[ATENÇÃO: este texto tem SPOILERS sobre a oitava temporada da Guerra dos Tronos. Se não quer saber mais, não leia]

O que quer que venha a ser de “Guerra dos Tronos” – isto é, que os seus autores venham a fazer dela e das nossas expectativas – uma coisa é certa: demorará muito, neste mundo que parece cada vez menos impressionável, a tornar a vir a série que faça o mundo parar, semana a semana, para a ver. Sobretudo quando é madrugada de domingo para segunda. E quando se está fora de casa e é preciso descobrir uma televisão, nos confins do mapa, para ver qualquer coisa em “directo” que não futebol e, ainda assim, esperar que o mundo compreenda (e já que a HBO Portugal tem falhado, semana após semana, como as notas de 500).

Dito isto, é importante que saiba que só este primeiro parágrafo tem mais palavras do que as ditas em todo o episódio da noite passada. Isto em contas assim por alto. E que, a partir daí, temos dificuldade em dizer muito mais, sem entrar já e irreparavelmente nas revelações sobre o enredo (velha expressão com que os antigos costumavam dizer, em muitas letras, “spoilers”).

O episódio 3 da temporada final de GoT é uma longa sequência de acção de 82 minutos, com muitos píxeis e pouco rasgo. Há sabres em chamas e ocasionais ignições provocadas por uma Melisandre regressada do absoluto nada ou por um dos dragões, criaturas que caminham para a triste conclusão de, no fim de tudo, terem servido de imagem de marca à série e nada mais, nunca tendo tido dramaturgia digna desse nome. É a tão esperada batalha entre vivos e mortos, a que falta a ousadia da diferença que prometia para outra batalha qualquer já representada e estafada pelo cinema. Alterna-se entre olhares expectantes, gritos e golpes de espada, e o inapelável avançar dos mortos que em vão suspiramos por, a qualquer momento, começarem a dançar “Thriller”.

Se morre muita gente? Amigo leitor, supomos que, se chegou até aqui no texto, já viu o episódio. De contrário – isto é, se decidiu avançar por sua conta e risco  – podemos dizer-lhe o seguinte: está a ver aquelas personagens que conhece perfeitamente, mas de quem não sabe o nome? Então, esqueça-as. Uma a uma. Isso. Aquele gajo da muralha que, aquela miúda das famílias do Norte com muito pelo na venta que, o fulano da pala que. E a seguir, só a seguir, comece a perder o apego aos outros.

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Jon Snow, Daenerys, Dragões e Night King, personagens catapultados para uma dimensão sobrenatural, são aqui pouco mais do que um desenho animado irreal e sentimos falta do pulsar sanguíneo da cínica verdade das personagens que fizeram a história e a popularidade da série.

Não vale a pena demorarmo-nos em lamentações. Sabemos a este ponto que a “Guerra dos Tronos” tão depressa tem uma semana má como dá de calcanhar na semana seguinte. O Inverno prometido desde o primeiro dia, oito anos trás, deixa muito a desejar (e amanhã teremos de voltar a falar sobre Arya, a ninja), mas o jogo – the Game – a três episódios do fim, ainda está longe de estar decidido.

Ah! E uma palavra para Theon Greyjoy… Se aquilo é não ter to*****.

O final de “Guerra dos Tronos”, episódio 1: 11 contra 11 e a bola é redonda

O final de “Guerra dos Tronos”, episódio 2: do cabrito para o dragão