O ator e humorista Volodymyr Zelensky, o grande vencedor das presidenciais ucranianas, prometeu aos seus concidadãos na sua primeira declaração que “jamais” os deixará cair. “Prometo que jamais vos deixarei cair”, declarou perante os seus apoiantes reunidos no quartel-geral da campanha, numa altura em que as sondagens à boca das urnas lhe dão 73% dos votos contra os 25% do seu rival e atual presidente, Petro Poroshenko.

Uma última coisa. Enquanto ainda não sou oficialmente presidente, posso dizer a todos os países do espaço pós-soviético, enquanto cidadão ucraniano: Olhem para nós! Tudo é possível”, continuou Zelensky.

Assim que os resultados finais o deram como vencedor com uma larga maioria, Volodymyr Zelensky anunciou na sua primeira conferência de imprensa que quer “relançar” o processo de paz com a Rússia no conflito em curso no leste separatista pró-russo do país. “Vamos avançar com o processo de Minsk, vamos relançá-lo”, declarou, numa alusão aos acordos de paz assinados em fevereiro de 2015 sob a égide de Kiev, Moscovo, Paris e Berlim.

O atual presidente, Petro Poroshenko, reconheceu a sua derrota na eleição presidencial e deu os parabéns ao seu adversário, prometendo, no entanto, que não vai deixar a política.

País com 45 milhões de habitantes às portas da União Europeia (UE), a Ucrânia, ex-república soviética, é hoje considerado um dos Estados mais pobres da Europa e a desconfiança face às instituições políticas pode confirmar a eleição de um “candidato atípico”. O comediante deverá tornar-se no dirigente de um país confrontado com desafios colossais, em particular a guerra no leste, as grandes dificuldades económicas e o combate à corrupção. Aliás Zelensky pode ter de imitar o seu personagem na série televisiva que o promoveu que chega inesperadamente à presidência do país com uma agenda de combate à corrupção.

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Ucrânia. Ator que foi presidente em série da TV lidera sondagens para as eleições presidenciais

A crise económica também atingiu estas regiões, em particular as suas fábricas em declínio e muito dependentes do comércio com a Rússia. Uma sondagem recente referiu que os apoiantes de Zelensky apreciam sobretudo a sua personalidade, mas estão relativamente mal informados sobre as suas respostas à crise que o país atravessa.

O ano passado foi caracterizado por um agravamento das tensas relações entre Kiev e Moscovo. A Ucrânia terminou 2018 sob regime de lei marcial, instaurada no início de dezembro e em vigor durante um mês na sequência do incidente no Mar Negro (estreito de Kerch) entre as marinhas russa e ucraniana, com a detenção de dezenas de ucranianos.

O incidente no estreito de Kerch fez recordar o conflito que se prolonga há cinco anos no leste da Ucrânia entre Kiev e os separatistas pró-russos da região do Donbass, que Poroshenko não conseguiu solucionar.

Com fracos resultados nas sondagens, o Presidente também tentou beneficiar politicamente da decisão do patriarcado de Constantinopla, que no outono reconheceu a independência do patriarcado de Kiev face ao de Moscovo.

Um sucesso que não fez esquecer os fracassos da presidência Poroshenko, que subiu ao poder na sequência da revolta de Maidan (Euromaidan) nos inícios de 2014, quando o anterior Governo do ex-Presidente Viktor Yanukovych anunciou em novembro de 2013 que não assinaria o Acordo de Associação com a União Europeia, pretexto para o início dos protestos.

Após ter evitado o colapso do país em 2014-2015 (perda da Crimeia, guerra no leste com um balanço de 13.000 mortos e milhares e feridos e refugiados), Poroshenko falhou em áreas decisivas como a reforma do Estado e o combate à corrupção.

O Acordo de Associação com a UE acabou por entrar em vigor em 2017. E apesar de a frustração se ter imposto ao entusiasmo inicial, os defensores do atual regime de Kiev argumentam que a “revolução pró-europeia” de 2014 permitiu ao país distanciar-se do modelo autoritário da Rússia, onde Yanukovych permanece, e aproximar-se dos padrões defendidos por Bruxelas.