Na Alemanha, Jürgen Klopp treinou o Mainz e o Borussia Dortmund. Depois, fez as malas e partiu para Inglaterra, para assumir a liderança do Liverpool. Na Alemanha, Thomas Tuchel treinou o Mainz e o Borussia Dortmund. Depois, fez as malas e partiu para França, para assumir a liderança do PSG. Klopp e Tuchel são ambos alemães, têm percursos profissionais muito parecidos e são normalmente associados como fazendo parte da mesma geração de treinadores provenientes da Alemanha que acabaram por saltar para gigantes europeus que são constantemente candidatos à conquista da Liga dos Campeões. Esta quinta-feira, defrontavam-se pela primeira vez na Premier League.

Na antecâmara da visita do Chelsea a Anfield, o treinador dos blues aceitava as comparações mas garantia que não tinha assim tanto em comum com Klopp. “É bom ser comparado com ele porque é um dos melhores treinadores da Europa. Por um lado, é bom porque significa que cheguei a um certo nível; por outro lado, não é bom porque não corresponde à verdade. Gosto muito dele, tenho muito respeito por ele e damo-nos bem sempre que nos encontramos, não há dúvidas, mas não somos tão próximos como toda a gente pensa. Nunca aprendi com ele, com os métodos dele, porque nunca estive num clube quando ele também estava lá”, explicou Tuchel, garantindo que nunca sentiu que sempre esteve na sombra do treinador do Liverpool.

“Não foi como se eu tivesse começado a treinar na formação do Mainz e o Jürgen estivesse lá como treinador. Isso nunca aconteceu. O que aconteceu foi que eu substituí e as pessoas começaram a comparar-nos porque ele tinha estado lá muitos anos, tinha deixado lá a pegada dele, e eu fui sortudo o suficiente para estar lá durante cinco anos. Essa comparação acabou por dar a impressão a toda a gente de que nós crescemos da mesma maneira. E depois, claro, substituí-lo em Dortmund só fez com que essa impressão fosse ainda maior”, completou o técnico do Chelsea.

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Chelsea que chegava ao Clássico desta quinta-feira a viver um período francamente positivo. A última derrota dos londrinos tinha sido a 19 de janeiro, contra o Leicester e ainda com Frank Lampard, e as quatro vitórias nas últimas seis jornadas da Premier League colocaram a equipa novamente na zona de apuramento para as competições europeias e com todas as possibilidades de garantir a qualificação para a Liga dos Campeões. Do outro lado, o panorama era diferente: o Liverpool recebia o Chelsea com apenas uma vitória nas últimas cinco jornadas, com inúmeros titulares lesionados e já no sétimo lugar. Ainda assim, os três pontos desta quinta-feira podiam catapultar os reds para a frente do Chelsea e do West Ham, relançando a corrida pela zona Champions.

“Começámos bem a época, estivemos bem durante muito tempo, sempre lá em cima na tabela, a marcar golos. Mas os problemas surgidos tiveram influência e a maioria deles relacionaram-se com lesões. Em 20 anos como treinador, nunca tive de mudar a defesa a cada semana. A defesa é muito importante para a estabilidade da equipa. Podem dizer que é uma desculpa, mas não interessa. Não usamos isso como desculpa, mas se me perguntarem, este é o motivo pelo qual as coisas mudaram”, disse Klopp na antevisão da partida. Na escolha do onze inicial, o alemão tinha Alisson de regresso, depois de o guarda-redes ter estado ausente devido à morte repentina do pai, e também Fabinho, que voltava a ser adaptado a central e fazia dupla com Kabak. Thiago, Wijnaldum e Curtis Jones eram os donos do meio-campo. Diogo Jota, ausente desde dezembro, regressava à convocatória e estava no banco de suplentes. Do outro lado, Tuchel lançava Ziyech, Mount e Werner no ataque, com Havertz, Giroud e Pulisic a começarem enquanto suplentes.

O Chelsea dominou praticamente toda a primeira parte, beneficiando da passividade e da falta de organização da defesa do Liverpool — a equipa de Klopp não conseguia progredir nos escassos momentos em que tinha a bola e a de Tuchel pressionava muito alto, recuperando a posse logo depois de a perder. Timo Werner marcou, na sequência de um passe longo de Jorginho e depois de uma saída em falso de Alisson, mas o lance foi anulado por fora de jogo do alemão (24′): um fora de jogo ínfimo, diga-se. O anunciado golo do Chelsea acabou por chegar à beira do intervalo, por intermédio de Mason Mount, que confirmou o ascendente dos blues com um ótimo remate cruzado, na passada, depois de realizar uma movimentação da esquerda para dentro (43′). Os blues iam para o balneário a ganhar e a ganhar bem; os reds desciam aos balneários à beira da quinta derrota consecutiva em Anfield, algo que nunca tinha acontecido na história do clube.

O Liverpool voltou ligeiramente melhor para a segunda parte mas o Chelsea permanecia totalmente organizado e não permitia qualquer oportunidade aos reds. Klopp esperou cerca de um quarto de hora e mexeu pela primeira vez à passagem da hora de jogo, ao trocar Salah e Jones por Diogo Jota e Oxlade-Chamberlain — o avançado português regressava à competição depois de quase três meses de ausência, o que não deixa de ser uma boa notícia para o Liverpool e para a Seleção Nacional. Tuchel respondeu ao trocar Ziyech por Pulisic, o Chelsea abdicou ligeiramente de atacar até ao final e o Liverpool prolongava um autêntico deserto de ideias e criatividade.

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Diogo Jota entrou na segunda parte e voltou à competição depois de estar ausente desde dezembro por lesão

O Chelsea venceu em Anfield pela margem mínima e regressou ao top four da Premier League, a zona de apuramento para a Liga dos Campeões. Já o Liverpool, cada vez mais longe da liga milionária da próxima temporada, bateu num fundo de onde será difícil sair: pela primeira vez desde a fundação do clube, em 1892, perdeu cinco vezes consecutivas em casa. Se comparar Klopp e Tuchel nunca fez sentido, na opinião do treinador dos blues, agora faz ainda menos. Um vive o pior momento desde que chegou a Inglaterra; o outro mostra que pode levar até outros palcos uma equipa que parecia estagnada com Frank Lampard.