Miguel Oliveira ainda não tinha nascido, Marc Márquez também não. Cal Crutchlow e Andrea Dovizioso eram bebés que estavam a começar a andar. Havia Valentino Rossi que, com apenas nove anos, já entrava em pequenos campeonatos de karting e preparava-se para conseguir o primeiro título regional. Era preciso recuar até 1988 para ver um domínio tão esmagador da Yamaha numa qualificação para um Grande Prémio, na altura os 500cc, quando estavam na equipa o campeão mundial Eddie Lawson, Wayne Rainey, Christian Sarron ou Kevin Magee, quatro dos cinco primeiros classificados do Mundial apenas com Wayne Gardner pelo meio. Em São Marino, Maverick Viñales, Franco Morbidelli, Fabio Quartararo e Valentino Rossi foram os melhores, com os tempos mais rápidos sexta-feira e sábado. A corrida partia com esse significativo dado a ter em conta.

Miguel Oliveira melhora, faz segundo tempo da Q1 mas sai da 12.ª posição para o Grande Prémio de São Marino

Três semanas depois do histórico triunfo de Miguel Oliveira no Grande Prémio da Estíria, em Spielberg, que deu não só a primeira vitória de sempre à Tech3 na categoria rainha em 20 anos como colocou pela primeira vez dois pilotos da KTM no pódio (Pol Espargaró, da equipa de fábrica da marca, foi terceiro), as principais equipas apresentavam também o resultado das melhorias nas motos que tinham sido feitas nesse período. A Yamaha destacou-se, conseguindo recuperar as prestações das duas corridas iniciais ganhas por Quartararo mas com Viñales também em destaque. As Ducati mantiveram o bom rendimento, as próprias Suzuki não ficaram muito longe. Já a KTM teve mais dificuldades neste particular, o que “condicionou” Miguel Oliveira.

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O circuito de Misano, que homenageia Marco Simoncelli (italiano falecido no Grande Prémio da Malásia, em 2011), já não era o traçado ideal para a KTM mas também a moto não foi dando as melhores respostas, com o português a começar os treinos livres com um 22.º lugar, a subir depois para a fronteira do top 10, a terminar a Q1 este sábado na segunda posição apenas atrás de Pol Espargaró (o que lhe valeu pela quarta vez em seis corridas a entrada nos melhores 12 na qualificação) mas a não conseguir depois na Q2 um tempo que lhe valesse uma saída da segunda ou terceira linha, terminando no 12.º posto. Pol Espargaró acabou no 11.º. Brad Binder e Iker Lecuona nem chegaram à Q1. O fim de semana não prometia facilidades para ninguém na KTM.

“Foi um sábado positivo. Durante o terceiro livre tivemos uma série de voltas rápidas canceladas devido a bandeiras amarelas. Ainda assim vimos muito potencial e fomos para a qualificação confiantes. Depois fiz duas voltas sozinho, tentei posicionar-me bem, mas já não tinha pneu nem muito tempo. Fiquei a uma décima do meu melhor tempo. Foi um fim de semana complicado para a KTM mas acreditamos que podemos fazer uma boa corrida, sobretudo recuperar algumas posições no arranque, fazer o nosso ritmo de corrida que não corresponde à posição em que qualificámos”, comentou o piloto português após a qualificação, acreditando que seria possível fazer um resultado melhor na corrida e acreditando na fiabilidade que lhe tem valido vários elogios.

Gosto de seguir os pilotos jovens e o Miguel é um deles. Gosto do seu estilo, porque é astuto, muito limpo e preciso. Tem demonstrado o seu nível este ano porque também a KTM subiu de nível. Já demonstrou que está preparado para lutar por vitórias e estou certo que se poderá converter num dos pilotos mais fortes do MotoGP”, comentou na antecâmara da prova Valentino Rossi.

