Ao longo dos anos, desde que Pep Guardiola (em conjunto com muitos milhões) chegou ao Manchester City e tornou o clube no candidato inveterado à conquista da Premier League, muito se tem falado sobre a eventual marginalização da Liga dos Campeões por parte dos citizens. Ainda que na temporada passada tenha chegado aos quartos de final da liga milionária, a verdade é que o clube inglês permitiu uma reviravolta por parte do Tottenham que normalmente não acontece nas competições inglesas. Se, dentro de portas, o Manchester City é implacável e não abre espaço a surpresas na hora das decisões, na Europa as coisas têm sido algo diferentes: o que rapidamente deu origem à ideia de que Guardiola privilegia a Premier League.

Este sábado, na antecâmara da visita ao Dínamo Zagreb para a segunda jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o treinador espanhol tentava contrariar essa teoria e fazia inúmeras poupanças contra o Everton (depois de já as ter feito durante a semana, no jogo para a Taça da Liga). Uma semana depois de golear de forma redundante o Watford, por 8-0, o Manchester City visitava a equipa de Marco Silva sem Bernardo Silva, David Silva ou Sergio Agüero no onze inicial. Entravam Gundogan, Mahrez e Gabriel Jesus para a equipa titular, enquanto que do outro lado os toffees atuavam com Walcott, Sigurdsson, Richarlison e Calvert-Lewin, com Moise Kean e Alex Iwobi a começarem a partida no banco de suplentes. Fabian Delph, que durante o verão trocou o Manchester City pelo Everton, era titular e reencontrava a antiga equipa.

Os primeiros instantes da partida trouxeram desde logo um susto para as bancadas de Goodison Park, para os jogadores em campo e para as equipas técnicas. Walcott foi atingido na cabeça por uma bola cruzada por Sterling e caiu de imediato no chão, com pouca reação. O jogador inglês foi assistido pelos médicos do Everton durante vários minutos mas acabou por sair de maca do relvado, com visíveis dificuldades em movimentar-se, e Marco Silva teve de lançar Iwobi sem estarem ainda cumpridos cinco minutos de jogo. Depois de uma primeira fase em que ambas as equipas pareciam estudar-se mutuamente, Gundogan desperdiçou a primeira oportunidade da partida ao acertar na trave com a baliza aberta (12′) e os toffees responderam com uma boa arrancada de Digne que acabou com um remate rasteiro de Sigurdsson que obrigou Ederson a uma defesa apertada.

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Durante a fase mais agitada do jogo, em que o Manchester City estava a canalizar o ataque principalmente pelo corredor direito, Mahrez arrancou um bom pormenor individual e solicitou De Bruyne, que cruzou à entrada da área para o segundo poste. Gabriel Jesus, com um movimento muito flexível, foi buscar a bola numa fase já descendente e cabeceou para inaugurar o marcador (24′). O avançado brasileiro marcou então o 22.º golo nas últimas 21 vezes que foi titular tanto no clube como na seleção e chegou ao registo impressionante de seis golos nas últimas seis ocasiões em que integrou o onze inicial de Guardiola.

O Everton respondeu de forma imediata, com mais um remate de Sigurdsson para uma boa defesa de Ederson (25′), e era notório que a equipa de Marco Silva não pretendia entregar a partida desde logo. Mesmo mantendo o controlo das ocorrências, a verdade é que o Manchester City estava com algumas dificuldades para manter o Everton afastado da grande área e sofria principalmente com as subidas do lateral Digne, que causava perigo, deixava Richarlison solto em zonas mais interiores e impulsionava Calvert-Lewin. A equipa de Marco Silva acabou por conseguir chegar ao empate antes do intervalo, através de um lance em que o lateral Coleman picou a bola à saída de Ederson e Calvert-Lewin cabeceou já em cima da linha de golo (34′), e a partida foi para o intervalo totalmente em aberto.

Na segunda parte, a ideia de que o Everton tinha conseguido, de alguma forma, perceber qual era a estratégia do Manchester City e de Guardiola para o encontro tornava-se cada vez mais real. O conjunto orientado por Marco Silva mantinha-se subido no terreno, ainda que mais na expectativa do que propriamente a tomar a iniciativa, e conseguia chegar perto da grande área dos citizens com passes a apostar na profundidade e na velocidade de Calvert-Lewin. Do outro lado, e mesmo beneficiando de uma grande exibição de De Bruyne, o Manchester City tinha muitas dificuldades em manter critério e discernimento na transição ofensiva e parecia querer fazer tudo demasiado depressa, sem rendilhar a partida e o jogo da forma que se tornou seu apanágio. A noção de que as coisas não estavam a sair como é costume ficou particularmente visível através de Sterling, que falhou um golo feito na cara de Pickford e desperdiçou uma oportunidade soberana para colocar os citizens a vencer novamente (60′).

Pep Guardiola lançou Agüero e a equipa do treinador espanhol acabou por conseguir chegar ao golo da vitória por intermédio de Mahrez, que bateu Pickford através de um livre direto tombado na direita (70′), e também Sterling, que fechou as contas (84′) e chegou ao golo 100 da conta pessoal no que diz respeito a clubes. Com esta vitória, o Manchester City não deixa que o Liverpool se afaste ainda mais na classificação e vai para Zagreb e para a Liga dos Campeões com Bernardo Silva, David Silva, Agüero e companhia com menos minutos nas pernas. De Bruyne e Mahrez, os dois responsáveis pelo corredor direito dos citizens no jogo deste sábado, foram os melhores em campo e valeram a vitória a Guardiola contra um Everton que poderia ter saído de Goodison Park com pontos.