Há dez anos, quando tinha apenas 17 anos, Demi Lovato era uma princesa da Disney em “Sunny Entre Estrelas” e tinha um sonho: “Um dia”, escreveu ela no Twitter, “vou cantar o hino nacional num Super Bowl”: “Uuuum diaaaa”.

O dia chegou este domingo. Dois anos depois de se ter retirado do mundo do espetáculo devido a uma recaída no consumo de drogas e a uma overdose que quase lhe custou a vida, Demi Lovato regressou e em grande. Primeiro, foi a estreia nos Grammy. Depois, foi o sonho tornado realidade ao cantar “The Star-Spangled Banner”, o hino nacional norte-americano, no The Hard Rock Stadium em Miami, na Florida, poucos minutos antes de arrancar o Kansas City Chiefs e os San Francisco 49ers.

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Foi assim:

Colocar Demi Lovato a entoar o hino nacional foi um voto de confiança da organização do evento, o mais esperado e seguido na televisão norte-americana na cantora que tem vivido uma luta constante contra os seus fantasmas. Mas que sempre os assumiu: a infância terrível primeiro, o bullying depois, os problemas com o corpo e acomida a seguir, o álcool e as drogas para terminar.

Em junho de 2018, a cantora de “This Is Me” deu o último concerto antes de ser encontrada inconsciente na sua mansão em Los Angeles por causa de uma overdose com um cocktail de drogas com oxicodona e fentanil, que é duas vezes mais potente que a morfina — a droga que matou Prince em abril de 2016, 75 vezes mais forte que a morfina no pico de atuação.

A Disney, os vícios e o regresso promissor. Terão os duros anos de Demi Lovato chegado ao fim?

Esse último concerto, em 2018, foi em Lisboa, durante o Rock in Rio. Demi Lovato sentou-se ao piano e, em lágrimas, interpretou “Sober”, que havia lançado apenas uma semana antes. Pedindo desculpa à família, aos amigos e aos fãs, cantou: “Momma, I’m so sorry I’m not sober anymore. And daddy, please forgive me for the drinks spilled on the floor. To the ones who never left me we’ve been down this road before. I’m so sorry I’m not sober anymore”, admitindo que tinha quebrado seis anos de sobriedade.

A canção era forte, mas ninguém percebeu que era também um pedido de ajuda ou um grito de alerta. E a overdose não era apenas mais uma que a levaria à reabilitação por onde passara tantas vezes. Quase lhe custou a vida.

Foram precisos dois anos para que Demi Lovato regressasse sóbria novamente. Na última cerimónia dos Grammy, a antiga princesa da Disney protagonizou uma vigorosa atuação com “Anyone”, a nova música da cantora, que também tinha um grito de socorro. Ela contou que a escreveu precisamente quatro dias antes daquele dia da overdose e que lamenta que não se tivesse ouvido a si própria. Estava tudo lá, mas só agora ela o contou ao mundo:: “I used to crave the world’s attention, I think I cried too many times, I just need some more affection, anything to get me by”.

Na madrugada deste domingo, em Miami, foi de branco (como já tinha sido nos Grammys) que Demi Lovato se apresentou renovada ao mundo de novo. Entrou no relvado do Hard Rock Stadium para provar que estava capaz de enfrentar a vida do espetáculo uma vez mais. Assim como arrancou aplausos do público nos Grammy, no Super Bowl as bancadas serviram-lhe de coro. E ela cumpriu um sonho antigo.