Não há nada melhor do que começar com uma confissão: não gosto de jogos de terror. Têm demasiados cenários com pouca luz só para assustar o jogador e isso não é confortável. Porém, ao jogar “Last of Us Parte II” percebi que estes detalhes podem, de facto, contribuir para que uma história seja boa. Aliás, são fundamentais para que uma história me leve a ficar preso à cadeira. Melhor ainda: fazem com que até os mais medricas (como eu) continuem a jogar noite dentro, sem a luz do dia para atenuar o medo.

Last of Us Parte II

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Plataformas: Playstation 4

A favor:

  • Gráficos
  • História
  • Jogabilidade

Contra:

  • Níveis podem tornar-se cansativos
  • História demora a desenrolar-se

Para quem é este jogo?

Para os que jogaram o primeiro “Last of Us” e querem mais (quem ficou satisfeito com o final fique por aí); para quem gosta de jogos de terror; para quem não se importa de se assustar por uma boa história; para quem é paciente.

Para quem não é este jogo?

Para crianças; para quem não gosta nada de um jogo tenso e quer uma experiência de jogo relaxada; para quem não gosta de esperar para descobrir o que está a acontecer.

É impossível fazer a devida análise à sequela de “Last of Us” sem revelar detalhes da história. Calma, não há motivo para preocupação, não vou deixar aqui spoilers. É que encarnar a pele de Ellie, a adolescente imune ao vírus cordycep que transforma os humanos em zombies, é uma experiência que mostra o potencial criativo dos videojogos. E para a explicar a quem não a conhece é precisar reveler pelo menos alguns detalhes.

Ellie, agora quatro anos mais velha, é a mesma com quem os jogadores atravessaram um mundo pós-apocalíptico em 2013 depois uma pandemia que deixaria a Covid-19 encostada a um canto. Não é preciso saber muito da história da primeira parte — apesar de valer a pena experimentá-la – para experienciar este jogo ao máximo. Logo no início, “Last of Us Parte II” encarrega-se de pôr o jogador a par do mais importante.

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Desta vez, Joel, o homem que no primeiro jogo controlávamos e que tinha como missão levar a Ellie a um laboratório para ser criada uma vacina para a doença, passa a papel secundário. Esta aventura começa e Ellie e Joel estão em Jackson, uma cidade rural sem vestígio da pandemia. Contudo, as suas decisões levam-na a ter de voltar a enfrentar o mundo apocalíptico com humanos divididos em fações e muitos infetados a ameaçar os que sobreviveram.

[O trailer em português de “The Last of Us Parte II”:]

Cada nível, ou missão, consiste em ir do ponto A ao ponto B com muita coisa para explorar pelo meio, resolvendo puzzles para conseguirmos chegar — seja a andar, a correr ou a trepar — até onde é suposto. Um dos melhores pormenores está nas pistas e notas deixadas nos cenários, normalmente destruídos. Como no primeiro jogo, as notas são por vezes também janelas que contam o que ali aconteceu, através das memórias de quem passou antes ou depois da queda da sociedade por causa do vírus.

Por vezes, senti que a cadência da narrativa demorou demasiado a dar mais pormenores, com missões que tinham zombies, ou pior, humanos a mais do que seria desejável, tornando alguns níveis cansativos e não desafiantes. Apesar disso, consegui perder-me pelos gráficos e pelos deliciosos detalhes dos cenários, que puxam ao máximo pelas capacidades técnicas da consola que utilizei, uma PS4 Pro. Também por isso, perdoo o tempo a mais que tive de jogar para descobrir qual o destino de Ellie.

Os gráficos e a jogabilidade estão entre os pontos altos deste jogo. Querem mais uma confissão? É mesmo muito difícil arranjar defeitos, até para para quem gosta de os encontrar. Mas não é só a técnica que encanta neste “Last of Us Parte II”. A Naughty Dog, que edita o jogo, voltou a criar uma história que prende como uma história deve prender. Seja pela relação de Ellie com Joel, seja pelo destaque que dá a quem não costuma ser tão representado nos videojogos. Além disso, esta é uma narrativa que sabe assustar quando é para assustar. E melhor, sabe quando não o deve fazer.

Atenção, que fique esclarecido que este não é um daqueles jogos relaxantes estilo Animal Crossing em que tudo é bonito. Nada disso. Esta é uma experiência que remói a alma com as decisões que temos de tomar – é verdade, caso tenham lido na internet, ao jogar tive também de matar alguns animais de forma demasiado visual, entre outras peripécias menos agradáveis. Faz parte, fica o aviso. É assim que este jogo também quer incomodar. É por ser arrojado, e tocar em temas como a vingança e a maldade, que esta história pode não cativar e sim perturbar. Fica o aviso, quem gostou do final do primeiro jogo pode ficar dececionado com o rumo deste a partir de meio da história.

Por fim, mais um elogio. Há N opções de configuração que têm de ser escolhidas antes de começarmos a jogar. Não falo só de mais ou menos brilho no ecrã: vai das funções de cada botão no comando às opções dadas a quem tem algum tipo de deficiência. Há até a hipótese de dobragem em português para quem não for fã de legendas — não é coisa que tenha apreciado neste jogo, mas cada um tem o seu gosto.

Esta sequela de “Last of Us” é muito mais do que um jogo de zombies. Atenção: tem muitos inimigos e oferece várias hipóteses e armas para os eliminar. Mas este é apenas um detalhe, integrado numa narrativa que quer incomodar o jogador e merece (muito, mesmo muito) ser jogada — mas não por todos os corações.