleia para atirar também ao outro partido que lhe está a querer roubar espaço no centro-direita. Sem dizer os nomes [PSD e Aliança], ao contrário do que fizera com os partidos da esquerda, que nomeou [PCP, BE, Verdes e PAN], Assunção Cristas marcou terreno: “Um voto no CDS é o único que não viabiliza um governo de António Costa, e não é por teimosia, é porque temos convicções muito diferentes”.

“Digo-vos com muita convicção porque é que este slogan está correto: olhamos à volta e vemos cinco partidos da situação, o PS, o PCP, o BE, os Verdes, e até o PAN, que também aprovou o Orçamento; e depois vemos um partido da colaboração, que diz que se for preciso dá uma mão ao PS para o ajudar a libertar-se das esquerdas radicais, e depois ainda temos um outro que apareceu e que também não é capaz de dizer de forma cristalina que não dá a mão ao PS”, disse, levando ao raciocínio de que só sobra o CDS no espaço da direita não-socialista. Antes, já Francisco Rodrigues dos Santos, líder da JP, tinha atacado o PSD de Rui Rio para dizer que aqueles que “prometiam um banho de ética estão agora cercados de imoralidades”, e para ensaiar uma lição de moral: “a ética não se proclama, pratica-se dentro de portas”.

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Num discurso breve e conciso, antes de o jantar ser servido aos militantes do CDS e da Juventude Popular, Cristas deixou duras críticas ao primeiro-ministro António Costa e não poupou os parceiros da “geringonça”, que “deviam corar de vergonha porque, ao fim de quatro orçamentos por eles aprovados, se não há investimento nos serviços públicos a culpa é vossa, não podem mais culpar o tempo da troika”.

Para Cristas, a palavra de António Costa “não vale nada”, depois de ter prometido aos professores, e ter vertido a promessa em letra de lei, e agora não cumprir. E o mesmo vale para os enfermeiros, médicos, juízes, guardas prisionais, bombeiros, forças de segurança, todos os que se encontram neste momento em greve. “Se estas greves existem, e se as pessoas estão desesperadas, ao primeiro-ministro o devem. Porque ele prometeu tudo a todos de forma demagógica, e quando chega a altura de cumprir as promessas atira com as culpas para quem está a reivindicar”, disse, atacando o PS de António Costa por “não saber sequer qual é a função do Estado”.

“O Estado não é uma instituição para servir o PS, não é uma casa onde o PS entra e governa, o Estado existe para servir as pessoas e para se responsabilizar quando falha”, afirmou, insistindo que o Estado falhou em Pedrógão, como falhou na zona centro, em Tancos e agora em Borba.

No final, aplausos. O CDS de Assunção Cristas já tinha iniciado em março, em Lamego o discurso de ambição e de afirmação como a “única alternativa” ao PS, e o mote veio para ficar. A confiança da líder centrista não parece esmorecer com o aproximar do calendário eleitoral, antes pelo contrário: “O que aconteceu em Lisboa [o CDS tornou-se a maior força política da oposição] está a acontecer um pouco por todo o país”, vaticinou Assunção Cristas, que admitiu já ter “saudades” de andar na rua em campanha.