A unidade portuguesa do banco espanhol Bankinter pede mais medidas de apoio às empresas (“viáveis”) e às famílias a pensar no período após o fim das moratórias. Poderá ser “prudente”, aliás, “rever” a data para a qual está prevista para esse fim das moratórias (atualmente, setembro de 2021), “sobretudo em setores mais atingidos pela crise e pelo novo confinamento”. O banco, que esta quarta-feira deu mais detalhes sobre os resultados anuais (que já tinham sido apresentados pela casa-mãe), destaca que a quebra do PIB em 2020 – de 7,6%, segundo o INE – foi menos gravosa do que o esperado. Mas “não pensávamos ter um segundo período de confinamento, que já está a refletir-se na atividade económica”, diz o banco.

“Provavelmente quando terminarem as moratórias vamos encontrar um clima económico mais adverso do que se tinha pensado”, afirmou esta quarta-feira Alberto Ramos, country manager do Bankinter em Portugal. “Ainda não temos conclusões mas parece ser prudente pensar que depois das moratórias algumas coisas vão ter de ser feitas para apoiar as empresas que tenham viabilidade”, sendo que também poderá ser “necessário fazer algumas coisas diferentes ou com maior extensão“. Além de um eventual prolongamento das moratórias, medidas na área da recapitalização das empresas também devem ser equacionadas, defendeu o responsável.

Alberto Ramos considerou que o Bankinter e o restante setor, de uma forma geral, “tem-se preparado bem para um momento como este” e, por isso, “sinceramente” não prevê uma crise de crédito em Portugal. Mas “estamos numa segunda vaga de confinamento e ainda não sabemos a sua extensão, o seu impacto real… Quando as moratórias foram desenhadas elas partiram do princípio de que 2021 seria um período de recuperação da normalidade económica”, algo que poderá não se confirmar dado o novo período de confinamento que surgiu e que já levou várias entidades a reverem as suas projeções macroeconómicas.

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O banco deu esta quarta-feira mais detalhes sobre os resultados anuais que já tinham sido apresentados, há duas semanas, pela casa-mãe – e considerados “excelentes” pela presidente do grupo, María Dolores Dancausa. Esta unidade portuguesa contribuiu com 45,1 milhões de euros (antes de impostos) para o resultado do grupo (parte dos 317 milhões anunciados pela casa-mãe). Em 2019 o banco tinha tido 65,6 milhões de lucros antes de impostos mas esse resultado tinha sido ajudado pelo facto de nesse ano se terem libertado algumas provisões feitas anteriormente, o que já não aconteceu em 2020. Em 2020, o banco realizou 9,5 milhões em novas provisões, sendo que 2,5 milhões podem ser diretamente associados ao impacto da pandemia.

Moratórias abaixo da média e mais crédito do que o setor

O banco tem 1.054 milhões de euros em moratória, num total de 14.549 contratos – é 15% da carteira do banco. No crédito à habitação estão 13% da carteira em moratória, menos do que os 17% da média do setor, e nas empresas há 18% em moratória, também abaixo dos 32% que são a média do setor, segundo os últimos dados disponíveis. Em termos nominais, são 589 milhões de euros que o banco tem em créditos à habitação em moratória e 426 milhões em crédito às empresas está na mesma situação – ao que se juntam 39 milhões em crédito ao consumo.

Além dos créditos em moratória, o banco tem 2,1% em rácio de crédito considerado malparado (rácio de morosidade), com uma cobertura de 77%. Também esse rácio de crédito em morosidade, de 2,1%, fica a cerca de um terço do restante setor. Mesmo num ano de pandemia, o banco aumentou em 7,1% o crédito total, o que compara com o aumento de 3,6% que foi a média de aumento do setor (dados de novembro).

O banco tem 770 colaboradores em Portugal e, num ano em que vários bancos avançaram com planos de saída de pessoas, a força de trabalho cresceu em 9 pessoas para trabalhar nas suas 81 agências, 10 centros de empresas, 2 centros de corporate e 4 de private banking. Embora Alberto Ramos sublinhe a importância de garantir a eficiência do banco, indica que “não temos previsto nenhum plano de reestruturação. Não pretendemos fechar nenhuma agência, nenhuma área de negócio em Portugal”. Aliás, com centenas de pessoas a saírem de outros bancos, “podemos estar atentos ao mercado e podemos aproveitar para recrutar talento adicional – mas apostamos muito no talento interno, fazer crescer as pessoas e temos feito isso”.

Preços das casas podem ter baixa “conjuntural”, mas não será “estrutural”

Alberto Ramos comentou, ainda, as previsões feitas por alguns de que com o fim das moratórias – aconteça ele quando acontecer – poderá haver um impacto negativo sobre os preços das casas. O que indica a equipa de análise do banco é que “à semelhança do que já está a acontecer neste momento, poderá haver ligeiras reduções do ponto de vista do preço das casas em Portugal pelo menos durante o primeiro trimestre de 2021 mas acreditamos que, estruturalmente, não vai acontecer uma redução do preço do imobiliário em Portugal“.

“Achamos que estamos perante um facto mais conjuntural, embora esta segunda fase de confinamento possa vir a ter sobre a atividade económica, pode levar a uma evolução diferente mas neste momento o que prevemos é aqui um fenómeno de um ou dois trimestres de ajustamento mas, estruturalmente, acreditamos que haverá uma tendência de subida” embora “mais moderada” do que se registou nos últimos anos. As taxas de juro vão continuar baixas, a procura deve continuar elevada, pelo que é esta a expectativa que temos”.

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