A grande maioria das 39 pessoas que foram encontradas esta quarta-feira dentro de um contentor de carga num parque industrial de Essex, no Reino Unido, podem ser vietnamitas e não chinesas, como chegou a ser garantido pela polícia e avançado pelos media britânicos.

Quem aponta para a possibilidade de, afinal, aquelas pessoas serem cidadãos do Vietname é um padre católico de Yen Thanh, uma vila situada a 300 quilómetros a Sul da capital, Hanói. O padre, Anthony Dang Huu Nam, está a entrar em contacto com as famílias das vítimas daquela tragédia. A maior parte seria oriunda daquela comunidade rural.

O que já se sabe da tragédia de Essex. Quatro pessoas detidas e as mensagens da jovem vietnamita que pode estar entre as 39 vítimas

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Na noite de sábado, o padre Anthony Dang Huu Nam celebrou uma missa para 500 fiéis e homenagem aos 39 mortos de Essex, informa a Reuters. “Estamos aqui para rezar pela justiça e pela paz e pelas vítimas da sociedade. Rezamos pelas 39 pessoas que perderam as suas vidas a caminho do Reino Unido. São pessoas que partiram do Vietname central, a nossa terra”, disse o padre durante a missa.

Esta sexta-feira, depois de ter sido divulgado pela polícia britânica que as 39 vítimas eram na sua maioria da China, o Ministério dos Negócios Estrangeiros daquele país veio dizer que “ainda não [era] possível confirmar se eram ou não cidadãos chineses”. “Esperamos que os autoridades britânicas confirmem a identidade das vítimas o mais cedo possível, descubram a verdade e punam severamente os criminosos envolvidos no caso”, completou a porta-voz do MNE da China Hua Chunying.

Nove migrantes encontrados vivos em segundo camião em Kent, horas antes dos 39 mortos no camião de Essex

A tese de que a maior parte das vítimas era de nacionalidade vietnamita ganha força à medida que surgem cada vez mais relatos feitos por parte de familiares e amigos que contam detalhes da viagem, que incluiu paragens em França e na Bélgica.

Uma das supostas vítimas — Pham Thi Tra My, uma vietnamita de 26 anos que, por enquanto, é dada apenas como desaparecida —, enviou uma mensagem aos pais supostamente de dentro do contentor. “Desculpa, mãe. O meu caminho para o estrangeiro não correr bem. Mãe, amo-te tanto. Estou a morrer porque não consigo respirar”, escreveu numa mensagem enviada à mãe. A mensagem foi partilhada com a BBC pela mãe e, de acordo com o screenshot que esta enviou àquela cadeia de informação, a SMS foi recebida uma altura em que o camião estaria entre Zebrugge (Bélgica) e Purfleet (Essex, Reino Unido).

Na sequência do desenvolvimento que aponta que, em vez de chineses, os mortos de Essex eram na sua maioria vietnamitas, a embaixada daquele país do sudeste asiático já está a cooperar com as autoridades britânicas para agilizar o processo de identificação das vítimas.

Sufocados em contentores, mortos em camiões: os migrantes que morreram como os 39 de Essex

O caso está a ser investigado pela polícia de Essex, cuja primeira detenção no âmbito deste caso foi a do condutor do camião que transportava o contentor de carga onde morreram aquelas 39 pessoas — trata-se de Mo Robinson, um norte-irlandês de 25 anos. Além dele, foi também detido um casal de 38 anos e de um homem de 48 anos, também da Iralanda do Norte. Este sábado, foi detida ainda uma quinta pessoa no porto de Dublin, descrita pela Sky News como um homem com “pouco mais de 20 anos”. Também este detido é de nacionalidade norte-irlandesa.

Os cinco detidos são suspeitos de tráfico humano e homicídio.

Condutor acusado formalmente com 39 crimes de homicídio involuntário

Mo Robinson, o jovem de 25 anos, natural da Irlanda do Norte, que conduzia o camião onde foram encontrados os 39 migrantes mortos foi acusado formalmente de homicídio involuntário e de conspiração com vista ao tráfico de pessoas, conta o The Guardian citando fontes na polícia de Essex.

Robinson foi imediatamente detido logo na quarta-feira, pouco depois de serem descobertos os corpos dos migrantes num compartimento frigorífico estacionado na zona de Greys, em Essex. Ao que tudo indica, o rapaz terá apanhado o atrelado (que tinha chegado do porto de Zeebrugge a Purfleet) com o seu camião Scania uma hora antes da tenebrosa descoberta.

No total já foram detidas cinco pessoas suspeitas de estar envolvidas neste caso. Uma delas foi um homem de 48 anos, também natural da Irlanda do Norte, que foi intercetado pela polícia na passada sexta-feira, no aeroporto de Stansted — é suspeito de conspiração para tráfico de pessoas e homicídio involuntário, permanecendo, até à altura, detido.

O casal Thomas Maher e a sua mulher Joanna, ambos de 38 anos e residentes em Warrington, também foram detidos e estão a ser investigados pelos mesmos crimes. O quinto detido é um homem e foi apanhado em Dublin.  Sobre este último caso a polícia irlandesa afirmo ter prendido um homem “na casa d0s vinte anos”, também da Irlanda do Norte.