O calendário de desfiles da 54ª edição da ModaLisboa arrancou esta sexta-feira ao fim da tarde, com a final do concurso Sangue Novo, nas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército. Cinco jovens designers, selecionados na edição anterior, apresentaram as suas propostas para a próxima estação fria. Inês Manuel Baptista sagrou-se vencedora do prémio da ModaLisboa em associação com a Polimoda.

Aos 34 anos e no seu segundo desfile, a jovem criadora apresentou um trabalho inspirado pelo efeito da solarização no trabalho fotográfico de Man Ray, algo que traduziu em impressões sobre transparências, mas também em peças construídas de forma a simular sobreposições. “A coleção anterior tinha sido desenvolvida ainda no contexto do mestrado, desta vez havia um prémio em jogo e a pressão foi outra. Tentei superar-me a nível de construção das peças e o próprio conceito foi muito mais aprofundado”, explica a designer ao Observador.

Em “3451”, Inês voltou a apostar no reaproveitamento de materiais, em particular de peles, todas elas provenientes de stocks parados de fábricas nacionais. Com o prémio, Inês ganhou um mestrado em Design de Moda (ou em Design de Coleção) na reputada universidade italiana e ainda 3.500 euros. “Ainda não me sinto com maturidade suficiente para estabelecer uma marca. Vou ver o que o futuro me reserva, continuo numa fase exploratória”, conclui.

Cêlá, a vencedora do prémio Feeting Room © Melissa Vieira/Observador

Francisco Pereira, de 22 anos, foi outro dos vencedores da tarde. Ao levar para casa o prémio atribuído pela ModaLisboa em parceria com a Tintex, o designer conseguiu uma residência de três semanas dentro desta unidade têxtil em Vila Nova de Cerveira e ainda uma recompensa monetária no valor de 2.000 euros. Para a passerelle, Francisco levou “Torn Vision”, com as colagens de Emon Toufanian como ponto de partida. Entre impressões, riscas, xadrez e ganga, as peças destacaram-se pela complexidade das construções e assemblagens. “É o que me dá mais gozo e é o meu cartão-de-visita — quero que as minhas peças sejam complexas e que percam tempo a olhar para elas”, refere ao Observador. No próximo ano, o segundo do mestrado, o jovem designer pretende estagiar numa marca, se possível fora do país.

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Mas este primeiro final de tarde de ModaLisboa teve uma terceira vencedora. Cêlá, o projeto de Naomi Marcela, ganhou pela segunda vez consecutiva o prémio atribuído pela Feeting Room. A coleção “Coral” será assim vendida nas concept stores de Lisboa e do Porto. Além dos três premiados, desfilaram ainda as criações de Flávia Brito e Filipe Cerejo.

A organização permanece atenta às recomendações das autoridades de saúde quanto à propagação do novo coronavírus. Realizar os desfiles à porta fechada continua em cima da mesa, no entanto, esta sexta-feira, o evento está a decorrer dentro da normalidade. Nos últimos dias, a ModaLisboa contabilizou cancelamentos de viagens. Chegaram de jornalistas, buyers e manequins, em parte provenientes do norte de Itália. A organização já reforçou a assistência no local com um médico especialista disponível durante todo o evento e admite ainda oscilações no público. Quanto ao impacto de ausências de imprensa nacional, esse está de momento a ser monitorizado.

Ouça a entrevista de Eduarda Abbondanza no “Direto ao Assunto” da última quarta-feira, na Rádio Observador:

Coronavírus. “Tivemos algumas baixas” na Moda Lisboa

United Fashion e a estratégia internacional da ModaLisboa

Mas a agenda começou mais cedo. Na noite de quinta-feira, o edifício dos Paços do Concelho abriu-se à cidade com uma apresentação do programa United Fashion, do qual esta edição da ModaLisboa é o evento anfitrião. No interior, 15 criadores de moda de 7 países europeus (Portugal, França, Bélgica, Países Baixos, Letónia, Macedónia do Norte e Eslovénia) apresentaram coleções para o outono-inverno 2020/21 — pequenas declarações de sustentabilidade e igualdade, possíveis nas mãos de jovens designers. Entre eles, três representaram a criação nacional: Béhen, projeto de Joana Duarte, Opiar, marca desenvolvida por Artur Dias, e Archie Dickens, designer britânico que se fixou em Lisboa para desenvolver a sua própria marca de malhas.

Imagem da apresentação de Béhen © André Cabral

“O projeto United Fashion tem uma lógica de intercâmbio, mas cada um dos países tem um temas definidos e uma das questões que ficou associada a Portugal foi a produção. Todos os outros parceiros têm vontade de vir a Lisboa conhecer criativos, mas também querem vir fazer negócio. A questão da produção é muito aliciante”, explica Joana Jorge, diretora de projeto da ModaLisboa, ao Observador.

Enquanto plataforma de promoção e de desenvolvimento da moda de autor europeia, o United Fashion serviu de pretexto para convidar um grupo de buyers internacionais. Uma comitiva que representa sete lojas e department stores multimarca, entre elas a londrina 50MM, a conhecida Printemps, em Paris, e a portuguesa Farfetch.

Para o primeiro dia de ModaLisboa nas Antigas Oficinas, em Santa Apolónio, então marcados ainda os desfiles de Carolina Machado e Duarte, nomes incluídos na plataforma Lab, e de Valentim Quaresma e Carlos Gil. Na fotogaleria, veja as imagens do desfile de Sangue Novo.