O Presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, substituiu esta quinta-feira o primeiro-ministro, um dia depois da entrega à justiça de um relatório de uma comissão parlamentar sobre a gestão do seu antecessor, Mohammed Ould Abdelaziz.

Ould Ghazouani, no poder desde agosto de 2019, “recebeu esta manhã [o primeiro-ministro], Ismail Cheikh Sidiya, que apresentou a renúncia do seu governo”, informou a Agência Mauritana de Informação (AMI).

Antes de ser nomeado primeiro-ministro, também em agosto de 2019, Sidiya foi, entre 2009 e 2014, ministro da Habitação e Emprego, sob a Presidência de Mohammed Ould Abdelaziz, tendo sido também presidente da zona franca de Nouadhibou, no noroeste do país, e membro da União para a República (UPR), partido fundado pelo ex-Presidente Abdelaziz e assumido por Ould Ghazouani.

O chefe de Estado nomeou Mohamed Ould Bilal para suceder a Cheikh Sidiya, disse à AFP uma fonte oficial da Presidência mauritana, sem explicar as razões da substituição.

Até agora conselheiro do gabinete do primeiro-ministro, Ould Bilal foi ministro várias vezes durante o mandato do ex-presidente civil Sidi Ould Cheikh Abdallahi, deposto em 2008 por um golpe liderado por Ould Abdelaziz.

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As mudanças surgem no dia seguinte ao envio para a justiça de um relatório de uma comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão do ex-Presidente Ould Abdelaziz.

Entre esses documentos estão a gestão das receitas do petróleo, a venda de propriedades do Estado em Nouakchott, a liquidação de uma empresa pública que garantiu o fornecimento de alimentos ao país e as atividades de uma sociedade chinesa de pesca, Pully Hong Dong, de acordo com fontes parlamentares.

A consideração do dossiê por parte da procuradoria é uma fase tradicional da justiça. Vai ser necessário esperar pela fase de instrução para saber se o dossiê vai regressar ao Parlamento, onde pode ser enviado a uma comissão de instrução”, explicou na quarta-feira o constitucionalista Abdoul Gourmo à AFP.

“Esta comissão poderá requalificar os fatos. Se se tratar de alta traição cometida pelo ex-Presidente da República, apenas o Supremo Tribunal de Justiça terá competência para o julgar”, acrescentou.

Os deputados da Mauritânia aprovaram, em final de julho, uma lei que cria um Supremo Tribunal responsável por julgar o chefe de Estado e os ministros em casos de “alta traição”.

A jurisdição deve ficar estabelecida nos próximos meses.

A Mauritânia, uma república islâmica moderada, sofreu cinco golpes desde a sua independência da França, em 1960 e tem sido liderada por governantes militares na maior parte deste período.

Ould Ghazouani prestou juramento como chefe de Estado em agosto passado, depois de vencer as eleições presidenciais, na que foi a primeira transferência de poder pacífica daquele país da África Ocidental.