O pneumologista russo Alexander Chuchalin, um dos mais reputados académicos da Rússia, demitiu-se nos últimos dias do Conselho de Ética do Ministério da Saúde russo depois de ter expressado publicamente as suas reservas sobre a forma como o país desenvolveu e registou a primeira vacina do mundo supostamente capaz de prevenir a Covid-19. Deverá permanecer como presidente honorário. 

De acordo com o jornal russo Moskovskij Komsomolets, o cientista não estabeleceu uma ligação direta entre a sua demissão do Conselho de Ética e o processo de desenvolvimento da vacina, mas a saída de Chuchalin ocorre poucos dias depois do anúncio formal da nova vacina, cujo rápido desenvolvimento o académico havia criticado repetidas vezes.

Em meados de junho, numa altura em que foi anunciado que tinham começado os ensaios clínicos em humanos, Alexander Chuchalin deu uma entrevista à revista russa Nauka i Zhizn (Ciência e Vida) na qual insistiu que a Comissão de Ética não conseguia ainda ter a certeza de quão segura era a vacina.

Em declarações ao Medvestnik, portal médico russo, Chuchalin recusou estabelecer a ligação entre a sua demissão e a vacina, argumentando que necessitava de reduzir as suas ocupações, agora que vai liderar uma nova comissão de bioética na Academia Russa das Ciências. Porém, deixou críticas à rapidez com que a vacina foi desenvolvida.

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“É importante um país ter uma vacina, mas quando a investigação é realizada o princípio da segurança vem em primeiro lugar. É impossível garantir segurança sustentada reduzindo o período de testes a 4-6 semanas”, afirmou o cientista.

Ao Observador, Judyth Twigg, professora de ciências políticas na Virginia Commonwealth University e especialista  em saúde internacional considerou que o momento em que ocorre a demissão juntamente com as críticas de Chuchalin ao “processo de desenvolvimento apressado para a vacina nas últimas semanas, sugere que pode haver uma relação”.

O mesmo portal avança que está previsto Chuchalin continuar no Conselho de Ética, mas como presidente honorário. O seu cargo deverá ser ocupado por Alexander Khokhlov, antigo chefe-adjunto do Departamento de Farmacologia Clínica da Universidade Médica de Yaroslavl — uma sugestão do próprio Chuchalin: “Estou feliz que o Ministério da Saúde tenha ouvido minha recomendação”.