794kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Iraque. A história da igreja que o Estado Islâmico usou como enfermaria — e que o Papa Francisco foi visitar

Este artigo tem mais de 3 anos

Em 2014, o Estado Islâmico tomou controlo de grande parte do Iraque e usou uma igreja como enfermaria. Agora, o Papa visitou-a para comemorar a reconstrução — dos edifícios e da fé cristã.

Em 2018, a igreja ainda estava destruída pelo fogo ateado pelo Estado Islâmico. Este domingo, o Papa Francisco visitou-a
i

Em 2018, a igreja ainda estava destruída pelo fogo ateado pelo Estado Islâmico. Este domingo, o Papa Francisco visitou-a

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR + AFP via Getty Images

Em 2018, a igreja ainda estava destruída pelo fogo ateado pelo Estado Islâmico. Este domingo, o Papa Francisco visitou-a

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR + AFP via Getty Images

Nos últimos dias de fevereiro, havia agitação no interior da igreja da Imaculada Conceição, na cidade iraquiana de Qaraqosh. Armados com baldes, mangueiras e vassoura, vários fiéis católicos limpavam o templo, deixando o piso a brilhar. A ocasião não era para menos: dentro de alguns dias, estaria ali o Papa Francisco.

Contudo, esta enorme igreja no centro de Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, nem sempre esteve assim. Entre 2014 e 2017, durante o período da ocupação de grande parte do norte do país pelo Estado Islâmico, o templo cristão foi dessacralizado e usado pelos jihadistas como armazém de medicamentos e hospital de campanha para os seus militantes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando, em 2017, a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos derrotou o Estado Islâmico e libertou grande parte da planície de Nínive, os jihadistas não fugiram sem incendiar e destruir grande parte do que restava das cidades e aldeias que haviam ocupado. Foi o que fizeram com a igreja da Imaculada Conceição, incendiada na quase totalidade.

IRAQ-VATICAN-POPE-VISIT

A igreja da Imaculada Conceição em 2018 e este domingo

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O templo estava ainda parcialmente destruído quando o Observador visitou a região, no verão de 2018, para um conjunto de reportagens destinadas a traçar o perfil da minoritária comunidade cristã iraquiana no pós-ocupação.

É preciso recuar até 2011, ano da Primavera Árabe e do início da guerra civil na Síria, para perceber o início do drama no Iraque. Naquela altura, o Estado Islâmico, que era ainda um grupo militante e radical afiliado à Al-Qaeda, aproveitou o tumulto social na região para estabelecer o seu próprio reinado de terror. A partir de Raqqa, na Síria, o Estado Islâmico começou em janeiro de 2014 uma longa e violenta campanha de expansão territorial na clandestinidade.

Ser cristão nas terras bíblicas do Iraque tomadas pelo Daesh. “Aqui não basta praticar, é preciso ter fé”

Em poucos meses, o grupo terrorista já tinha alargado o seu território de modo considerável e chegado à fronteira com o Iraque. No verão de 2014, o Estado Islâmico tomou o controlo da cidade de Mossul, a histórica cidade bíblica que hoje é a capital da província de Ninawa, na planície de Nínive. Foi na grande mesquita de Mossul que, em 4 de julho de 2014, a primeira sexta-feira do Ramadão daquele ano, que o jihadista Abu Bakr al-Baghdadi anunciou ao mundo a oficialização do Estado Islâmico.

Num célebre discurso proferido no púlpito da mesquita, al-Baghdadi autoproclamou-se califa e exigiu a obediência de todo o mundo muçulmano.

A partir de Mossul, o Estado Islâmico impôs-se pelo terror em toda a planície, onde habita a maioria dos cristãos iraquianos e uma parte significativa dos (ainda mais minoritários) yazidis. Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, a poucos quilómetros de Mossul, foi uma das primeiras a ser tomadas. Estima-se qu cerca de 150 mil cristãos tenham sido obrigados a fugir para o norte do país, nomeadamente para Erbil, a capital do Curdistão iraquiano. Muitos foram mortos, torturados ou escravizados pelos extremistas.

Qaraqosh é uma exceção no Iraque: ali, há muito mais igrejas do que mesquitas. A igreja da Imaculada Conceição, construída na década de 1930 e inaugurada em 1944, é uma das mais importantes. Todavia, não escapou à ocupação dos jihadistas. “Durante a ocupação, usaram-na como enfermaria para os soldados deles e como armazém de medicamentos“, contava em 2018 o padre Georges Jahola, pároco local.

As imagens do património cristão que o Estado Islâmico destruiu no Iraque

Durante uma visita à igreja destruída, foi possível ver ainda o símbolo do Estado Islâmico pintado com tinta preta. “Não há deus além de Alá e Muhammad é o seu profeta”, lia-se na mensagem. No chão, em frente ao altar, ainda era visível a marca da grande fogueira ateada pelos terroristas antes de fugirem da cidade.

A igreja da Imaculada Conceição, em Qaraqosh, estava assim em 2018, depois de ter sido destruída pelo Estado Islâmico

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Entre 2017 e 2018, depois da libertação da cidade, a Igreja Católica, através de campanhas internacionais e do trabalho árduo dos iraquianos, começou a reconstruir casas, escolas e igrejas naquela região. Qaraqosh foi uma das cidades mais afetadas: não restou um único edifício intacto.

Também no processo de regresso a casa dos cristãos, a igreja da Imaculada Conceição teve um papel especial. “Após a libertação, as pessoas pediram ao bispo para limpar a igreja. Ainda sem casa, queriam que houvesse missa aqui”, lembrou em 2018 o padre Jahola. “Uma das primeiras coisas que me pediram, ainda antes de pensarmos na reconstrução das casas, foi que celebrasse uma missa na igreja.”

Assim foi. Ainda com a igreja enegrecida do fumo, com as mensagens de terror nas paredes e com a estrutura parcialmente destruída, o sacerdote improvisou um altar, colocou algumas cadeiras de plástico no interior do templo e celebrou a missa. Em 2018, o padre confidenciou estar a equacionar deixar na igreja algumas das marcas da destruição causada pelo Estado Islâmico, como memória do que ali sucedeu.

IRAQ-VATICAN-POPE-VISIT IRAQ-VATICAN-POPE-VISIT TOPSHOT-IRAQ-VATICAN-POPE-VISIT IRAQ-VATICAN-POPE-VISIT

O Papa Francisco durante uma celebração esta manhã na renovada igreja da Imaculada Conceição, em Qaraqosh

AFP via Getty Images

Mais de quatro anos depois, o Papa Francisco foi à igreja da Imaculada Conceição para um encontro breve com a comunidade cristã de Qaraqosh, durante a sua viagem inédita ao Iraque. Depois de uma celebração em Mossul, o líder católico dirigiu-se à cidade de Qaraqosh para comemorar a reconstrução dos templos — e da fé.

Olhamos à nossa volta e vemos os sinais do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra. Quantas coisas foram destruídas! E quanto tem de ser reconstruído! Este nosso encontro demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra”, disse Francisco aos fiéis, reunidos em grande número na igreja, já reconstruída.

“Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”, acrescentou. “Queridos amigos, este é o momento de restaurar não só os edifícios, mas também e em primeiro lugar os laços que unem comunidades e famílias, jovens e idosos.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos