Dia chuvoso na campanha de André Ventura, mas nem por isso esvaziado de ambição e misticismo. O líder e candidato do Chega continua a acreditar que é possível forçar Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta e vai tentando mobilizar os apoiantes nos derradeiros dias de campanha eleitoral. Depois de um dia-não em Aveiro e Coimbra, Ventura passou por Leiria e voltou a falar aos céus.
O comício drive-in organizado por Luís Pereira Fernandes, presidente da Associação Portuguesa dos Itinerantes Certificados (APIC), líder do Chega/Leiria e dono de um senhor camião, prometia ser um acontecimento, mas acabou por ficar bem aquém das expectativas. Depois do que aconteceu em Leça da Palmeira, com 450 pessoas, a fasquia estava alta. Não ajudou o facto de Benfica e Braga jogarem esta noite, o que limitou em muito as opções disponíveis à campanha de Ventura, e o mini-dilúvio que se abateu sobre a cidade.
Com o hino nacional a passar em loop durante duas horas — as mesmas duas horas de atraso de Ventura face ao estipulado na agenda oficial –, o líder do Chega tinha pela frente uma missão difícil. Quando chegou finalmente, às 16h26, ao som de “fascista” e “vai para a tua terra”, lançou-se aos 15 minutos de discurso da praxe contra os “que se habituaram a viver à sombra dos privilégios do sistema”.
“Esta é uma eleição do bem contra o mal. A chuva que cai hoje do céu é sinal que continuaremos abençoados. Nunca desistiremos. A nossa força é grande e as nossas causa são ainda maiores. A nossa terra é Portugal e é este país que eu amo. Só nós temos esse amor a Portugal. Não nos peçam para sermos mais fofinhos porque estamos fartos”. Estava marcado o ponto.
Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador:
A confusão dos números
Do centro de Leiria a caravana de Ventura seguiu para o Mosteiro da Batalha. Depois de depositar uma coroa de flores junto ao Monumento ao Soldado Desconhecido, o candidato do Chega falou aos jornalistas para recuperar as acusações ao Bloco de espionagem e sugerir que o partido que apoia Marisa Matias esteve na origem das manifestações de terça-feira, em Coimbra. “Mas isso é notícia mais para o final da campanha”, deixou escapar.
O candidato do Chega aproveitou para tentar afinar o objetivo eleitoral a que se propõe. Na véspera, em Aveiro, tinha prometido chegar aos 22%. No mesmo dia, em Coimbra, uma fonte do núcleo duro de Ventura comentou com o Observador que o objetivo real estava algures entre os 15 e os 20%. Esta manhã, Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente do Chega e parte integrante da comitiva mais restrita, disse, em entrevista à Agência Lusa, que o Ventura chegaria facilmente aos 10%. Aos jornalistas, Ventura despachou a questão nestes termos: “10% é bom se todos os outros adversários [tirando Marcelo Rebelo de Sousa] tiverem menos”.
Um resultado nessa ordem de grandeza não permitiria uma segunda volta. Mas nada que atrapalhe o candidato do Chega. No segundo comício em menos de uma hora, Ventura falou para os antigos combatentes, prometeu lutar “pela Europa de matriz cristã” e despediu-se com uma certeza: “Vou levar-vos no coração para uma segunda volta”. Faltam quatro dias para as eleições presidenciais.
Texto atualizado ao longo do dia