A notícia foi publicada nas vésperas de Natal na “Folha de São Paulo”. Num artigo sobre o futuro imediato do ainda Presidente Michel Temer, o jornal brasileiro coloca em destaque um suposto convite que lhe terá sido feito por Marcelo Rebelo de Sousa para que se mudasse para Lisboa depois da tomada de posse de Bolsonaro. O convite teria chegado até com uma oferta de emprego: dar aulas na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde o Presidente da República português foi professor desde 1972 até ao final de 2016. O  jornal brasileiro diz, contudo, que Temer recusou o convite, para já. Belém garante ao Observador que tal convite nem sequer existiu.

Formalmente, Michel Temer deixa a presidência do Brasil no dia 1 de Janeiro, quando Jair Bolsonaro tomar posse. Depois disso, para além de perder os privilégios inerentes ao cargo que ocupa, Temer terá ainda de enfrentar a justiça brasileira. Sobre ele pendem quatro investigações já em fase avançada e há mais cinco inquéritos abertos pela Procuradoria-geral da República do Brasil que podem dar-lhe novas dores de cabeça. Estão em causa crimes de corrupção, branqueamento de capitais e organização criminosa.

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De acordo com o jornal “Folha de São Paulo”, o ainda presidente quer “debruçar-se nos próximos meses na elaboração da sua defesa jurídica” e logo no primeiro dia de Janeiro deverá mudar-se de Brasília para São Paulo, onde conta regressar ao seu antigo escritório de advocacia.

Feito este enquadramento, o jornal avança depois com a informação do convite que teria chegado via Marcelo Rebelo de Sousa. Citando assessores do Palácio do Planalto, a “Folha” garante que “o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo [SIC], sugeriu a Temer que se mudasse para a capital portuguesa e lecionasse na Universidade de Lisboa”. Mas o presidente brasileiro recusou a sugestão “pelo menos por enquanto”, até porque foi aconselhado por amigos a “permanecer no Brasil, justamente para evitar especulações de que tenha a intenção de evitar a justiça”.

Contactada pelo Observador, a Presidência da República portuguesa desmente categoricamente o suposto convite e diz que, a ter existido, tal convite podia até criar um desnecessário desconforto diplomático, agora que Marcelo se prepara para viajar para Brasília para a cerimónia de tomada de posse de Jair Bolsonaro. Em Belém até se compreende que Temer preferisse mudar-se para fora do Brasil, dada a situação delicada que provavelmente terá de enfrentar quando deixar de ser presidente. Mas a garantia é de que, de Lisboa, não partiu qualquer convite.

Quanto à suposta proposta para que Temer desse aulas na Faculdade de Direito, o Presidente português chegou a classificar a ideia como “um disparate”, até porque não tem qualquer poder sobre a composição do corpo docente da faculdade, não podendo fazer convites. Marcelo está “reformado” da carreira de professor, lembra fonte da presidência, e o presidente brasileiro “está reformadíssimo”.

Marcelo Rebelo de Sousa e Michel Temer conhecem-se há décadas, precisamente pelo percurso comum na área do Direito. A última aula do Presidente da República português foi dada em setembro deste ano, numa simbólica cerimónia de despedida, e nela Marcelo referiu-se a si próprio como “o último moicano no ativo licenciado na pré história”.

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