Se houver um galardão para a campanha com maior diversidade musical, está ganho pela CDU. Já houve ritmos cubanos, cabo-verdianos, cante feminino alentejano e, na noite desta sexta-feira, até um berrante. Não que o artista tenha sido convocado pela campanha da coligação, mas era um comunista que aproveitou o comício em Faro para, através do sopro, mostrar o apoio ao partido.

Jerónimo de Sousa repete várias vezes que é importante impedir que o PS fique de mãos livres para que o país não “ande para trás”, afinal o que é preciso é “avançar” e todos os momentos são bons para lembrá-lo. Através do voto na CDU. E apesar de António Costa dizer que não pede a maioria absoluta, Jerónimo faz outra leitura das palavras do líder do PS. O secretário-geral do PCP acusa os socialistas de “agitarem o espantalho do perigo da instabilidade para reclamar a maioria absoluta sem falar nela”. Mas aquilo que deixaria o país em instabilidade, considerou, seria o regresso às mãos livres do PS quando “a vida dos trabalhadores sofreu mais instabilidade e incerteza”.

Mas Jerónimo tinha alguma coisa a dizer “aos que diziam que o PCP e a CDU só serviam para protestar”. O secretário-geral diz que “esses que antes diziam” que o PCP não contribuía com propostas e projetos “hoje são os mesmos que não perdoam o papel que tiveram na nova fase da política nacional”. Mas ainda há muito a fazer, conforme recordado pelo secretário-geral. E, nesta passagem pelo Algarve, importava também recordar que este pode e deve ser um destino que tenha mais que turismo e que a CDU “é a voz” que pode ajudar a dar voz aos problemas na região. Diz que “se produzem os melhores produtos agrícolas” e elegeu a laranja do Algarve como embaixadora dessa capacidade produtiva.

Por entre as pessoas que passavam no jardim Manuel Bívar havia as que paravam para escutar Jerónimo, os muitos turistas alheados da dinâmica política portuguesa se questionavam sobre o que estava a acontecer e quem lamentasse o fim da atuação do grupo que aqueceu o palco para dar lugar ao líder comunista. Para os que escutavam, Jerónimo foi concreto: é preciso construir um novo hospital central do Algarve, reforçar os cuidados primários e investir na ferrovia, por exemplo. Ao almoço falou do seu homem de contas certas — que o acompanhou no passeio pela Ria Formosa e assistia na primeira fila ao comício — e depois de jantar diz que os números do excedente orçamental apresentados por Centeno “não se deviam celebrar como se de um troféu se tratasse”, mas antes “utilizar esses mesmos recursos onde tanta falta fazem”.

O desinvestimento na linha do Algarve serviu de carril para o assunto que trouxe milhões às ruas hoje em todo o mundo, as alterações climáticas. O PCP vai às urnas coligado com Os Verdes e seria impossível deixar de fora do discurso da noite aquilo que levou tantas pessoas a saírem à rua. A linha do Algarve espera por material circulante e, afirma Jerónimo, isso seria sinónimo de perder para o transporte individual aqueles que “se aproximaram do transporte público”. “A este propósito, queremos aqui deixar uma palavra a todos os jovens que hoje, de forma genuína, saíram à rua em defesa do ambiente, ações nas quais os jovens da juventude CDU participaram sob a consigna capitalismo não é verde”, disse. O secretário-geral do PCP diz que são precisos “atos concretos como a defesa da floresta” e não poupou PSD, CDS e PS a críticas. Acusou o governo anterior de ter tirado 150 milhões de euros à floresta e o PS criticou a atitude do PS que “faz muitos anúncios, mas concretiza muito pouco para manter as tais contas certas”.

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