A Suécia pode abandonar em breve a sua abordagem mais relaxada à pandemia da Covid-19, numa altura em que o número de mortes naquele país nórdico já atingiu os 401 e o número de casos confirmados é de 6.830. O primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, tem optado por uma abordagem assente na confiança no sentido cívico dos suecos. Por isso, não adotou até agora medidas semelhantes às tomadas no resto da Europa, permitindo que o comércio continue aberto e não impondo restrições ao movimento nem encerrando as escolas.

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As medidas foram, genericamente, bem recebidas pelos suecos, que voluntariamente têm reduzido as suas saídas de casa. A área urbana da capital, Estocolmo, registou uma redução de 70% do movimento habitual e muitas empresas optaram voluntariamente por colocar os seus funcionários em teletrabalho. Porém, o país regista uma taxa de mortalidade bastante superior à dos vizinhos nórdicos, com 40 mortes por milhão de habitantes, acima da Dinamarca (31), Noruega (13) e Finlândia (5).

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De acordo com a imprensa sueca, o executivo liderado por Löfven colocou agora em cima da mesa uma proposta de lei para poder passar a governar por decreto durante o período da pandemia, podendo aprovar medidas sem a aprovação do parlamento. O objetivo será ter mais poderes para conter a disseminação do vírus tomando medidas com efeito imediato, incluindo o encerramento de lojas, restaurantes, sistemas de transporte e aeroportos — numa altura em que o comportamento cívico voluntário dos suecos parece não estar a ser suficiente para impedir a evolução do surto.

O governo sueco tem vindo a dar sinais de que reconhece que meras recomendações não chegam. Na última quarta-feira, emitiu apelos mais fortes, pedindo a todos os cidadãos que reduzissem ao mínimo os contactos sociais e que mantivessem uma distância de segurança de todas as pessoas com quem tivessem de contactar. As recomendações foram especialmente destinadas aos idosos acima dos 70 anos. Além disso, numa conferência de imprensa com jornalistas internacionais, a ministra da Saúde, a vice-primeira-ministra e a ministra dos Negócios Estrangeiros admitiram que o país está preparado para adotar medidas mais restritivas se tal fosse necessário.

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O plano do executivo para governar por decreto foi, contudo, rejeitado pela oposição. Assim, o governo de Löfven precisará da aprovação do parlamento para tomar as medidas que entender serem necessárias para conter o vírus. Entre as medidas que admite tomar em breve, encontra-se a limitação de ajuntamentos públicos, o encerramento do comércio, do transporte aéreo ou a requisição de equipamento médico ao setor privado.

Na final de março, um conjunto de cerca de 2.300 académicos, incluindo especialistas em infecciologia e outros médicos, assinaram uma carta aberta ao governo sueco em que exigiam a adoção de medidas mais restritivas de forma imediata, seguindo o exemplo da vizinha Dinamarca, que fechou as fronteiras. Até agora, as únicas medidas restritivas adotadas pelo país foram a proibição de ajuntamentos com mais de 50 pessoas e a transição para as aulas à distância no ensino superior.