Morreu com 78 anos o cantor, músico, compositor e percussionista Balla Sidibé, que foi também um dos membros fundadores da histórica e marcante Orchestra Baobab, uma das formações mais importantes da música africana nas últimas décadas.

A notícia foi confirmada oficialmente pela editora discográfica britânica World Circuit, especializada em world-music e que lançou os discos mais recentes da Orchestra Baobab. “Balla era um gigante da música africana e um grande e gentil homem”, lê-se num texto publicado pela conta oficial da editora na rede social Instagram.

Lamentamos muito anunciar que Balla Sidibé, membro fundador, vocalista principal, percussionista e compositor da poderosa Orchestra Baobab morreu esta manhã. Ainda ontem estava a ensaiar e a trabalhar em material novo com o grupo. Era um gigante da música africana e um grande e gentil homem. Os nossos pensamentos estão com a sua família, amigos e companheiros musicais”, lê-se ainda.

O cantor e músico morreu no Dakar e após um “período curto de doença”, de acordo com a imprensa local, citada pela estação Al Jazeera. A associação musical do Senegal, também citada pela Al Jazeera, diz que Sidibé morreu durante o sono e lamenta a perda “de um pai, um sábio e um amigo”.

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De acordo com a publicação musical Pitchfork, Sidibé, nascido em 1942, abandonou uma carreira nas forças policiais para começar a trabalhar na região de Casamance, no Senegal, com um grupo de instrumentistas e cantores locais. Foi daí que nasceu a Orquestra Baobab, fundada em 1970 por Sidibé,  Baro N’Diaye, Rudy Gomis, Barthélémy Attisso e Laye M’Boup, com formação variável ao longo dos muitos anos que se seguiram mas misturando influências da música pop e afro-latina com ritmos dançantes tradicionais da África ocidental, entre outras estéticas.

Photo of ORCHESTRA BAOBAB

@ Lex van Rossen/MAI/Redferns

Ao todo, a formação que Balla Sidibé chegou a liderar gravou perto de 20 álbuns e centenas de canções. O grupo, depois de um período de grande notoriedade ao longo da década de 1970, separou-se em 1987.

No final da década de 80 e durante os anos 90, numa altura em que a “música do mundo” ganhou reconhecimento numa indústria musical previamente muito centrada na música europeia e norte-americana, o legado deixado pelo grupo foi recuperado e difundido na Europa sobretudo (embora não só) através da editora britânica World Circuit, que reeditou vários discos e sessões de gravação desta formação senegalesa.

A recuperação e difusão (através de reedições) da música do grupo no continente europeu, intensificada nos anos 1990, motivou o regresso à atividade do grupo, que ressurgiu em 2001 para gravações e concertos em todo o mundo. Desde aí foram editados os discos Specialist in All Styles (2002), Made in Dakar (2007, World Circuit WCD 078) e Tribute to Ndiouga Dieng (2017, World Circuit WCD 092).

Este tem sido um ano de perdas importantes na história da música do continente africano: em 2020 e antes de Balla Sidibé, já tinham morrido outras figuras fulcrais da criação musical de países africanos, como o guineense — mas com ascendência e forte ligação ao Mali — Mory Kanté e a lenda do afrobeat nigeriano Tony Allen.