A confirmação oficial chegou apenas no início de julho, com o Benfica a anunciar a CMVM em comunicado que a oferta de 126 milhões de euros do Atl. Madrid para contratar João Félix tinha sido aceite. O anúncio do negócio tinha sido feito uma semana antes, com os colcheneros a darem o negócio como certo e os encarnados, com essa necessidade de dizer algo tratando-se de uma sociedade cotada em Bolsa, a esclarecer que estava a avaliar aquilo que estava em cima da mesa. O “sim” do jogador, esse, chegou antes. Faz agora um ano.

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A história teve vários capítulos, alguns deles apenas conhecidos depois de se ter chegado ao capítulo final de uma transferência histórica. Exemplos: a vontade que o Benfica ainda teve em renovar contrato com o avançado para passar a ser o maior ordenado do plantel ao mesmo tempo que aumentava a cláusula de rescisão; a abordagem do Manchester City em abril por Txiki Begiristain, diretor desportivo que esteve na Luz na eliminatória da Liga Europa com o Eintracht Frankfurt e que, convencido por essa exibição onde apontou o único hat-trick, colocou em cima da mesa a possibilidade de pagar 100 milhões de euros com um ano de empréstimo; a conversa entre Miguel Ángel Gil Marín, diretor executivo do Atl. Madrid, e Luís Filipe Vieira no hotel Villa Magna, por altura da final da Champions. O que parecia impossível era uma realidade inevitável – a maior transferência de sempre não só de um clube português mas também a envolver um jogador português (acima de Ronaldo) estava por um fio.

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A conversa que João Félix teve com Diego Simeone também terá sido importante para o jogador aceitar mudar-se para a capital espanhola mas tudo esteve sempre preparado desde início para poder colocar o avançado quase numa redoma para ter o espaço necessário ao crescimento a fazer perante uma nova realidade. Da apresentação sem adeptos à presença de grandes figuras do passado como o português Paulo Futre, nada foi deixado ao acaso num projeto bem maior do que um jogador e que se explicava com uma só ideia: mais do que tratar-se de uma das maiores transferências de sempre, o Atl. Madrid tentava assegurar no jovem uma peça fulcral para planear um futuro a médio e longo prazo, que precisaria de tempo e proteção para que os 126 milhões representassem sempre um investimento e não um custo. Como seria de esperar, nem tudo foram facilidades. Longe disso.

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Entre uma entorse no tornozelo que fez com que perdesse seis jogos (quatro da Liga, dois da Champions) e alguns problemas musculares que lhe retiraram mais quatro partidas (três da Liga, uma da Champions), além da lesão no ligamento do joelho ainda nos treinos antes da retoma que acabou por impedir apenas que não estivesse na estreia pós-pandemia e por precaução, João Félix leva um total de 30 encontros oficiais na presente temporada, tendo sido titular nos dois últimos onde marcou mesmo o primeiro bis em Espanha frente ao Osasuna. Comparando com o que fez na pré-época pode saber a pouco, percebendo que se trata de um primeiro ano numa realidade diferente pode cumprir ou superar as expetativas. Certo é que, de acordo com uma fonte do próprio clube citada pelos jornais desportivos espanhóis, houve um clube inglês que ofereceu 150 milhões antes da pandemia pelo jogador.

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A proposta, feita através de um intermediário, visava contar com o internacional português já a partir da época de 2020/21 mas foi rejeitada por três grandes motivos: trata-se de uma contratação estratégica e o jogador é visto em termos internos como alguém que pode marcar uma era; não existe necessidade de vender jogadores pelos bons resultados que têm sido obtidos; não faria sentido vender depois de terem ganho a corrida a outros clubes de igual nomeada. João Félix ficou em Madrid, João Félix ficará em Madrid. “É um jogador diferente, como já demos conta nos treinos e nos jogos que vimos dele. De certeza que irá continuar a evoluir depois de crescer e estar mais tempo em situações decisivas para a equipa. Tem tudo o que é preciso para assistir ou decidir um jogo”, destacou Diego Simeone, técnico dos colchoneros, na conferência de lançamento da partida com o Levante.

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Hoje, dentro da rotatividade necessária face ao calendário exigente que culminará com a Final Eight da Liga dos Campeões em Lisboa, João Félix começou no banco, entrando Yannick Carrasco para fazer dupla com Diego Costa. No entanto, o Atl. Madrid manteve as indicações deixadas nos últimos encontros, que terminaram com triunfos sem sofrer golos: muitas poucas oportunidades concedidas, um ataque móvel capaz de criar perigo com facilidade, um meio-campo com muita capacidade de chegar à área com outros jogadores que marcarão também os próximos tempos da formação de Madrid como Saúl Ñíguez, Thomas Partey ou Marcos Llorente, o herói de Anfield que foi o melhor em campo com uma exibição de encher o olho sobretudo na primeira parte. No final, o triunfo por 1-0 permitiu não só ascender ao terceiro lugar, ultrapassando o Sevilha, como manter a segunda melhor defesa.

A primeira parte do jogo teve sentido único para a baliza do Levante, com as duas primeiras ameaças a surgirem por Carrasco e Koke ainda nos dez minutos iniciais. Os visitados não conseguiam passar do meio-campo até ao último terço e seria o Atl. Madrid, de forma natural, a inaugurar o marcador no primeiro quarto de hora, com Bruno González a desviar para a própria baliza um cruzamento rasteiro na área de Marcos Llorente depois de um grande passe do lateral Arias (15′). Apesar da vantagem, os colchoneros mantiveram a pressão ofensiva, viram o inevitável Diego Costa ameaçar também o golo e o intervalo chegou depois de Marcos Llorente ter falhado por pouco um chapéu e Carrasco a ver Aitor Fernández desviar para canto um remate de meia distância.

O Atl. Madrid dava mais uma lição em 45 minutos de como ter posse nem sempre significa ser melhor, num jogo onde os 50% de bola do Levante não resultaram em qualquer remate à baliza de Oblak enquanto os visitantes iam criando várias oportunidades para terem um avanço mais confortável. E a segunda parte começou da mesma forma, com Thomas Partey a chegar mesmo a marcar um grande golo que foi anulado por posição irregular de Diego Costa no início da jogada. Depois, e perante alguma quebra de intensidade, Simeone mexeu na equipa e lançou em campo José Giménez, Correa e João Félix para voltar a recuperar o controlo do encontro. Não conseguiu esse objetivo por completo, face à melhoria do Levante que arriscou partindo mais o jogo (e lançando Hernâni numa equipa que já tinha outro português titular, Rúben Vezo), mas criou oportunidades para marcar, com o português a ver Fernández negar o golo antes de nova chance por cima da trave.