A crise vai levar a “uma deterioração significativa das finanças públicas de Portugal, com o défice a atingir os 9,2% do PIB este ano, acredita a Moody’s, que divulgou uma nota sobre o país esta quarta-feira.

E em 2021, apesar das melhorias — “à medida que a atividade económica recupera e que os efeitos das medidas orçamentais pontuais desaparecem gradualmente” — as contas deverão continuar bem no vermelho, ficando nos 4,8%, segundo a agência de rating norte-americana. “As futuras consolidações orçamentais vão tornar-se mais complexas”, avisa.

O impacto nas contas decorre das medidas orçamentais tomadas pelo Governo em resposta à pandemia e da atividade económica mais lenta. Apesar de esperar que o país recupere parte da riqueza produzida no segundo semestre do ano, a Moody’s espera que o PIB real de Portugal caia 9,5% em 2020 — desempenho que, a concretizar-se, estará “entre os mais graves da área do euro“.

Esta previsão está em linha com as da Comissão Europeia — que é ligeiramente mais pessimista (-9,8%) — e fica bem acima das previsões do Governo, que ainda mantém a perspetiva de recessão de 6,9% anunciada no início de junho

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Tal como noutros momentos na última década, a Moody’s entende que “o principal desafio de crédito de Portugal é o alto endividamento, que limita a capacidade do país para absorver choques futuros“. E avisa que será importante verificar até que ponto o Governo será capaz “de gerir as crescentes pressões de gastos após o surto de coronavírus e ainda reduzir a dívida“.

Apesar das atuais circunstâncias, não está fora de hipótese uma eventual subida na classificação que atribui à dívida portuguesa quando a pandemia passar. “O rating de Portugal poderá subir se a Moody’s concluir que, após o choque pandémico, o governo continuará a impulsionar a consolidação orçamental e o desempenho do crescimento necessários para alcançar um declínio significativo e sustentado no peso da dívida nos próximos anos”.

Para já, o perfil de crédito de Portugal — que merece a nota Baa3, com perspetiva positiva — “reflete a riqueza relativa, a diversificação da economia e as mudanças macroeconómicas estruturais que o país fez desde a crise da dívida soberana da área do euro”, bem como “a estrutura institucional que tem sido fundamental para facilitar mudanças positivas no crédito, como as do modelo de crescimento do país, das finanças públicas e do sistema bancário.

Mas a Moody’s também avisa que “a perspectiva e, em última análise, o rating, poderiam sofrer uma pressão descendente se houvesse indícios de que o compromisso do governo para com a consolidação orçamental e a redução da dívida estivessem a diminuir”.