Os concertos de música em espaços fechados têm pouco impacto nas taxas de infeção com o SARS-CoV-2, conclui um estudo realizado na Alemanha. Mas — e há sempre um grande mas — tem de ter um número limitado de pessoas, estarem todos sentados, cumprirem todas as normas de segurança e estarem bem ventilados — à semelhança do que tem sido pedido às salas de espetáculo em Portugal

O estudo foi divulgado esta quinta-feira, numa plataforma de pré-publicação, e ainda não foi verificado por investigadores independentes. O jornal The New York Times refere que alguns especialistas se mostraram céticos em relação aos resultados e que é preciso mais informação sobre como o estudo foi conduzido e se os resultados podem ser reproduzidos.

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O concerto pop no Arena Leipzig, no dia 22 de agosto, contou com 1.212 pessoas — todas com teste negativo para o SARS- CoV-2. O objetivo era simular situações diferentes para o espetáculo: sem restrições, com restrições moderadas (lugares sentados em xadrez e o dobro das portas de entrada) e restrições mais rígidas (lugares sentados a 1,5 metros de distância e quatro vezes mais portas de entrada).

Cada um dos participantes tinha um localizador para se perceber com quantas pessoas tinha contactado (estado a menos de 1,5 metros) na entrada e saída, durante o concerto e no intervalo. Naturalmente, à entrada, saída e durante o intervalo houve mais contactos, mas poucos duraram mais de 15 minutos. O contrário verificou-se durante o concerto, com contactos mais prolongados no tempo.

Quando todos os contactos (superiores a 10 segundos) foram considerados, o número de contactos foi alto; quando os contactos críticos, com uma duração de mais de 15 minutos, foram contados, os números diminuíram para menos de 10″, referem os autores do artigo.

Depois, a equipa de Stefan Moritz, do Hospital Universitário de Halle, simulou o efeito dos sistemas de ventilação e circulação de ar na dispersão de aerossóis (neste caso, fumo expelido por uma máquina). A conclusão é que uma boa ventilação reduz de forma significativa a quantidade de vírus no ar.

Além dos lugares afastados, das várias entradas e da boa ventilação, os autores sugerem que a comida e bebidas sejam servidas no lugar e que as pessoas sejam obrigadas a usar máscara — nomeadamente o modelo N95, normalmente usado pelos profissionais de saúde. Os investigadores, no entanto, não mediram o efeito do uso de máscaras nestes contextos, nem fizeram referência ao facto de as pessoas terem de tirar as máscaras para comer ou beber nos intervalos.

A equipa revela ainda que, quando a incidência na população é de 50 casos por 100 mil habitantes, é expectável que entre 10 a 40 pessoas infetadas possam assistir a qualquer um dos eventos, assumindo que há entre 100 e 200 mil pessoas a assistir a espetáculos em espaços fechados por mês.