O filme “Listen”, de Ana Rocha de Sousa, foi vetado pela Academia norte-americana do cinema como candidato de Portugal aos Óscares, na categoria de Melhor Filme Internacional. A informação foi adiantada pela SIC, que explicou que o filme foi desclassificado por mais de metade dos diálogos serem em língua inglesa, o que é contrário às regras para um filme ser considerado internacional. “Foi desclassificado”, confirmou a cineasta à estação.

Posteriormente, o Observador teve acesso a uma nota oficial da Academia Portuguesa do Cinema que confirmava o veto, referindo que a Academy of Motion Picture Arts and Sciences (AMPAS) “informou a Academia Portuguesa de Cinema que, após análise do filme Listen de Ana Rocha de Sousa, o International Feature Film Executive Comittee considerou a candidatura não elegível e solicita o envio de um novo candidato com a máxima urgência possível”.

Apesar das particularidades da narrativa do filme justificarem o recurso a diálogos em língua inglesa, o fator de exclusão prende-se com um dos critérios de elegibilidade que obriga a que pelo menos 50% do filme candidato seja falado em língua não-inglesa”, refere a Academia Portuguesa do Cinema.

O filme tinha sido pré-selecionado pela entidade nacional, sendo posteriormente o mais votado entre os pré-selecionados.

Qual será então o candidato português aos Óscares? A Academia responde, dizendo que “abriu uma votação relâmpago às 00h de 18 de dezembro [sexta-feira] que terminará às 23h59 de domingo, dia 20, durante a qual os membros da Academia votarão no novo candidato de Portugal aos Óscares 2021. Os filmes em votação são os três nomeados pré-selecionados anteriormente: Mosquito, do realizador João Nuno Pinto, Patrick do realizador Gonçalo Waddington e Vitalina Varela, do realizador Pedro Costa” .

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Na sua página de Facebook, o realizador do filme Patrick, Gonçalo Waddington, criticou a Academia Portuguesa do Cinema por ter escolhido um filme que posteriormente foi considerado não elegível: “É pena que a Academia Portuguesa desconheça regra da língua que consta no regulamento dos Óscares da Academy of Motion Pictures, Arts and Sciences!”, escreveu.

Parece que a Academia do Cinema Português vai repetir a votação do filme candidato a Oscar para filme estrangeiro! O…

Posted by Gonçalo Waddington on Thursday, December 17, 2020

Logo quando foi anunciado como o filme português candidato à próxima edição dos Óscares, foi admitida a hipótese de Listen poder vir a ser considerado não elegível pela Academia norte-americana do cinema.

A hipótese foi, na altura, avançada pelo Diário de Notícias, tendo sido posteriormente confirmada pelo Observador junto de Paulo Trancoso, presidente da Academia Portuguesa do Cinema. “Consultámos a Academia [norte-americana] desde o início do processo por sabermos que havia uma parte significativa de diálogos em inglês [no filme], mas a verdade é que não quiseram assumir logo uma decisão de elegibilidade. Querem ver o filme para perceber”, dizia Paulo Trancoso em novembro.

O que ficou decidido foi: se o filme fosse submetido [como candidato português], seguiria para uma comissão específica para o efeito, para ver se é considerado elegível, na medida em que tem diálogos em português, em inglês e até em linguagem gestual. Historicamente já existiram casos de filmes [com um conjunto significativo de diálogos em inglês] aceites e não aceites. O que não quisemos foi de maneira nenhuma coartar a possibilidade do filme ser selecionado”, referia então o presidente da Academia Portuguesa do Cinema.

“Listen” é o candidato português aos Óscares 2021. Mas ainda não é certo que seja elegível

Na altura, tal como a realizadora Ana Rocha de Sousa, o presidente da Academia Portuguesa do Cinema também defendia que o filme deveria ser considerado elegível porque “as línguas faladas que se ouvem [nomeadamente, a língua inglesa] têm a ver com a história e o argumento do filme”, que não deixava de ser português (ou “internacional”) apesar dos diálogos em inglês. E já explicava que caso Listen não fosse considerado elegível, não seria escolhido como candidato português aos Óscares o segundo filme mais votado na eleição da Academia Portuguesa do Cinema que o apurou.

A ideia passava, explicava então Paulo Trancoso, pela realização de uma nova “eleição relâmpago dentro da Academia [portuguesa] com os três filmes restantes” que foram preteridos: Vitalina Varela, de Pedro Costa, Patrick, de Gonçalo Waddington, e Mosquito, de João Nuno Pinto. A opção por uma nova eleição confirmou-se agora.

Ana Rocha de Sousa. “Quero fazer cinema de autor que chegue às pessoas. E quero fazê-lo no meu país”