O Benfica assinou um contrato de 1,3 milhões de euros com uma empresa que ainda não existia. A notícia é divulgada esta sexta-feira pelo jornal Expresso, que cita novas revelações feitas por documentação associada ao dossiê Football Leaks.

O contrato assinado com a Hightower Unipessoal — que à data da assinatura ainda não tinha sido criada — foi firmado a 1 de julho de 2016 e tinha duração de 24 meses, cessando a 30 de junho de 2018. O documento tinha as assinaturas de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, de Domingos Soares de Oliveira, presidente executivo da SAD, e de Rui Silva e José Reis, dois administradores da Hightower. Ora, esta mesma Hightower seria formalmente fundada a 30 de agosto, quase dois meses depois da assinatura do contrato, e ficaria com sede na Zona Franca da Madeira. O único sócio, também proveniente da mesma região, era o grupo Nuvi SGPS.

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Segundo os documentos citados pelo Expresso, o contrato indicava que o Benfica queria “promover e aprofundar a sua imagem e os seus interesses comerciais para o mercado angolano e outros territórios africanos” e a Hightower iria então proporcionar uma “colaboração na promoção e intervenção na República Popular de Angola e em outros países africanos, designada, mas não unicamente, de expressão portuguesa”. O acordo referia então que esta empresa iria prestar ao clube encarnado “serviços de consultadoria na área de representação e de promoção dos seus interesses e de relacionamento com entidades relevantes de natureza política, económica e social de Angola e dos demais países referenciados”.

Serviços que implicavam um pagamento de 1,319 milhões de euros, divididos sem seis prestações mensais que seriam liquidadas entre julho de 2016 e dezembro de 2016 — sendo que o contrato só terminava em junho de 2018. A este valor, porém, poderia ser adicionado “o pagamento específico de outras quantias referentes ao exercício das funções previstas na cláusula primeira”, os tais serviços de consultadoria em Angola.

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O jornal Expresso indica ainda que, apesar de a Hightower não existir à data do contrato, o grupo sócio Nuvi SGPS tem experiência no mercado angolano há vários anos. A ligação a esta empresa foi referida pela SAD do Benfica na apresentação interna dos resultados consolidados do primeiro semestre de 2016/17, onde existe uma menção ao “aumento dos vencimentos dos plantéis de futebol profissional e dos trabalhos especializados (relação com a Hightower)”. Ainda assim, no Relatório e Contas desse mesmo primeiro semestre — divulgado publicamente –, a relação explícita com a empresa desaparece. “A rubrica de trabalhos especializados inclui diversos fornecimentos e serviços prestados por terceiros, sendo de destacar os gastos com consultores em diversas áreas e a faturação efetuada entre empresas do Grupo Sport Lisboa e Benfica referente a serviços comuns”, lê-se no relatório semestral apresentado pela SAD encarnada em março de 2017.