O Ministério da Saúde não paga “nada desde janeiro” às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), aumentando, assim, a dívida do Estado para com estas entidades, disse o presidente do PSD. Rui Rio esteve esta segunda-feira reunido com os líderes da União das Misericórdias e da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) e com o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto.

À saída do encontro, Rio afirmou que ficou “admirado” com o facto de as IPSS receberem pela Segurança Social “aquilo a que têm direito”, mas, quanto ao que têm a receber do Ministério da Saúde, “o Governo não tem pago nada desde janeiro”.

O PSD fez uma proposta para que pagassem tudo o que devem, mas estava a milhas de imaginar que não pagaram nada desde janeiro. Em particular quando agora, todas estas instituições têm tido um trabalho ainda mais importante do que é o trabalho que já fazem todos os dias”, frisou o líder social-democrata.

Rui Rio admitiu que “uma instituição ou outra” pode ter recebido mas insistiu que existe uma falha generalizada por parte do Ministério da Saúde. Questionado pelos jornalistas sobre o montante da dívida, Rio disse não ter números concretos. Que constrangimentos está a situação a causar? “Ou cada uma das instituições tem fôlego financeiro para pagar aos seus fornecedores, ou então são os seus fornecedores que não recebem de quem lhes deve, neste caso é o Estado”. E adiantou que “devem ser muito poucas” as instituições que “têm fôlego financeiro para aguentar sem receber“.

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O Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que reuniu com Rui Rio, afirmou, à Rádio Observador, que a instituição tem “muitas contas a acertar com o Ministério da Saúde”, mas não adianta que valores estão em causa. António Tavares diz que pediu, há dois meses, à ministra da Saúde para que regularize as dívidas, mas não obteve resposta. Se as “instituições mais fortes vão sobrevivendo”, as mais pequenas atravessam maiores dificuldades.

Santa Casa da Misericórdia do Porto quer “acertar contas” com o Governo

“Em junho, julho, vamos ter problemas de ordem social muito grande”

Questionado sobre uma proposta que o PSD vai apresentar para a retoma da economia, Rui Rio diz que a mesma deverá ser apresentada “no final de maio, princípio de junho”. O programa “faz-se melhor se demorar mais e não é problemático que demore mais porque precisamos de um quadro base para as soluções. À medida que o tempo avança, até ao fim do mês, teremos melhor noção da queda do produto [PIB], dos setores que caíram mais, para desenhar melhor as respostas.” Além desse programa, o PSD vai apresentar outro, “de resposta às questões sociais”, que estão “a vir em crescendo”.

“Mesmo com a economia já a funcionar bastante melhor, em junho, julho, vamos ter problemas de ordem social muito grande”: desde carência alimentar, de acesso ao emprego, à área da formação profissional e na habitação — “é previsível que diversas famílias não irão conseguir pagar as suas rendas porque estão no desemprego”, defendeu. “É inevitável que muitos vão ficar no desemprego algum tempo, até a economia se articular novamente”.

Rui Rio criticou ainda a forma como o Governo tem lidado com os surtos em lares, que não foram defendidos da “melhor maneira”. “Se o Serviço Nacional de Saúde tivesse capacidade de responder melhor, e nós conseguíssemos proteger os lares, a doença passava ao lado, não havia grandes problemas e a economia não tinha de parar como parou. Não se defendeu os lares da melhor maneira“, sublinhou. O presidente do PSD considera ainda que “é preciso pensar” na possibilidade de os lares receberem visitas, o que tem de ser feito de forma “muito cuidadosa” e “gradual”. “É verdade que os idosos que estão nos lares já estão há muito tempo sem visitas, mas por outro lado o vírus ainda está presente”, disse.

Dia do Trabalhador e 13 de maio: “A Igreja Católica tem mais juízo do que a CGTP”

As celebrações do 13 de maio, no Santuário de Fátima, serão feitas à porta fechada, o que, para Rui Rio, mostra que “a Igreja Católica tem mais juízo do que a CGTP“, a intersindical que organizou o 1.º de maio, na rua. “Não é por os outros [CGTP] terem feito mal que vão fazer mal e, portanto, estão a organizar de forma equilibrada e sensata face à situação que vivemos.”

Do vermelho da CGTP ao verde da relva em 45 minutos. O 1.º de maio em modo acelerado

Rui Rio já tinha criticado a organização pela CGTP do 1.º de maio, com cerca de mil pessoas, na Alameda, em Lisboa. No Twitter, o presidente social-democrata disse que é “inaceitável” festejar a data na rua “em pleno Estado de Emergência”, mas “trazê-los de camioneta, quando hoje [1 de maio] é proibido circular entre concelhos, é uma pouca vergonha”.

Esta segunda-feira, questionado sobre o tema, Rio voltou a defender que “o que é mais escandaloso são as camionetas que vieram de outros concelhos para transportar pessoas”.