No final da temporada passada, e principalmente depois do castigo de oito jogos aplicado a Diego Costa que terminou desde logo a época para o avançado, falava-se em fim de ciclo no Atl. Madrid. Desde logo, a começar com uma provável saída do jogador hispano-brasileiro; depois, com a transferência praticamente certa de Griezmann para o Atl. Madrid; em seguida, com Lucas já cedido ao Bayern Munique; e, finalmente, com as partidas de Godín, Juanfran, Rodri e Filipe Luís quase confirmadas. De todas estas mudanças, só não se materializou a saída de Diego Costa: e o Atl. Madrid encerrou mesmo um ciclo para começar outro. Aquilo que os augúrios do final da temporada passada, porém, não tiveram em conta, foi que o líder do ciclo anterior seria o líder do próximo. E que a reconstrução dos colchoneros seria gerida com pinças, critério e certeza por parte de Diego Simeone.

O treinador argentino escolheu Felipe, Mario Hermoso, Trippier e Renan Lodi para reforçar a defesa, optou por Herrera e Marcos Llorente para o setor intermédio e ainda resgatou Saponjic ao Benfica para fortalecer a frente de ataque. Pelo meio, ganhou a corrida por João Félix, um dos principais nomes do mercado de verão, e fica na história do Atl. Madrid como o técnico que olhou, contratou e treinou a contratação mais cara da história do clube. Mas João Félix chegou ao Wanda Metropolitano para ser bem mais do que um segundo avançado, bem mais do que um reforço, bem mais do que uma cara nova. João Félix chegou a Madrid para ser o nome maior da reconstrução do Atl. Madrid, o símbolo do clube no pós-Griezmann e um embaixador dos colchoneros.

E há 30 anos, no final da década de 80, esse papel também pertencia a um português. Paulo Futre, que esteve presente na apresentação de João Félix no auditório do Wanda Metropolitano e que desempenhou uma função fulcral na escolha do jovem ex-Benfica pelo Atl. Madrid, foi precisamente essa estrela, esse símbolo e essa figura do clube durante os cinco anos que passou na capital espanhola, entre 1987 e 1993. E este domingo, no dia em que Félix se estreou na liga espanhola, Futre recuou precisamente 30 anos para lançar um desafio ao jovem jogador. No Instagram, o antigo internacional português partilhou um vídeo do grande golo que marcou na primeira jornada da temporada 1989/90, numa visita do Atl. Madrid ao Valencia, e lançou um repto a João Félix. “Desafio a João Félix: há precisamente 30 anos, na jornada 1 da temporada 1989/90, aconteceu isto. Três décadas depois, na primeira jornada 2019/20, sei que o podes superar. Desafio aceite? Muita força esta noite, miúdo!”, escreveu Futre.

A estreia de João Félix, por sua vez, foi contra o Getafe e em casa, sendo esta a primeira vez que o jogador português pisou o relvado do Wanda Metropolitano. Além de Félix, Simeone lançou no onze inicial mais dois reforços: os dois laterais, Trippier e Lodi. Na frente de ataque, o português jogava atrás de Morata, que saltava para a titularidade face à ausência de Diego Costa, que ainda cumpre o castigo de oito jogos que recebeu na temporada passada. O internacional português podia ter-se estreado a marcar logo aos 13 minutos, lançado por Morata, mas permitiu a antecipação do guarda-redes do Getafe e acabou por assistir ao colega de equipa a inagurar o marcador ainda antes da meia-hora. Cruzamento de Trippier na direita e Morata subiu ao terceiro andar para colocar o Atl. Madrid a vencer na primeira jornada da liga espanhola (23′). Numa primeira parte dominada pelos colchoneros em praticamente toda a linha, destacam-se as duas expulsões, uma para cada lado, que colocaram as duas equipas a jogar com dez elementos: primeiro foi Molina, do Getafe, que começou por ver apenas cartão amarelo por uma entrada sobre Partey mas foi expulso após intervenção do VAR; e depois foi Renan Lodi, que viu dois cartões amarelos em pouco mais de um minuto.

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Já na segunda parte, João Félix não precisou de dez minutos para protagonizar o lance que vai inundar as redes sociais durante os próximos dias. Depois de recuperar a bola ainda no próprio meio-campo defensivo, o jogador português passou por um adversário com um túnel, ultrapassou mais dois em drible, depois outros dois e só foi parado com recurso à falta e à grande penalidade, já no interior da grande área do Getafe, cometida pelo capitão Bruno. Na conversão, Morata permitiu a defesa de Soria e não conseguiu aumentar a vantagem mas João Félix já ficou a saber o que é uma ovação no Wanda Metropolitano. A estreia do novo número 7 do Atl. Madrid — que foi recebido com centenas de cartazes, em espanhol e em português, que lhe pediam a camisola — acabou apenas dez minutos depois, já que o jovem português caiu no relvado com queixas musculares e Simeone decidiu não arriscar, substituindo-o de imediato por Marcos Llorente. Sem golos, com uma vitória, uma saída precoce e uma jogada à Maradona: a estreia de Félix não foi perfeita nem respondeu ao desafio de Futre mas teve o toque de magia que o Metropolitano esperava.