Vários líderes europeus e da comunidade internacional, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel, contestaram o facto de as redes sociais Facebook e Twitter terem banido Donald Trump das suas plataformas, na sequência da invasão do Capitólio, sugerindo que isso viola o direito à liberdade de expressão e argumentando que os governos, e não as empresas privadas, é que deveriam ser responsáveis ​​por regulamentar as gigantes tecnológicas.

A chanceler alemã considera a suspensão permanente da conta de Donald Trump no Twitter “muito problemática”, defendendo que o “direito fundamental à liberdade de opinião” deveria ser determinado pelo Estado de Direito e pelo governo, e “não de acordo com a decisão da gestão das plataformas de media”, disse um porta-voz de Angela Merkel na segunda-feira, cita a Associated Press.

Também o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, mostrou-se “perplexo” com a decisão de várias plataformas digitais de suspender o presidente norte-americano cessante, destacando o poder destas tecnológicas mas também as “profundas fraquezas” do online.

“Não é apenas uma confirmação do poder destas plataformas, mas revela também profundas fraquezas na forma como a nossa sociedade está organizada no espaço digital”, escreveu o comissário europeu num artigo de opinião publicado no jornal online Politico.

Thierry Breton deixou ainda um apelo à definição das “regras do jogo para organizar o espaço digital com direitos, obrigações e salvaguardas claras”, falando numa “questão de sobrevivência para as democracias no século XXI”.

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Em declarações à emissora France Inter, o ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, também disse ter ficado “chocado” com a decisão do Twitter em banir Trump, acrescentando que “a regulamentação digital não deve ser feita pela oligarquia digital” e que deve ser discutida pelos governos e pela Justiça.

Já o secretário da Saúde britânico, Matt Hancock, que já ocupou o cargo de secretário da Cultura, defendeu que as empresas de tecnologia “estão a tomar decisões editoriais”, acrescentando que agora tornou-se mais claro que as redes sociais “estão a escolher quem deve ou não ter voz na sua plataforma”, cita a BBC.

Do outro lado do oceano, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador foi mais longe nas críticas: “Ter empresas privadas a decidir quem pode ser silenciado e censurado vai contra a liberdade de expressão”, terá dito Lopez Obrador na sexta-feira durante uma conferência de imprensa, de acordo com a Bloomberg.

“É como se estivesse a criar um tribunal de censura, como a Inquisição, para a gestão da opinião pública”, rematou.

Também o líder da oposição russa Alexey Navalny teceu duras críticas à decisão do Twitter de banir Donald Trump, falando num “ato inaceitável de censura”, argumentando que a medida abriu um precedente para o Kremlin exigir que as redes sociais suspendam permanentemente as figuras da oposição russa.

“Na minha opinião, a decisão de banir Trump foi baseada em emoções e preferências políticas”, escreveu Navalny na sua conta do Twitter na noite de sábado. “Não me digam que ele foi banido por violar as regras do Twitter. Recebo ameaças de morte aqui todos os dias há muitos anos e o Twitter não bane ninguém (não que eu peça isso)”, continuou.

Na passada quarta-feira, manifestantes pró Trump entraram em confronto com as autoridades e invadiram o Capitólio, em Washington, enquanto os membros do Congresso estavam reunidos para formalizar a vitória do presidente eleito, Joe Biden, nas eleições de novembro passado.

Estas violentas manifestações, que causaram pelo menos cinco mortos, foram incentivadas por Donald Trump e organizadas maioritariamente através das redes sociais, o que levou plataformas como o Facebook e o Twitter a suspender indefinidamente as contas do presidente norte-americano cessante.