“Estávamos sempre com muitas restrições em termos de capital e foi-nos muito difícil angariar investimento nos primeiros sete anos de negócio. Nunca tínhamos mais do que o suficiente para 4 meses.” As palavras são de Ryan Rzepecki, fundador e líder da Jump, a startup norte-americana responsável pelas bicicletas elétricas partilháveis da Uber, ao Observador. Oito anos depois de ter nascido, a Jump foi adquirida pela Uber, em abril de 2018, num negócio que segundo a TechCrunch terá avaliado a startup norte-americana em 200 milhões de euros.

Hoje, a Jump é parte integrante do segundo unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) mais valioso do mundo — de acordo com a CB Insights, a Uber conta com uma avaliação de 72 mil milhões de dólares –, quando demorou sete anos a conseguir angariar a primeira ronda de investimento, no valor de 10 milhões de dólares. Na altura em que a empresa liderada por Dara Khosrowshahi surgiu, Rzepecki “tinha muitas opções”, mas preferiu ser integrado noutra empresa.

“Podia ter levantado muito dinheiro, mas preferi fazer parte da Uber pela oportunidade de fazermos isto a uma escala global”, afirmou durante a apresentação da Jump aos jornalistas.

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Ao Observador, vai mais além: “Sempre que um empreendedor equaciona vender a sua empresa, está perante uma decisão muito difícil. Mas a oportunidade de construirmos algo dentro de uma empresa que já tinha muitos recursos era boa e não tínhamos de nos preocupar porque íamos ficar sem dinheiro ou andar sempre à caça de investimento. Foi mesmo muito difícil construir uma empresa sem termos muito dinheiro”.

Quase um ano depois de ter sido comprada pela Uber, a Jump estreia em Lisboa o seu primeiro mercado europeu, com 750 bicicletas elétricas partilháveis, que cobrem 90% do município.

“Tenho esta empresa há oito anos, mas ando a trabalhar nesta ideia há quase dez. [A oferta da Uber] era a oportunidade para fazer tudo aquilo que queria fazer mas a uma escala massiva, global. Era uma oportunidade para fazer parte de uma plataforma tecnológica que é mais do que bicicletas. Tem bicicletas elétricas, trotinetes, viagens partilhadas… E a oportunidade de oferecer tudo isto aos consumidores para que possam ter realmente uma solução viável que substitua o seu carro pessoal. Foi por estas duas razões [que nos juntámos à Uber]: pela escala global e pela oportunidade de ter este espectro total de serviços”, contou ao Observador.

“Lisboa foi uma das cidades mais abertas”

Na apresentação, Rzepecki frisou que a capital portuguesa se tinha tornado numa referência para a comunidade tecnológica: “Lisboa é um ponto crucial para a tecnologia”. Alexandre Droules, responsável pelas novas mobilidades da Uber na Europa já tinha explicado ao Observador que “Portugal é um ótimo sítio para a inovação”, lembrando que foi o primeiro mercado europeu em que lançaram o serviço Uber Green, com carros 100% elétricos, onde lançaram o UberStar e a opção de disponibilizar o Pool para um evento em específico.

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Ao Observador, Ryan Rzepecki acrescentou que o facto de a Web Summit se ter mudado para Lisboa ajudou a colocar a cidade no ponto em que está. “Acho que fazem muito para encorajar as startups tecnológicas e sei que a cidade está à procura de projetos e parcerias. Enquanto andávamos a ter conversas pela Europa, reparámos que Lisboa foi uma das cidades mais abertas a testar coisas novas. Foram muito abertos no nosso diálogo e isso cativou-nos muito”, disse.

Sobre um eventual plano de expansão das Jump no país, disse que ainda não tinha começado a falar com outras cidades, mas há interesse: “Estamos interessados em ter esta conversa com mais cidades”, referiu.

Aos empreendedores portugueses, deixa três conselhos: “Primeiro, encontrem uma ideia pela qual são mesmo muito apaixonados e façam as coisas pelas razões certas”. Para que isso aconteça, é preciso encontrarem um problema que vos inquiete verdadeiramente e ao qual se possam dedicar até encontrarem a solução.

Há muita gente que lança empresas porque acha que é fixe ou porque quer fazer dinheiro com elas, mas a verdade é que a grande maioria do trabalho diário que envolve construir uma empresa é muito duro e desconfortável e a única forma de suportar isto é realmente acreditares no problema que estás a tentar resolver”, afirmou.

Em 2017, a Jump lançou o primeiro sistema de partilha de bicicletas elétricas nos EUA. Fundada em 2010 por Ryan Rzepecki, o primeiro nome da empresa foi Social Bicycles e desenvolveu as primeiras bicicletas inteligentes com tecnologia integrada de GPS, pagamento e bloqueio. Com assistência elétrica, as Jump permitem viajar até uma velocidade de 25 km/h.