O funeral do arquiteto e pintor João de Almeida, que morreu na segunda-feira, aos 92 anos, vai realizar-se na quarta-feira, no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, disse esta terça-feira à agência Lusa fonte próxima da família.

Morreu o arquiteto João de Almeida, fundador do Movimento de Renovação da Arte Religiosa

Fonte da Fundação Medeiros e Almeida, onde o arquiteto era administrador, indicou que não haverá velório devido às restrições sanitárias para conter a pandemia Covid-19.

O corpo do arquiteto irá diretamente do Hospital de São Francisco Xavier para o cemitério, onde, às 17h será realizada uma pequena cerimónia religiosa, restrita, seguida de cremação.

João de Almeida tinha sido internado na madrugada de domingo, no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, onde veio a morrer devido a várias complicações de saúde.

Num comunicado enviado à Lusa, a Sociedade Nacional de Belas Artes lamentou a morte do arquiteto, destacando a sua dedicação ao desenho e à pintura nas últimas décadas.

Nascido em Lisboa, João Paiva Raposo de Almeida dedicou a vida sobretudo à arquitetura e também à pintura, e foi um dos fundadores, com os arquitetos Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira, entre outros, do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR), ativo nos anos 1950 e 1960, que marcou a arquitetura e as artes em Portugal.

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João de Almeida foi ordenado padre no Seminário dos Olivais, mas essa vocação foi preterida a favor da arquitetura e da pintura que estudou depois na Escola de Belas Artes de Lisboa e na Escola do Porto. Fez também estágios nestas áreas, na Suíça, Alemanha e Barcelona.

Ainda estudante, esteve ligado ao MRAR, em cuja fundação participou, conjuntamente com Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas e outros criadores, e a sua tese de arquitetura foi o projeto da Igreja Paroquial de Paço de Arcos.

Também é da sua autoria o projeto da Igreja de Moscavide, com uma fachada cerâmica de Cargaleiro, peças escultóricas de Lagoa Henriques, e pictóricas de José Escada.

Ao longo de décadas, foi coautor de numerosos projetos no âmbito da sua sociedade de arquitetos, assinando, entre outros, o da renovação do Museu Nacional de Arte Antiga, e o de um condomínio privado no Centro Histórico de Lisboa, na zona da Academia das Ciências, a que em 1990 foi atribuído o Prémio Valmor.

Também assinou a reabilitação e reconversão do Convento das Bernardas, em Lisboa, e a renovação parcial dos Paços do Concelho de Lisboa, após o incêndio de 1995, projeto que teve a colaboração, no campo das artes plásticas, do pintor Jorge Martins.

Para a Expo’98, foi coautor do projeto do edifício administrativo, galardoado com uma menção honrosa do Prémio Valmor.

Na Fundação Medeiros e Almeida – criada em 1973 pelo empresário António de Medeiros e Almeida, seu tio, com o objetivo de conservar e expor ao público as coleções de arte que detinha – João de Almeida exerceu os cargos de administrador e de consultor museográfico.

Ao seu gabinete de arquitetura se deve a montagem de algumas exposições que marcaram o circuito português, como a dedicada à pintura de Josefa de Óbidos, na Galeria D. Luís, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, em 1991, “Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco”; a mostra “No Tempo das Feitorias: A arte portuguesa na e´poca dos Descobrimentos”, no Museu Nacional de Arte Antiga, em 1992; e o “Triunfo do Barroco”, que abriu o Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém, em 1993, depois de ter estado na Europália, em Bruxelas, em 1991, e que seguiria para a National Gallery of Art, em Washington, no final daquele ano.

Na década de 1990, expôs na Galeria Antiks Design, em Lisboa, na Biblioteca Municipal de Ponte de Sor, na ZI-ZI Gallery, Mayfair, em Londres, e na New Age Gallery, em Pequim.