“Por meio da presente carta, eu, Lionel Andrés Messi Cuccitini, com o CC xxxxxx [rasurado], solicito que se proceda à resolução do meu contrato de relação laboral que tenho atualmente com este distinto clube, apoiando-me na cláusula número 24 que me permite desfrutar desta faculdade.

Agradeço todas as oportunidades de crescimento pessoal e preparação profissional com que me brindaram durante o tempo de trabalho. Foram aprendizagens que me permitiram consolidar o meu perfil técnico e humano. Mas por motivos pessoais xxxx [rasurado] esta difícil decisão que espero que seja recebida pela direção da melhor maneira.”

Depois de ter sido o primeiro órgão mundial a avançar com a decisão de Lionel Messi querer rescindir de forma unilateral o contrato com o Barcelona, a TyC Sports conseguiu o exclusivo da carta enviada pelo número 10 aos responsáveis catalães anunciando a decisão (e para órgãos exclusivos não foi o único exclusivo mas já lá vamos). Foi este o propalado burofax que caiu como uma bomba no futebol e que coloca em sério risco a ligação de mais de duas décadas, 16 só na equipa principal, entre o esquerdino e a formação blaugrana. E se antes era um Diós para todos, agora tornou-se Judas. Pelo menos para a Direção do clube. E antevê-se uma guerra jurídica.

A Marca resume na edição desta quarta-feira a questão que contará também com o fator pandemia pelo meio – e que, poucos duvidam, tem como principal intenção “forçar” a que o clube baixe o valor proibido de 700 milhões de euros de cláusula de rescisão para montantes que sejam comportáveis para as (muitas) equipas interessadas no jogador e para as (poucas) equipas capazes de aguentar uma operação deste género. São as tais letras pequenas no contrato que nunca chegou a ser renovado apesar das conversações de dois anos entra ambas as partes.

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Bomba à vista no futebol: Messi prepara-se para pedir rescisão unilateral de contrato com o Barcelona

De acordo com o vínculo em vigor, Messi sabe que a data limite para a revogação do último ano de ligação era 10 de junho mas, de acordo com o espírito da lei, esse prazo foi alargado. Ou seja, e em condições normais, a temporada acabaria no início de junho, o dava um prazo de 20 dias para pensar na sua situação e comunicar a mesma. No entanto, esta foi uma época atípica que acabou apenas no mês de agosto, havendo documentos assinados por parte do Barcelona e da FIFA que dizem que a temporada só acaba quando se disputa o último encontro.

Por parte do clube, o entendimento é diferente. No fundo, é um entendimento ipsis verbis: se está no contrato que a cláusula acabou a 10 de junho, o jogador já entrou desde essa data no último ano de vínculo. Foi isso que saiu como única resposta de Camp Nou, com um pedido para que pudesse voltar atrás e ficar em Barcelona. Se tal não vier a acontecer, as sensibilidades diferem mas a posição é a mesma: dificultar ao máximo a saída do capitão dos blaugranaOu seja, pedir mais do que 222 milhões, o valor recorde de Neymar, ou… os 700 milhões.

Crise no Barcelona. O treinador sai, o presidente procura saída (também para si) e o jogador que saiu tem uma cláusula que gera revolta

E recuperamos mais um exclusivo chegado da Argentina (coincidência?): o Olé, a segunda publicação do mundo a avançar com o pedido de rescisão unilateral, desmentiu com fonte próxima do jogador que tenha sido a conversa entre Ronald Koeman, o novo treinador do Barcelona no lugar de Quique Setién, e Lionel Messi a motivar a saída do capitão. “Acabaram-se os privilégios no plantel, tem de se começar a fazer tudo para a equipa. Vou ser alguém inflexível nisso, há que pensar na equipa”, terá dito o holandês. “Não foi assim e o que levou à saída foi o desgaste ao longo dos anos e os últimos resultados desportivos”, defendeu fonte próxima do esquerdino.

