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As mensagens são contraditórias. De um lado, os manifestantes gritam “todos os votos contam, contem todos os votos”. Do outro, a palavra de ordem é “parem a contagem”. Os gritos não se ouvem todos no mesmo palco de protestos, mas ecoam por várias cidades norte-americanas. Apoiantes de Donald Trump e de Joe Biden levaram para as ruas da América o descontentamento com os resultados, ainda provisórios, das presidenciais dos Estados Unidos. Ninguém está satisfeito, em nenhum dos lados, e todos querem ver o seu candidato eleito. À medida que a desconfiança cresce, numa contagem de votos renhida, a curva da violência dispara tanto entre grupos de republicanos como de democratas, e a polícia já começou a fazer detenções.
Entre os apoiantes de Donald Trump, a mensagem muda consoante o swing state em que acontecem: contem/não contem os votos. Basta riscar a que não leva à eleição do republicano e fica a saber-se qual o slogan dos manifestantes.
Phoenix, Detroit, Portland, Nova Iorque, Chicago, Los Angeles, Houston, Pittsburgh, Minneapolis ou San Diego são algumas das cidades onde foram relatados protestos.
Arizona. Contem os votos
Em Phoenix, Arizona, centenas de manifestantes concentraram-se frente ao cartório do condado de Maricopa. Aqui, o objetivo dos apoiantes de Donald Trump, muitos deles armados, era garantir que todos os votos fossem contados. “Não vamos deixar que esta eleição seja roubada”, disse o republicano Paul Gosar, membro da Câmara dos Representantes, e que garantiu a sua reeleição nesta ida às urnas.
O que estava em causa? Uma contagem de votos que pode ajudar a determinar o resultado da eleição no estado do Arizona. Apesar de ter sido declarado estado azul por alguns jornais norte-americanos, as projeções e a vitória de Biden podem estar em risco. E, na verdade, depois de contados os votos do condado de Maricopa, onde fica Phoenix, Trump teve mais votos do que Biden, estreitando a diferença entre os dois.
Durante a noite, e enquanto se contavam os boletins, os manifestantes acusavam as autoridades de não estar a contar alguns votos, prejudicando Trump, embora não houvesse quaisquer evidências para sustentar a acusação.
Here we have Trump supporters chanting “count the votes!” outside an election center in Arizona’s Maricopa County. A few hours ago, at a center in Detroit, they were chanting “stop the count!” https://t.co/5fJfq1Og9N
— Dan Zak (@MrDanZak) November 5, 2020
#BREAKING – Large crowd of protestors now gathering in front of #Maricopa Election center pic.twitter.com/8ljM8zoISo
— Gadi Schwartz (@GadiNBC) November 5, 2020
Michigan. Parem de contar os votos
Em Detroit, Michigan, a palavra de ordem era “Parem a contagem”. Também aqui centenas de apoiantes de Trump concentram-se em frente ao edifício onde são contados os boletins eleitorais, tentado travar a contagem, com um cordão policial a impedi-los de entrar nas instalações do cartório.
O que está em causa? Trump entrou com uma ação judicial para suspender a contagem de votos no estado do Michigan depois de, sem provas, ter lançado dúvidas sobre a legitimidade dos boletins enviados pelo correio, uma opção que se sabe ser maioritariamente escolhida pelos democratas. A decisão foi tomada depois de Trump ter sido ultrapassado por curta margem por Joe Biden — e que, entretanto, já foi declarado vencedor no estado que Trump vencera em 2016.
Moments ago at the absentee ballot counting center in Detroit. Protesters bang on windows chanting “Stop the Count”. pic.twitter.com/okpf6XJMu8
— Don Gonyea NPR (@DonGonyea) November 4, 2020
#BREAKING: Large, animated crush of “stop the count” protestors trying to push their way into TCF hall in #Detroit where ballots are being counted.
They’re being blocked by guards at the door.
Pizza boxes are pushed against the window to obstruct view. It’s tense. @NBCNews pic.twitter.com/zFhzd88skX
— Steve Patterson (@PattersonNBC) November 4, 2020
Oregon. A luta continua
Em Portland, Oregon, as centenas de pessoas que marcharam pelo centro da cidade eram apoiantes de Joe Biden, já declarado vencedor dos 7 votos daquele estado. “A votação acabou. A luta continua ”, lia-se numa das placas. Mas mesmo estando a eleição fechada e sendo o vencedor o candidato preferido dos manifestantes, isso não impediu que a violência começasse.
Houve janelas partidas, desacatos e a polícia envolveu-se em confrontos com os manifestantes. Rapidamente a palavra motim tomou conta dos noticiários e a governadora democrata Kate Brown respondeu com uma declaração de emergência. A Guarda Nacional juntou-se às forças policiais da cidade e foram feitas, pelo menos, 10 detenções.
Durante meses, Portland foi palco de protestos contra o racismo e também nessa altura a Guarda Nacional foi chamada a agir.
A wide range of demonstrators gathered on Wednesday night in Portland, Ore., Philadelphia, Chicago and New York to show support for all votes to be counted, Black Lives Matter and other causes. pic.twitter.com/vArauma5Lw
— The New York Times (@nytimes) November 5, 2020
Nova Iorque. Contem os votos
Em Nova Iorque, tudo corria de forma pacífica. Centenas de apoiantes de Joe Biden desfilaram na Quinta Avenida, em Manhattan, uma das zonas mais caras da cidade, celebrando a eleição do candidato democrata que conseguiu ficar com os 29 votos daquele estado.
O ponto de viragem aconteceu quando os manifestantes fecharam o trânsito na West Village, sendo empurrados de volta para o passeio pelas autoridades policiais. Foi o acender do pavio que acabou com a Polícia de Nova Iorque a fazer 20 detenções, e os manifestantes a atearem fogos. Ovos e lixo também foram atirados de um lado para o outro.
A big crowd has gathered outside the New York Public Library on 5th Avenue in Manhattan to demand that every vote cast in the 2020 presidential election be counted. pic.twitter.com/EE7bDPNwIg
— Liam Stack (@liamstack) November 4, 2020
Illinois. Contem todos os votos (dos outros estados)
Em Chicago, Illinois, quem saiu à rua para exigir a contagem de todos os votos (não do seu estado, mas dos restantes) foram os apoiantes de Joe Biden, que fizeram questão de passar pela Trump Tower da cidade. Não há relatos de confrontos, nem de detenções, segundo informações da polícia local.
O que está em causa? A contagem de todos os votos nos restantes estados do país. Biden já foi declarado vencedor daqueles 20 votos eleitorais, derrotando Trump tal como Hillary Clinton já fizera em 2016.
Para manter a segurança dos residentes, foi seguida a mesma estratégia do verão quando a cidade foi tomada pelos protestos contra a brutalidade policial: a ponte basculante sobre a Avenida Wabash (a Irv Kupcinet) foi levantada para evitar que o rio Chicago fosse atravessado.
Hundreds marching in Chicago to demand every vote be counted #chicagoprotest #CountEveryVote pic.twitter.com/a2naCjIW3P
— Aaron Cynic (@aaroncynic) November 4, 2020