A 7 de dezembro de 1980, três dias depois de ter morrido o primeiro-ministro Sá Carneiro quando se deslocava para uma ação da campanha presidencial, o país registou a taxa de abstenção mais baixa de sempre numa corrida a Belém: 15,61%. Uma miragem numa altura em que metade da população recenseada fica em casa, mesmo quando lhe é pedido o contrário. E as eleições do dia 24 trazem um problema adicional, acontecem em pleno confinamento geral por causa da pandemia e a abstenção pode ser ainda mais expressiva. E se for a pior de sempre, acima dos 60%, o vencedor tem menos legitimidade? Não, argumenta o candidato melhor colocado nesta corrida.
“Não deslegitima. Em democracia as abstenções fazem parte do processo”, assegura ao Observador Marcelo Rebelo de Sousa que parte em vantagem nas sondagens e no reconhecimento público fruto de uma longa vida de atividade política intensa — no PSD ou no comentário político –, mas também dos últimos cinco anos de Presidência. Ironicamente, “o Presidente dos afectos” recandidata-se com a prática dos afectos em baixa, ou pelo menos a sua demonstração. O distanciamento físico obrigatório e a proibição de ajuntamentos são especialmente nocivos para um candidato que faz do contacto mais próximo a sua principal arma política — e que nesta eleição não terá. E, além disso, no dia dos votos as limitação podem desmobilizar das urnas.
A história tem mostrado uma abstenção nas Presidenciais sempre crescente que, desde que bateu nos 50% (em 2001, na reeleição de Jorge Sampaio), apenas por uma vez se distanciou desse valor: na primeira eleição de Cavaco Silva, em 2006, tendo ficado em 38,37%. Esse ano a campanha presidencial foi muito disputada, com o PS dividido entre o candidato apoiado oficialmente, Mário Soares, e Manuel Alegre, e quando a disputa aquece, mais o eleitorado se mexe. Rima e tem mais prática a demonstrá-lo, basta olhar para o que aconteceu em 1986.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.