Com os quase dez mil espetadores nas bancadas (uma das novidades) a apoiarem sobretudo o ídolo Valentino Rossi, Miguel Oliveira fez o décimo melhor tempo num warm up onde foi Nakagami a destacar-se e, à SportTV antes da prova, voltou a sublinhar a estratégia de não perder muito tempo nas voltas iniciais porque o ritmo de corrida era melhor do que a 12.ª posição de saída na grelha. No entanto, e nesse ponto que seria a chave para alcançar pelo menos mais um top 10 em 2020, as coisas acabaram por não correr da melhor forma.

Se na frente Franco Morbidelli disparou para o primeiro lugar, Valentino Rossi subiu à segunda posição e Jack Miller conseguiu colocar-se entre o domínio das Yamaha no terceiro posto, o português teve uma má saída, tentou depois evitar qualquer toque que condicionasse ainda mais a corrida e ficou no 15.º lugar atrás de Petrucci, com quem andou a lutar nas primeiras voltas para começar a subir algumas posições. Não era, ainda assim, a melhor corrida para esse objetivo – nem sequer o melhor adversário para conseguir. E teria de ser na fiabilidade e na capacidade de gerir o desgaste dos pneus a aposta do piloto da Tech3, que confirmava as dificuldades da KTM que tinha Pol Espargaró em 12.º, Brad Binder em 16.º e Iker Lecuona em 20.º e com uma penalização.

Fabio Quartararo subiu de forma provisória ao quarto lugar após ultrapassar Viñales mas uma queda na curva 4 acabou por condicionar toda a corrida do líder do Mundial (que iria perder essa posição, não se sabendo ainda para quem), enquanto Miguel Oliveira, depois de ter sido ultrapassado por Brad Binder, superou depois o colega da KTM e Petrucci, saltando para a 13.ª posição atrás dos irmãos Álex e Pol Espargaró mas com um segundo para recuperar com pista livre à sua frente. Morbidelli, Rossi e Miller continuam nos três primeiros lugares mas com Álex Rins e Pecco Bagnaia já à frente de Viñales, que se queixava de problemas na moto. Miller não aguentou o ritmo, perdeu o terceiro posto e desceu para quinto. Começou a andar para trás, enquanto Miguel Oliveira andava para a frente e superava Aleix Espargaró. Seguia-se o irmão, Pol.

Durante algumas voltas a diferença entre ambos manteve-se em 0.2 mas o português soube esperar pelo momento certo para voltar a superar o espanhol, subindo ao 11.º lugar atrás de Zarco quando as atenções já se centravam na luta pelo segundo lugar, com Rossi a falhar algumas trajetórias com o pneu da frente, Rins a apertar o italiano e Pecco Bagnaia a aproveitar para se colocar na terceira posição, o que colocava de forma parcial três italianos na frente, com Bagnaia a saltar mais um lugar a sete voltas e a colocar-se no segundo posto enquanto Brad Binder conseguia também ultrapassar Miguel Oliveira antes de ambos superarem Zarco (que se continuou a afundar, passando de décimo a 14.º num par de voltas ultrapassado pelos irmãos Espargaró). Depois, Binder teve uma saída, o português subiu a décimo mas estava já longe de Nakagami, sendo ainda ultrapassado a duas voltas do final por Pol Espargaró. Lá na frente, Joan Mir ainda conseguiu “roubar” o 200.º pódio a Rossi, que não se conseguiu juntar a Franco Morbidelli e Pecco Bagnaia naquela que seria a festa total dos transalpinos.

Outras curiosidades do Grande Prémio de São Marino: Morbidelli tornou-se o quinto vencedor em seis provas de 2020 (apenas Quartararo repetiu triunfos, em Espanha e na Andaluzia); Dovizioso ascendeu à liderança do Mundial, aproveitando a dupla queda do francês; e este tornou-se o primeiro ano desde 1949 (que marcou a estreia do Campeonato) em que quatro pilotos conseguem a sua primeira vitória na categoria rainha. Em relação a Miguel Oliveira, que apesar de tudo fez o seu quinto melhor no MotoGP igualando o 11.º posto na Argentina no ano passado, ficou no nono lugar do Mundial (ainda à frente de Morbidelli) e continua a ser o segundo melhor piloto da KTM com 48 pontos, menos cinco do que Binder mas mais sete do que Pol Espargaró.