A agência de rating Fitch, que esta sexta-feira decidiu manter a notação do Banco Montepio (em B-), sublinha em comunicado que será “chave” para a gestão do banco cumprir o plano de reestruturação – que envolve fechar 80 balcões e dispensar entre 600 e 900 pessoas. “A execução desse plano será um fator-chave para repor a rentabilidade ao obter melhores rácios custos–resultados”, pode ler-se no relatório da agência.

Embora continue a considerar que “os riscos continuam a pender para o lado negativo”, no Banco Montepio, a Fitch considera que “os ratings não estão sob um risco imediato criado pelo impacto da crise económica provocada pela pandemia”. A agência está confiante de que o rating atual contém uma margem de manobra – limitada – para “absorver uma redução na rentabilidade, os maiores riscos ao nível da qualidade dos ativos e, potencialmente, uma pequena erosão da sua base de capital, que já é frágil”.

Porém, “o banco só tem uma capacidade limitada de gerar capital de forma orgânica, tendo em conta o nível elevado de ativos problemáticos (comparando com os pares portugueses e internacionais) e a baixa rentabilidade operacional”. O principal problema, como a Fitch já tinha dito, é que “o banco entrou neste momento difícil numa posição que lhe deixa opções estratégicas muito limitadas” – por isso, o Banco Montepio “terá de dar prioridade a medidas de remediação de capital e à reestruturação profunda da sua rede comercial, para melhorar a eficiência operacional”.

Montepio. Os 19 balcões que vão fechar até ao fim do ano (e os 18 que já fecharam)

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A agência argumenta que o Montepio está nesta situação comparavelmente mais difícil em grande parte por causa dos problemas de governação empresarial que houve nos últimos anos não só no banco mas, também, na maior acionista – a Associação Mutualista Montepio Geral. A Fitch recorda os anos perdidos com “desafios recorrentes em nomear e estabilizar a gestão do banco, desde 2015” e receia que “a desalavancagem que houve nos últimos anos não tenha sido suficiente para estabilizar os rácios de solvabilidade” da instituição. Por isso, a Fitch sublinha que seria “positivo” para o banco ter alguma estabilidade e uma dinâmica de governança empresarial eficaz.

Olhando para a crise pandémica, porém, a Fitch considera que a exposição do Banco Montepio ao segmento de particulares, nomeadamente no crédito à habitação, é um fator positivo porque este poderá resistir melhor à degradação do ciclo económico (como, aliás, aconteceu na última crise) do que a exposição ao segmento empresas, sobretudo aquelas mais afetadas pela pandemia. Porém, a Fitch assinala que há uma “elevada proporção de créditos” que está sob moratória – cerca de um quarto da carteira total no final de junho de 2020.

Por outro lado, a agência afirma que os anos de 2020 e 2021 deverão ser, ainda, marcados por prejuízos no banco, o que reforça a importância de executar o plano de corte nos custos. Esse será o ponto mais importante, do ponto de vista da Fitch, para que o rating venha a melhorar – isto além do desempenho da economia portuguesa como um todo, nos próximos tempos.