Analistas políticos defendem que a morte, por doença, do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Eugénio Mussa, é “um duro golpe” na estratégia de combate aos grupos armados em Cabo Delgado.

Eugénio Mussa morreu na segunda-feira em Maputo, vítima de doença, anunciou em comunicado o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique.

Morreu o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique

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Muhamad Yassine, especialista em Relações Internacionais e docente na Universidade Joaquim Chissano, afirmou à agência Lusa que a morte de Eugénio Mussa abalou as expetativas do Presidente moçambicano de impor o poderio das FADM na guerra contra os grupos armados, atendendo que o militar comandou o “Teatro Operacional Norte”, que cobre a província de Cabo Delgado, na luta contra os insurgentes na região, antes de passar a Chefe do Estado-Maior General.

O Presidente da República nunca escondeu que tinha na mira o conflito armado em Cabo Delgado, quando nomeou o general Mussa”, enfatizou.

Para o académico, o facto de Eugénio Mussa ter combatido com aparente sucesso em Cabo Delgado antes de ser promovido para a função em que ficou por algumas semanas também gerava confiança no Presidente da República, Filipe Nyusi, e na opinião pública em relação à guerra naquela província.

“O pouco tempo em que ficou na última função que exerceu e o facto de as matérias de cariz militar serem tratadas com rigoroso sigilo em Moçambique tornam uma incógnita a estratégia que Eugénio Mussa iria seguir na guerra em Cabo Delgado, mas todos os sinais indicavam que o chefe de Estado confiava no rumo que o seu general iria dar às ações combativas”, disse Muhamad Yassine.

Juma Aiuba, analista radicado na província de Nampula, norte do país, onde também nasceu Eugénio Mussa, considerou a morte do oficial “uma contrariedade”, uma vez que tinha trazido uma grande esperança na capacidade de derrotar os grupos armados em Cabo Delgado.

Quando assumiu o comando do Teatro Operacional Norte, no final do ano passado, teve uma retórica de muito encorajamento para as suas tropas no terreno e deu a entender que há uma guerra em Cabo Delgado que deve ser assumida pelos militares, porque não é um assunto de polícia”, afirmou Juma Ayuba.

Com Eugénio Mussa no comando do Teatro Operacional Norte e depois na chefia do Estado-Maior General, “os grupos armados que atuam em Cabo Delgado parecem estar recolhidos aos seus redutos e incapazes de protagonizar ataques ousados, numa base diária”.

Pelo menos, não temos tido relatos de ataques diários pelos insurgentes, ainda que a guerra em Cabo Delgado pareça estar longe do fim”, referiu Juma Aiuba.

Aiuba disse ainda que os “elogios sentidos às qualidades de Eugénio Mussa” por parte do chefe de Estado durante as exéquias fúnebres mostram que Nyusi tinha uma confiança pessoal no militar e na sua capacidade de conduzir a guerra em Cabo Delgado.

Moçambique. Presidente da República diz que Eugénio Mussa estava comprometido com erradicação do terrorismo

Ivan Mazanga, especialista em Relações Internacionais, afirmou que as FADM precisam rapidamente de “institucionalizar e socializar-se na estratégia e espírito de combate” que Eugénio Mussa deixava transparecer.

“Seria um erro se a estratégia de guerra em Cabo Delgado estivesse personificada em Eugénio Mussa, porque era o fim dessa estratégia, as FADM precisam de institucionalizar e socializar-se no espírito de combate que ele transparecia, pelo menos no seu discurso”, frisou.

Ivan Mazanga assinalou que a violência armada é sempre uma questão de Estado cuja abordagem deve ultrapassar a esfera da competência de uma pessoa, como o general Eugénio Mussa, apesar da “grande influência que os grandes líderes militares exercem sobre as suas tropas”.

Como os próprios militares dizem, quando o general tomba, pegam na sua arma e continuam o combate, penso que é essa a divisa que devem encarnar”, frisou.

No discurso que proferiu durante a cerimónia oficial das exéquias fúnebres, o Presidente moçambicano descreveu Eugénio Mussa como um militar determinado com a erradicação do terrorismo.

O general Mussa reafirmava publicamente a sua determinação e comprometimento patriótico, manifestava a sua convicção no combate e erradicação do terrorismo em Moçambique, particularmente na província de Cabo Delegado”, enfatizou Nyusi.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba. Algumas das incursões de insurgentes passaram a ser reivindicadas pelo grupo “jihadista” Estado Islâmico desde 2019.