Incomodado pelo silêncio do Partido Socialista, dois dias depois do anúncio da candidatura de Ana Gomes às presidenciais de janeiro, Manuel Alegre lamenta que o partido não assuma uma posição oficial sobre as eleições — como aliás já fez em 2016, nas eleições que Marcelo Rebelo de Sousa venceu com 52% dos votos.
“Isto é uma desvalorização da natureza do regime semipresidencialista de que o PS é um dos fundadores”, disse o histórico socialista à edição desta quarta-feira do Público. “Não se pode desvalorizar assim o regime semipresidencialista. Os patronos deste regime, como Salgado Zenha, Mário Soares, Sottomayor Cardia e José Luís Nunes, só para falar alguns dos que já não estão entre nós, não ficariam de certeza muito satisfeitos com isto”, reforçou, escusando-se ainda assim a revelar se apoiará ou não a camarada de partido e antiga eurodeputada socialista. “A altura em que o farei sou eu que decido.”
Esta terça-feira, à Rádio Observador, Henrique Neto, militante socialista e ele próprio candidato independente às presidenciais de 2016, já tinha questionado a posição do partido. “É uma aberração que partido de Mário Soares apoie atual Presidente sem discussão democrática”, considerou o ex-deputado, para depois reafirmar o que já tinha dito publicamente, antes mesmo de a candidata se ter decidido a avançar: o seu voto irá para Ana Gomes.
Também ao Público, Daniel Adrião, membro da Comissão Política Nacional do Partido Socialista, exortou o partido a unir-se e a apoiar Ana Gomes, na luta comum contra o “candidato da extrema-direita”: “No meio da sua deriva autoritária André Ventura, ofereceu aos socialistas um forte motivo para se unirem em torno da candidatura de Ana Gomes: assumiu o compromisso de que abandonaria a liderança do Chega se ficasse atrás da Ana Gomes nas presidenciais. Sendo o grande objetivo dos socialistas travar e esmagar a extrema-direita, então temos aqui uma excelente oportunidade de infligir uma humilhante derrota ao líder do Chega e nos livrarmos da ameaça que ele representa para a nossa democracia”.