António Gentil Martins, conhecido cirurgião, atualmente reformado, criticou esta segunda-feira a “incompetência do Governo” na gestão do plano de vacinação da Covid-19. Também diz ser “inacreditável”, em declarações à TVI24, que os 140 médicos reformados que se voluntariaram para ajudar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda não tenham obtido qualquer resposta sobre o assunto. E, mesmo tendo 90 anos, assume a disponibilidade de voltar a ajudar o SNS.

Relativamente ao plano de vacinação, Gentil Martins, considera que a “prioridade máxima” deve ser dada aos profissionais de saúde. E justifica: “Se os profissionais não funcionarem, os doentes é que perdem”. “A prioridade absoluta tem de ser dada aos médicos porque se estiverem doentes ou isolados não podem ajudar os doentes, que não podem ser tratados”, refere.

Confrontado com o facto de que apenas 30% dos médicos terem sido vacinados contra a Covid-19, o clínico que teve uma carreira de mais de 60 anos diz que o Governo está a ser “incompetente” em não assegurar a vacinação aos profissionais de saúde. E insta a que pare com a “propaganda” e as “declarações famosas”. É “mentira dizer que o plano de vacinação está a ser cumprido”, aponta, referindo ainda que “a saúde das pessoas vai para além da política partidária”.

“Ajuda alemã não vai resolver o problema”

Em relação à ajuda alemã, Gentil Martins considera que é “fantástico” que uma equipa de profissionais alemães tenha sido enviada para ajudar a tratar os doentes em cuidados intensivos em Portugal. No entanto, afirma que “não é isso que vai resolver o problema”, apontando que o número doentes a ser tratados pelos alemães é reduzido.

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“É preciso manter operacionais os médicos, os enfermeiros e outros profissionais [portugueses]. Eles têm de estar saudáveis” — e para isso é preciso que sejam vacinados contra a doença. 

“Confesso que não percebo como é que os voluntários não estão a ser aproveitados, mas vêm médicos do estrangeiro”

Sobre o facto de 140 médicos reformados se terem voluntariado para ajudar o SNS, Gentil Martins disse ser “inacreditável” que o Governo não tenha dado qualquer resposta aos ex-profissionais de saúde. Para o cirurgião, é imperativo usar os médicos portugueses em primeira instância. “Aproveita-se os que estão em Portugal”, dando-lhes “condições de trabalho e de saúde”, “em vez de pedir ajuda estrangeira”. “Confesso que não percebo como é que os voluntários não estão a ser aproveitados, mas vêm médicos do estrangeiros”, afirmou.

Sinaliza ainda que Portugal não tem “falta de médicos”. “Temos falta de médicos no serviço nacional de saúde”. Gentil Martins defende que, para responder à pandemia, tem de haver um “sistema nacional de saúde”, que integre hospitais públicos, privados e sociais.

Em entrevista à TVI24, Gentil Martins, de 90 anos, disse que se voluntariou para voltar a trabalhar. Não iria voltar a operar nenhum paciente, mas “estará disponível para ajudar outros cirurgiões” e profissionais que tenham sido alocados para tratar doentes Covid.

O cirurgião revelou ainda que não foi vacinado, mas que já “escreveu para o SNS” para perguntar quando é que tomaria o imunizante. Mas voltou a frisar: antes dele, têm de vir primeiro os profissionais de saúde.