As contas apresentadas pelo Governo no roteiro para a neutralidade carbónica 2050 prevê apresentar “trajetórias alternativas” para quatro componentes setoriais — energia, transportes, resíduos e agricultura, florestas e uso do solo —, as principais responsáveis pelas emissões de gases com efeito de estufa e sequestro de carbono, mas as contas apresentadas pelo Executivo não encontram paralelo nas contas da Galp, avança o Público (link para assinantes).

De acordo com o jornal, a redução do petróleo processado nas refinarias de Sines e Matosinhos (ambas operadas pela Galp) deverá situar-se entre os 64% e os 66% dentro de 20 anos e entre os 87% e 88% em 2050, quando é expectável que o país atinja a neutralidade carbónica, mas a petrolífera que está nas mãos da família Amorim alerta para a necessidade de uma transição “gradual” que seja “economicamente viável e socialmente justa” para que seja garantida “a segurança no abastecimento sem disrupções”.

Neste momento, 40% da energia primária consumida em Portugal depende do petróleo e, em 2018, o gasóleo e gasolina produzidos pela petrolífera representaram mais de 5% das exportações do país. Caso as metas estabelecidas pelo Governo no roteiro sejam atingidas, a viabilidade financeira da indústria refinadora, parte fundamental da economia, pode ficar “comprometida” e a utilização dos equipamentos da petrolífera ficaria “abaixo dos limites mínimos operacionais”, numa situação onde a utilização dos mesmos deixaria de compensar, de acordo com a Galp.

Também o expectável crescimento de consumo, nos próximos 20 anos, de combustível de aeronaves e embarcações internacionais iria sofrer o impacto das medidas previstas no roteiro. Ao diminuir a produção de refinados, aumentando os níveis de consumo, seria necessário recorrer à importação destes, aumentando também a taxa de dependência energética do país.

Contando já com uma biorrefinaria (Enerfuel), em Sines, onde é possível transformar óleos usados e gorduras animais residuais em biodiesel, a petrolífera defende que através da incorporção destes biodiesel no setor rodoviário — e não apenas a utilização de energia elétrica — seria a “a forma menos onerosa e mais imediata” para conseguir reduzir as emissões poluentes.

A Galp defende ainda alternativas à “quase completa eletrificação” dos atuais consumos, com a indústria refinadora a ter a possibilidade de poder desempenhar “um papel central na produção de combustíveis líquidos de carbono”, notando que para estes já existe uma rede de abastecimento o que permitiria reduzir o investimento em infraestruturas novas de transporte e distribuição elétrica.

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