Os proprietários e gestores da Herdade da Torre Bela, a propriedade da Azambuja onde decorreu a 17 de dezembro uma “montaria” onde foram mortos 540 animais, garantiram esta quinta-feira não ter tido qualquer responsabilidade ou sequer conhecimento da organização da caçada que motivou a chacina de mais de cinco centenas de animais.

Os responsáveis da herdade afirmam, em comunicado, só ter sabido dos acontecimentos “a posteriori e apenas através da comunicação social”, repudiando a “forma errada, ilegítima e abusiva” como decorreu a “montaria”. Negam, assim, ter tido qualquer participação, direta ou indireta, numa chacina que algumas forças locais — políticas e de caça — relacionaram com o desejo de “retirada de animais de grande porte” da herdade, assumido num projeto de transformação da Herdade em central fotovoltaica que se encontrava em estudo.

As garantias e críticas foram deixadas através de comunicado oficial, que foi partilhado com o Observador. No comunicado, os responsáveis da herdade, cuja identidade ainda se desconhece, afirmam estar “desde o primeiro momento a colaborar de forma estreita e permanente com as autoridades competentes com vista ao cabal esclarecimento do ocorrido e ao total apuramento de responsabilidades”. E garantem reservar-se ao direito de “adotar as medidas judiciais adequadas” para a herdade ser “ressarcida de todos os prejuízos provocados por este lamentável acontecimento”.

A Herdade da Torre Bela não era a entidade exploradora da referida caçada nem organizou ou nela participou, direta ou indiretamente, e, por isso, não tem quaisquer responsabilidades no sucedido. É inequívoco que o grupo de caçadores excedeu em larga medida os direitos de caça adquiridos, ultrapassando os limites acordados por contrato com a entidade exploradora e que se coadunam com o permitido pela licença de zona de caça que se encontrava à data em vigor”, apontam os responsáveis da propriedade.

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Na sequência das notícias sobre a caçada na Azambuja, Jacinto Amaro, da Federação Portuguesa de Caça, tinha ligado o caso ao desejo de transformação da propriedade numa mega central fotovoltaica com mais de 750 hectares. Em declarações à Rádio Observador, Jacinto Amaro disse: “Entendo que o proprietário… não era aquilo que queria fazer, possivelmente. Queria-se desfazer dos animais porque queria dar origem a um outro projeto na sua propriedade”.

Se aquilo que pretendia era desfazer-se dos animais, tinha várias formas de rentabilizar a sua exploração agrícola. Não aceitamos é que para levar avante uma transformação na sua casa agrícola utilizasse este processo que para mim não foi mais do que uma esperteza saloia. Podia ter vendido os animais, se estão a mais. Tentou que os caçassem porque além do valor da carne o que ouvi dizer foi que cada caçador pagou 3 mil euros por cada uma das posições na montaria. E portanto quis fazer um encaixe de mais de 400 mil euros além do valor da carne”, acusou Jacinto Amaro.

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O próprio PSD da Azambuja, força de oposição na autarquia local, estabelecera uma relação entre a chacina de animais e o projeto de transformação da propriedade em estudo. Em comunicado, os sociais-democratas da Azambuja acusavam: “O objetivo desta massiva eliminação é óbvio: limpar o território para a colocação de mais de 638 de mil painéis fotovoltaicos! Foi na prossecução deste mesmo objetivo que foram chacinados 540 animais em terreno aberto, murado e sem qualquer vegetação”.

Apesar de reconhecer que os promotores da caçada e os proprietários da Herdade são distintos, em declarações ao Observador o vereador do PSD, Rui Corça, ligava a limpeza de animais feita na herdade da Torre Bela aos projetos fotovoltaicos. Dizia inclusivamente que antes da caçada tinha havido abate de eucaliptos, que serviam de habitat aos animais que foram mortos na semana passada.

Sobre a denúncia de que a caçada estaria ligada ao projeto de uma central fotovoltaica na propriedade, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, também falou. O governante começou por falar da aparente relação entre as duas coisas sem a desmentir, sublinhando apenas que “aquilo que o estudo de impacto ambiental [do projeto de criação de uma grande central fotovoltaica na herdade] diz é que uma parte daqueles animais têm de ser dali removidos. Mas remover não é abater”.

Esta quarta-feira à noite, o ministro acabou por anunciar a suspensão do estudo de impacto ambiental, precisamente pelas dúvidas em torno da ligação da matança de animais nesta “montaria” ao projeto.

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