Não fosse a pandemia e António Costa tinha selado o anúncio oficial da saída de Mário Centeno da pasta das Finanças com “o abraço que [me] apetecia”. Foi o próprio que o disse, depois de ter elogiado a “dedicação”, a “capacidade de trabalho” e o “excelente espírito de equipa” ao agora ministro demissionário. Depois, virando-se para o sucessor de Centeno, João Leão (ainda secretário de Estado do Orçamento), assegura que é quem “maiores garantias dá de continuidade da nossa política orçamental“.

A vida é feita de ciclos e quero aqui expressar publicamente que compreendo e respeito que o Dr. Mário Centeno queira abrir um novo ciclo na sua vida. Este foi um longo ciclo. Pela segunda vez em 46 anos da nossa democracia, um ministro das Finanças cumpriu integralmente uma legislatura de quatro anos e, pela primeira vez na democracia, ainda preparou o início da outra legislatura e assegurou a aprovação do primeiro orçamento dessa legislatura, e a preparação do primeiro e único orçamento suplementar do conjunto destes anos”, salientou o primeiro-ministro.

Costa agradeceu “profundamente a dedicação” mostrada por Mário Centeno “ao longo destes quase seis anos de trabalho em conjunto que se iniciou com a elaboração do cenário macroeconómico ainda na oposição, e que se encerra hoje com a aprovação no Conselho de ministros deste orçamento suplementar”.

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O primeiro-ministro frisou ainda a “extraordinária capacidade de trabalho” e o “excelente espírito de equipa”, assim como a “constante preocupação de assegurar equidade nas decisões e o princípio humanista”. “Infelizmente a Covid não permite dar o abraço que me apetecia dar a Mário Centeno”.

Depois, virando-se para João Leão, agradeceu-lhe ter aceitado o convite para “dar continuidade ao trabalho” também iniciado “aquando da constituição do grupo que iniciou o cenário macroeconómico ainda no tempo da oposição”, e que prosseguiu “durante estes cinco anos em que tem sido responsável pela política orçamental dos dois governos”.

É com muito gosto que agora iremos prosseguir de uma forma com maior proximidade, mais direta, sem a intermediação do Mário Centeno”, referiu ainda o primeiro-ministro. “É muito importante podermos contar com uma das pessoas que maiores garantias dá de continuidade da nossa política orçamental”.

Neste momento de estabilização da situação económica e de recuperação “é muito importante encontrar a pessoa que mais garantia dá de continuidade orçamental“. João Leão é “um profundo conhecedor da economia portuguesa e o primeiro ministro garante uma “tranquila passagem de testemunho a continuidade da nossa política”, defendeu também Costa, garantindo que o Ministério das Finanças “continua em boas mãos”.

João Leão vai tomar posse como ministro de Estado e das Finanças na segunda-feira de manhã

O primeiro-ministro remeteu para João Leão a responsabilidade de formar nova equipa. Com a saída de Centeno caem todos os secretários de Estado. Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças e número dois de Centeno, e Álvaro Novo, secretário de estado do Tesouro, deverão sair.

Já depois, nas redes sociais, Costa acabaria por agradecer novamente a Mário Centeno pela “excelência do seu trabalho”. E acrescentou algumas palavras mais difíceis de enquadrar na sequência de incidentes e controvérsias que rodearam a relação do primeiro-ministro com o ministro das Finanças: “Testemunhámos o seu espírito de equipa”.

Centeno despede-se, contando os 1.664 dias que foi ministro, e sem revelar o que vai fazer

Mário Centeno deixou sem resposta todas as perguntas sobre o que irá fazer a seguir. “É o fim de um ciclo longo com 1.664 dias como ministro”, dos quais de mais 900 dias que acumulou com a presidência do Eurogrupo. “Os números fizeram parte do trajeto, sempre estiveram certos e quero deixar um testemunho da certeza de que vão continuar a estar certos”, com João Leão que é um um “fator de continuidade”.

Centeno aproveitou “para sinalizar o que representa a minha presença, do primeiro-ministro e o ainda secretário de Estado”. Destacou a “enorme honra que foi responder a todos os desafios que trilhámos em conjunto desde o cenário económico que foi a base do programa do anterior Governo até toda a trajetória de recuperação da credibilidade da economia portuguesa, marcada pela liderança do Eurogrupo”.

E respondendo a António Costa, Mário Centeno diz ainda que “o abraço fica para uma altura mais sanitariamente conveniente. O Governo tem uma liderança e coesão que se reflete nos resultados. ”

“É preciso conseguir o equilíbrio entre o crescimento da economia e do emprego e as contas certas”, diz João Leão

Foi António Costa quem deu a palavra a João Leão, o sucessor de Mário Centeno. O homem indigitado para ministro das Finanças agradeceu o convite. “É uma honra servir o meu país, especialmente uma fase tão exigente”.

“Ao longo dos últimos cinco anos trabalhei ao lado de Mário Centeno, como o seu secretário de Estado do Orçamento”, recordou João Leão. “Juntos preparámos e executamos cinco Orçamentos de Estado, um trabalho muito intenso para atingir o primeiro excedente orçamental em democracia, num contexto de convergência com a União Europeia”, salientou.

Para João Leão, estes orçamentos anteriores serviram para construir “bases financeiras sólidas, para que o país possa enfrentar nas melhores condições em crise criada pela pandemia”. E reafirmou a necessidade de políticas “de contas certas”. “É preciso conseguir o equilíbrio entre o crescimento da economia e do emprego e das contas certas, pelo outro lado”, disse.

“Trata-se de uma crise profunda e súbita e temos de responder com políticas capazes de enfrentar o desafio. Importa concentrar os esforços em políticas de estabilização e apoio ao emprego, às empresas e às famílias, para que possam manter os seus rendimentos”, sublinhou.