Messi entre o novo Barcelona, este PSG e o Manchester City do costume no dia 1 do regresso do Tintin Koeman a Camp Nou

De acordo com o Sport e com o Mundo Deportivo, há cinco grandes razões que levaram Messi a chegar ao fim de linha no Barcelona: 1) o relacionamento sempre frio que teve com Bartomeu desde que ascendeu à presidência (que é descrito como “falta de feeling“); 2) a saída de Valverde, com quem tinha boa relação, e a contratação que nunca compreendeu de Quique Setién; 3) o desacordo total com a gestão desportiva que tem vindo a ser seguida; 4) as palavras do presidente após a derrota com o Bayern e a forma como o amigo Luis Suárez foi dispensado; 5) a falta de tempo na carreira e a pouca fé na capacidade de reconstruir um projeto ganhador.

Bartomeu. O ex-basquetebolista, empresário e independentista que deixou o Barcelona em clima de pré-guerra civil

Houve manif, vai haver moção de censura mas não há demissões

Foi também da Argentina que chegou aquela que seria a segunda “bomba”, neste caso a nível mais local: Josep Maria Bartomeu, presidente do Barcelona, estaria a ponderar demitir-se e já tinha começado a preparar caminho nesse sentido. A informação não se confirmou e, em off, foi desmentida pelo próprio. No entanto, a Junta Diretiva, que já tinha reunido de emergência na passada segunda-feira para marcar eleições para março de 2021, rescindir com Quique Setién, partir para a solução Ronald Koeman e começar uma autêntica revolução no plantel, voltou a ter um encontro de carácter urgente para analisar o impacto da comunicação feita por Lionel Messi.

À porta de Camp Nou, dezenas de adeptos, quase todos com a camisola 10 do Barcelona, foram-se juntando com cânticos contra Bartomeu, colocando mesmo uma tarja no gradeamento onde pediam a demissão do presidente. Ato contínuo, a associação Manifest Blaugrana, criada em 2014, anunciou a intenção de apresentar uma moção de censura à Junta Diretiva “caso não reconduza a situação de Messi e assegure a sua continuidade, no mínimo, para fazer a época de 2020/21”. Se assim não for, pede “a demissão imediata para dar lugar a uma Comissão de Gestão que convoque eleições o mais depressa possível”. O prazo limite é sexta-feira, altura em que, como refere o As, “será apresentada de imediato uma moção de censura”. Para isso, a associação terá de juntar um mínimo de 15% de assinaturas entre os eleitores do clube, um valor a rondar as 16.000, num prazo de 14 dias úteis.

E de Messi, o que se sabe mais? Se é verdade que o Barcelona apresentava as suas reservas em relação à atuação de PSG e Manchester United neste processo, em Itália dão como certo que o Inter é a hipótese número 1 nesta fase para o jogador, ao passo que em Inglaterra e na Argentina asseguram que o esquerdino já falou com Guardiola para perceber as possibilidades que existiriam para o Manchester City garantir a sua contratação este verão.

Todos pensavam que Messi iria para Inter ou City mas Barcelona desconfia que rescisão tem dedo de PSG ou Manchester United

Tudo isto acontece num dia em que se ficaram a saber mais alguns detalhes sobre o novo Barcelona que tem vindo a ser construído por Ronald Koeman. Depois da dispensa de Luis Suárez que foi feita numa conversa telefónica de um minuto entre o holandês e o uruguaio, sem que existissem justificações para a opção tomada, houve uma certa inversão em torno do plano inicial com a forte hipótese de Gerard Piqué (que nunca terá estado numa lista de saídas), Sergio Busquets (assumindo que pode perder alguma preponderância num meio-campo que será montado à volta de Frenkie de Jong), Jordi Alba (com o pedido que volte a ter um rendimento mais alto do que conseguiu na última época) e Sergio Roberto poderem ficar no plantel mas com um ordenado mais baixo do que atualmente, numa tentativa de encurtar despesas na massa salarial que será transversal a todas as áreas.